Quando falamos em “gerações”, é comum que surjam algumas confusões a respeito. Por “geração”, entende-se um grupo de indivíduos que compartilha do mesmo tempo biográfico e histórico. Como consequência, é natural que essas pessoas tenham em comum, também, alguns comportamentos. Hoje, temos os chamados Baby Boomers (nascidos entre 1940 e 1960), a geração X (nascidos entre 1960 e 1980), a geração Y (millennials, nascidos entre 1980 e 1995) e a geração Z (os nativos digitais, nascidos entre 1995 e 2010).
Mas como o fato de pertencer a uma determinada geração influencia nossos hábitos de consumo? E o que as empresas podem fazer para ampliar seu mercado consumidor e atingir públicos de diferentes faixas etárias? Essas foram algumas das questões debatidas no painel do CONAREC 2020 “O ABC do XYZ: diferenças de comportamento das gerações na nova realidade”.
Novos públicos e novas formas de consumir
Para os varejistas, a pandemia trouxe aprendizados e insights importantes sobre as diferentes gerações. Ari Gorenstein, co-fundador e co-CEO da Evino, diz que, com o isolamento social, seu negócio ganhou um novo público: as gerações Y e Z. “São gerações que tinham o hábito de socialização, de beber fora de casa, e muitas vezes o vinho não era a bebida mais presente. Dentro de casa, muitos deles descobriram o vinho, porque estavam em família, sozinhos ou em casal”, diz.
Segundo ele, os baby boomers e a geração X, que sempre foram o core do negócio da Evino, aumentaram a frequência de compra de vinho online durante a pandemia, assim como o tíquete médio de compra, já que houve uma transferência da condição de consumo. “O sujeito que já estava habituado a pagar mais por uma garrafa de vinho em um restaurante, ficou disposto a comprar um vinho mais caro para uma ocasião especial em casa.”
Diego Martinez, head de operações da Riot Games no Brasil, diz que a empresa também viu a demanda crescer na pandemia: o número de horas jogadas cresceu 40%, na comparação com o primeiro trimestre do ano. “Em algumas pesquisas, observamos que, com o isolamento social, nossos jogadores sentiram falta do contato físico, mas diferente dos Baby Boomers e da Geração X, os mais novos rapidamente compensam essa falta pelas plataformas de jogos, que oferecem funcionalidades de chat, voz, e acabam sendo, além de uma maneira de se divertir, também uma forma de se conectar com outras pessoas”, diz.
Com o aumento no número de horas jogadas, cresceu também o interesse das marcas em se associar à indústria de games, que passou a ser vista como uma grande porta de entrada para conversar com esses públicos, principalmente os mais jovens, gerando novas possibilidade de negócios que, até então, não eram pensados.
Trocas favorecidas
A convivência mais intensa entre gerações causada pelo isolamento social também possibilitou um maior intercâmbio de conhecimentos entre pessoas de diferentes faixas etárias: tendências que tocavam gerações mais novas contaminaram gerações anteriores, e vice-versa. “Atualmente, tem muito mais gente preocupada com o que come e como come. Convido você a pegar um biscoito de água e sal e ler a lista de ingredientes. As pessoas têm dificuldade de entender, demanda muito esforço para saber o que se está comendo ou bebendo. A confluência dessas coisas faz com que exista mais essa tendência por algo que eu consiga entender o que é e de onde veio, minimamente, e esse despertar vem dos mais jovens para os mais velhos”, explica o presidente da Notco Brasil, Luiz Augusto Silva.
Gorenstein diz que o mesmo ocorreu em relação aos vinhos: se, por um lado, os mais jovens incorporaram o hábito de consumir a bebida mais frequentemente, por outro, os mais velhos passaram a se preocupar mais com a origem dos vinhos que consomem. “A gente vê os Baby Boomers e a geração X mais preocupados com a cadeia produtiva, com a rastreabilidade do produto. Esse engajamento, que sempre foi marca das gerações mais jovens, passou a se transpor para outras gerações, que começa a se guiar por conceitos que não necessariamente eram seus drivers de compra até então.”
Os jovens das gerações Y e Z, por sua vez, estão aprendendo a consumir mídias que, até então, predominavam apenas entre os mais velhos, como televisão e rádio. “A geração Z está querendo aprender a consumir mídias a que não estava habituada, porque vê nelas algum tipo de credibilidade, talvez mais do que as fontes a que já recorriam naturalmente”, diz Martinez.
Independentemente da maneira como afeta cada geração, uma coisa é certa: a pandemia está impactando todas elas. “Não acho que seja um tema geracional, mas acredito que está havendo, sim uma aceleração na adoção e no alinhamento de movimentos cross geracionais. Para mim, tudo isso é sobre como estamos usando as tecnologias disponíveis para responder ao que estamos vivendo. Acho que a pandemia tem que servir para uma reflexão do que nós brasileiros queremos enquanto sociedade, para que as novas gerações possam desenvolver o empreendedorismo no país, distribuir renda, colocar o país nos eixos. Os jovens têm o papel importantíssimo de capitanear essas discussões”, conclui Silva.
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