Quando se fala de nomadismo, imediatamente vem à mente o “estilo de vida” dos primeiros seres humanos da Terra, povos sem habitação fixa, que eram caçadores-coletores e mudavam de lugar para buscar melhores condições de vida quando havia necessidade de mais alimento ou proteção.
Mais de 12 mil anos depois, o nomadismo de hoje tem tudo a ver com a busca de experiências e um lifestyle que só pode existir se houver internet. Quando a web conectou qualquer parte do mundo e as interfaces se desenvolveram (aplicativos, gadgets, computadores móveis, smartphones), o trabalho que depende dela fez surgir o chamado nômade digital. Dados de 2018 do instituto norte-americano de pesquisa MBO Partners (que mapeia os chamados “trabalhadores independentes”), mostraram que 4,8 milhões de americanos se descreviam como nômades digitais, enquanto outros 17 milhões esperavam um dia poder “chegar lá”.
Com o surgimento do novo coronavírus, no entanto, há um paradoxo profissional acontecendo e ele impacta diretamente a vida de nômade digital. Se, por um lado, houve o crescimento abismal do home office devido à pandemia (mostrando que não é mesmo necessário ir ao escritório todos os dias a fim de realizar as tarefas); por outro, as fronteiras mundo afora seguem praticamente fechadas. E o risco de contaminação continua alto em muitos países, inclusive no Brasil.
O desejo por viver como um nômade digital vem sendo mapeado desde o fim dos anos 2000, com a popularização dos smartphones. Esse nomadismo passou a ser celebrado e perseguido, principalmente pela geração millennial. Mas com o impacto da pandemia de Covid-19 em todas as configurações de mundo como a conhecemos, a pergunta que fica é: que futuro terão os nômades digitais nessa condição? Será possível continuar? Abaixo, uma lista dos desafios a serem enfrentados para realizar esse “sonho de consumo” no quesito vida.
Voar ficou mais caro
Parte da escolha em ser nômade digital é economizar dinheiro. Nos EUA, por exemplo, se você estiver fora do país 330 de 365 dias está qualificado para o imposto de “exclusão de renda estrangeira”. Resumidamente, não se pagam os impostos sobre os primeiros US$100 mil de renda, pois, pela lógica, a pessoa não recebeu nenhum benefício do governo americano por não ter se estado lá.
Outra questão é o custo de vida. Para quem ganha em dólar, euro ou libra é muito mais barato alugar um apartamento em Lima, no Peru, por exemplo, do que em Nova York. Já quando o assunto é passagem aérea, elas simplesmente ficaram mais caras porque há menos voos durante épocas pandêmicas. Até porque, o trânsito entre um país e outro pode ser cancelado a qualquer momento e até as chamadas companhias “low coast” precisaram flexibilizar as condições de cancelamento.
As viagens serão mais lentas
Nômades digitais podem conhecer muitos países em uma viagem de 15 meses, dezenas de voos e, fácil, mais de 100 camas diferentes para dormir. Consideram casa o local que estão no momento. Esse estilo de vida continua intrínseco, mas vai precisar ser mais slow, ou seja, mais lento. Isso porque se mover casualmente, sem maiores planejamentos, no momento atual, tornou-se mais perigoso. Ao invés das viagens rápidas, a tendência é ficar parado bem mais tempo, até que haja segurança – algo que ainda é imprevisível.
Poucas regiões “seguras”
Os países têm tomado medidas sérias para que as viagens sejam mais seguras. Desde a logística de espera das bagagens ou ônibus com apenas metade de sua lotação. Mas isso não vale para todos os lugares. A pandemia deixou claro a necessidade de uma base fixa como moradia para poder voltar. É preciso também investigar melhor as regras sanitárias do país onde se quer entrar – se é que se pode entrar – e isso deve se tornar um hábito.
Saúde virou prioridade
Embora antes de qualquer viagem, um dos itens obrigatórios era a compra antecipada do seguro viagem ou de cobertura internacional, o cenário era bem diferente, já que não havia uma ameaça global em forma de vírus. Prevendo que saúde e segurança serão imprescindíveis, ao se deslocar de um local para outro será preciso pesquisar número de casos confirmados e recuperados, quantidade de leitos disponíveis, hospitais mais próximos, o que está coberto em seus planos e as normas locais. Essas informações serão mais importantes do que o bairro descolado onde a pessoa quer se hospedar por um tempo.
Trabalho remoto para empregados e empregadores
Mas nem tudo é notícia difícil para o aspirante a nômade digital. Sahin Boydas, fundador e CEO da RemoteTeam.com, acredita que, a longo prazo, esse estilo de vida será mais popular do que nunca. A pandemia demonstrou para as empresas a eficácia e a produtividade dos funcionários quando não estão presos a uma mesa. Muitas delas não voltaram ainda para o escritório ou até dispensaram a sede própria. Antes, era mais difícil para as pessoas entenderem o conceito de gerar renda ou construir carreira de uma forma não tradicional, em um horário não comercial. A bola está com as empresas de tecnologia, que precisam avançar na conectividade e na velocidade da internet, além de aprimorarem ainda mais a segurança digital para o trabalho remoto (e nômade) se manter.
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