Falar de inovação no Brasil, por vezes, parece um mito. Verdade seja dita, não é exatamente fácil derrubar barreiras em um país com tanta burocracia e uma cultura que trata o novo com dificuldade. Uma das grandes intenções do Whow! Festival de Inovação é encontrar – e entender – aqueles atores realmente inovadores do nosso país.
Fernando Saddi, CEO da Easy Carros, foi o mediador do painel “Inovação no Brasil – quem faz, como faz e para quem faz”. Para começar, ele puxou uma polêmica: “Todo mundo diz que é inovador, que faz algo diferente, disruptivo. Mas nada disso importa se não for real. Como mostrar que realmente é efetivo e não só no papel?”.
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Gabriel Coelho, CEO & Founder da Empodere-se, aponta que é preciso saber que inovação tem tudo a ver com resultado. Repetir fórmulas do passado não vai garantir o sucesso do futuro. “Precisamos tirar fotos do KPI para entender sua situação atual e fotos durante o processo de mudança para entender o resultado”, aponta. Como um consultor que procura estimular a inovação nas empresas, ele busca aproximar seus clientes disso, senão o que acontece é aquela organização ter muita experiência teórica, porém, um déficit para levar nada essas ideias para o dia a dia da corporação.
Nas grandes corporações, é importante envolver áreas que não necessariamente costumam ser ligadas a inovação na visão “tradicional”. O processo de envolvimento faz as equipes trabalharem juntas – e assim testam, validam, corrigem se necessário, tudo de uma forma mais natural. “Isso faz as empresas criarem um KPI de inovação”, argumenta.
Nesse sentido, a investigação apreciativa é uma das grandes apostas Co-Viva, conforme aponta Clara Bianchini, Engenheira da Imaginação da consultoria. “Se eu tenho uma hora para resolver um problema, vou gastar 55 minutos para fazer a pergunta certa e nos últimos 5 minutos eu vou encontrar a resposta. É importante fazer a pergunta certa. Na Alemanha existem cargos de pessoas que apenas fazem perguntas”, destaca. É com as perguntas que a equipe vai pensar de uma forma diferente. “E é importante sempre fazer uma pergunta nova”.
A Co-Viva faz laboratórios de inovação colaborativa entre as empresas e cada um deles tem um objetivo específico de acordo com a necessidade do cliente. Por exemplo, se quiser ganhar mais dinheiro: durante 15 horas o laboratório vai buscar criar um novo modelo de negócio. É dai que vem o resultado. Isso ajuda a criar uma nova cultura, criar novos processos de venda.
Preto no branco
Para Fernando Stefano, Sócio e Diretor-executivo da Alopra Estúdio, o briefing tem muita importância para alcançar resultados. E também o que ele chama de contra briefing. Uma análise que veja processos de forma diferente. “Precisamos cada vez mais problematizar, trazer uma quantidade maior de informações sobre o que a gente precisa que é o que vai dar insumos para novos projetos”, garante. “É preciso ter problematização dentro das empresas, colocar o dedo na ferida. Isso vai trazer entrega, vai dar resultado”.
A questão de encarar o problema – e compartilhar, colocar o dedo na ferida, é um pouco mais profunda. Reinaldo Campos, Gerente de educação da ECHOS Laboratório de Inovação, lembra que nossa cultura não é a favor do problema. “Precisamos esquecer isso de se desapegar do problema e chegar a repostas rápidas. Precisamos ficar um tempo no problema, o melhor entendimento do problema faz com que a gente fique “grávido” da solução”, diz. Em sua visão, são dois momentos, o apego ao problema – encontrar o que está acontecendo, se aprofundar, trazer números. Depois, fazer perguntas para partir para a solução. O mesmo tempo pensado sobre qual o problema é gasto para encontrar a solução.
“Existem determinadas coisas na inovação que a gente ainda não sabe medir. Ninguém pode se dizer inovador. A inovação precisa ser reconhecida pelo outro. É assim que a gente determina inovação quando ela tem impacto no outro e é percebida por ele”, destaca.
Ideia e prática
“Às vezes o departamento de marketing, inovação, fica numa situação muita parecida com a política brasileira – vou fazer algo a curto prazo para resolver ali nos próximos meses ou fazer uma grande inovação para trazer resultado nos próximos quatro anos?”, aponta Saddi. “Geralmente o diretor quer algo mais rápido, como alinhar isso tudo?”.
Coelho explica que é sempre necessário entender qual o KPI mais importante. “Na Empodere-se, tentamos puxar por engajamento, criar um circulo virtuoso nas empresas a partir de um bom resultado de uma equipe que vai incentivando as outras. A partir disso tem uma seleção natural, ficam os profissionais mais engajados com a causa da empresa”, conta.
O executivo da Alopra Estúdio aponta que a inovação é uma cultura. E a cultura não é algo que muda do dia para a noite. “Existem gatilhos que fazem parte da criatividade, mas ninguém acorda e diz ‘hoje vou ser criativo’. No dia a dia da empresa, precisam existir elementos que impulsionem suas equipes”, garante. “Mas é preciso entender que existem empresas que não têm perfil voltado a inovação. Pode ser voltado a produto, voltado a pessoas, não tem nada criativo, que sai do zero’’, diz.
Em contrapartida, Clara aponta que, nos laboratórios da Co-Viva, mesmo as pessoas que acreditavam não serem inovadoras descobrem que são. Essas experiências funcionam como sementes na vida das profissionais. “Isso pode ajudar a criar programas a longo prazo dentro das empresas. Assim, as pessoas percebem que existe um potencial ali, vislumbram que podem fazer algo juntas e isso faz com que o curto prazo leve uma nova cultura ao longo prazo”, exemplifica.
Sem medo
O CEO do Easy Carros recorda sua experiência internacional aprendendo uma cultura inovadora. Quando chegou ao Brasil, ele percebeu que existe uma dificuldade para as empresas falarem de seus problemas. “As empresas escondem seus problemas, têm medo de escancarar o problema. Como mudar isso?”, questiona.
Nesse sentido, Stefano aponta que o primeiro ponto é saber que nada se constrói sozinho. Quem não compartilha não multiplica. “Existe uma cultura do medo de compartilhar”, diz.
Além disso, o especialista da ECHOS aponta o costume dos brasileiros de sempre apontar o erro como uma culpa do outro, nunca de si próprio. “Se o erro é fechado a 7 chaves porque não pode aparecer, é feio. É uma cultura de vergonha do erro. E ele precisa ser escancarado, precisamos criar uma cultura em que o erro seja compartilhado para crescer”, acredita.
Fora isso, é preciso desconstruir o erro. “Isso tem que começar pela liderança. Se a liderança não estiver aberta a desconstruir os erros, fica muito difícil”, destaca Coelho. Ele conta que passou por uma experiência em que deu a ideia para o seu cliente chamar o cliente dele para falar do problema. Aquilo assustou a equipe – como assim chamar o cliente para falar do problema?
Com o susto, a reunião entrou em uma condução interessante. Foram chamados diversos executivos da empresa e do cliente da empresa e, no fim, foi uma grande discussão sobre soluções conjuntas. “É assim que a coisa começa a caminhar”, resume. “Isso passa por uma mudança de mindset para que a coisa possa caminhar”, complementa Saddi. A inovação demanda mudanças – de visão, de postura, de compreensão.
A primeira edição do evento, organizado pelo Grupo Padrão, acontece em mais de 70 lugares de São Paulo. Acompanhe a cobertura aqui e nas redes sociais com a #WhowFestival!