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CM Saúde: “sustentabilidade do setor está sujeita à gestão da saúde dos beneficiários”

CM Saúde: “sustentabilidade do setor está sujeita à gestão da saúde dos beneficiários”

Segundo diretor da ANS, a sustentabilidade do setor de saúde não é apenas uma meta; mas sim uma condição necessária para os beneficiários, principalmente.

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) divulgou os dados de beneficiários de planos de saúde referentes a agosto de 2024. Nesse período, o setor contabilizou 51.407.752 usuários em assistência médica e 33.776.415 em planos exclusivamente odontológicos. Essas informações estão disponíveis na Sala de Situação.

Nos planos médico-hospitalares, houve um aumento de 996.550 beneficiários em relação a agosto de 2023. Comparando agosto deste ano com julho de 2024, o crescimento foi de 174.508 usuários. Para os planos exclusivamente odontológicos, foram adicionados 2.384.927 beneficiários em um ano, com um crescimento de 180.473 usuários na comparação entre agosto deste ano e o mês anterior.

Em termos de estados, no comparativo com agosto de 2023, o setor apresentou aumento de beneficiários em planos de assistência médica em 25 unidades federativas, com São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro se destacando em números absolutos. Entre os planos odontológicos, 24 unidades federativas mostraram crescimento no comparativo anual, sendo São Paulo, Minas Gerais e Paraná os estados com maior aumento em números absolutos.

Serviços de saúde no Brasil

Maurício Nunes, diretor de Desenvolvimento Setorial da Agência Nacional de Saúde Suplementar.

Em entrevista à Consumidor Moderno, o diretor de Desenvolvimento Setorial da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Maurício Nunes, afirma que a distribuição dos beneficiários de planos de saúde continua a ser uma questão de relevância para o setor, uma vez que revela tendências importantes no acesso e na utilização de serviços de saúde no Brasil. O aumento no número de beneficiários pode ser atribuído a diversos fatores, incluindo a crescente preocupação da população com a saúde e o bem-estar, bem como a ampliação da oferta de serviços de saúde suplementar.

Observa-se também que o crescimento dos planos exclusivamente odontológicos é um indicativo de que a saúde bucal está sendo cada vez mais valorizada pelos cidadãos. Essa conscientização sobre a importância da saúde bucal, associada a iniciativas de prevenção e educação, tem levado muitos brasileiros a optarem por planos que cobrem serviços odontológicos.

É importante ressaltar que a análise dos dados de beneficiários fornece não apenas uma visão do crescimento do setor, mas também permite identificar áreas que ainda demandam melhorias, como a promoção de uma cobertura mais equitativa em regiões menos favorecidas. A sustentabilidade do setor de saúde suplementar está diretamente ligada à capacidade das operadoras de se adaptarem às necessidades da população, garantindo acesso à saúde com qualidade e eficiência para todos os cidadãos.  

Crescimento de beneficiários

Consumidor Moderno: Qual é o dado do último Boletim que lhe chama mais atenção? 

Maurício Nunes: É importante contextualizar que o setor vem apresentando crescimento contínuo de beneficiários, explicado, em parte, pelo desempenho dos planos coletivos empresariais. Especificamente sobre os dados referentes a agosto de 2024, um dos principais destaques foi o ingresso de quase 355 mil novos beneficiários de planos de saúde de entre julho e agosto de 2024. Sendo, 174.508 novos beneficiários em planos médico-hospitalares e 180.473 em planos exclusivamente odontológicos.   

CM: No último boletim, o setor de saúde contabilizou 51.030.366 usuários em planos de saúde de assistência médica. Agora, são 51.407.752 consumidores. A que se deve esse aumento? Podemos considerar a mesma motivação para os planos odontológicos? 

Este aumento é contínuo e tem sido constatado mês a mês. Dados da última edição do Boletim Panorama – Saúde Suplementar, que mostram um período de análise maior, mostram que no último ano (entre junho de 2023 e junho de 2024), o crescimento nos planos de assistência médica foi de 1,5%. Mais uma vez, os planos coletivos empresariais são os principais motivadores deste aumento, já que cresceram 2,8% no período analisado, enquanto os planos individuais e os coletivos por adesão tiveram redução de 0,7% e 3,4%, respectivamente. O crescimento dos planos coletivos é uma tendência que se iniciou em 2017 e se acentuou em 2020, o ano da pandemia de Covid-19

Economia e saúde


CM: O crescimento dos planos coletivos empresariais é suscetível ao comportamento da economia?

Totalmente. Se há geração de empregos, por exemplo, é comum termos esse aumento, considerando que planos de saúde estão entre os principais benefícios trabalhistas. Outro fator muito importante que se observa é que esse aumento de procura por planos de saúde, tanto assistência médica quanto odontológicos, se acentuou a partir da pandemia, indicando que as pessoas ficaram mais preocupadas em garantir o acesso ao sistema de saúde em um momento de grande necessidade.   

Estados com mais beneficiários

CM: Os estados do Sudeste foram os que apresentaram maior número de beneficiários de planos de saúde. O senhor acredita que pode haver um ou mais motivos específicos para este fato? 

Sim, os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro têm registrado o maior crescimento de beneficiários em planos de assistência médica. Quando olhamos para os exclusivamente odontológicos, São Paulo, Minas Gerais e Paraná são os que apresentam o maior aumento de beneficiários. Sobre os motivos deste crescimento, sem dúvida, está o tamanho da população dessas regiões. Só o estado de São Paulo, por exemplo, concentra 46 milhões de habitantes. Minas Gerais e Rio de Janeiro concentram mais de 20 milhões e 16 milhões, respectivamente. Logo, são regiões expressivamente populosas. Além disso, há uma forte concentração de empresas, como os grandes polos industriais com planos de saúde entre os principais benefícios trabalhistas. 

Quando olhamos para o Produto Interno Bruto do Brasil, em 2023 fechamos o ano com R$10,9 trilhões, segundo dados do IBGE. Observando o comportamento do PIB por região do país, a região Sudeste foi responsável por mais de 40% desse total. São Paulo, por exemplo, teve um PIB de R$ 2,7 trilhões, o Rio de Janeiro com R$ 950 bilhões e Minas Gerais com R$ 850 bilhões. Ou seja, além de ser a região mais populosa, é aquela com maior relevância do ponto de vista econômico do país.   

O setor de saúde está preparado?

CM: Entre 2019 e 2023, o número de beneficiários de planos médico-hospitalares aumentou 7,4%, passando de 47,0 milhões para 50,5 milhões. O setor está preparado? Quanto mais beneficiário, maior demanda por serviços de saúde complexos e custosos, certo? Como sanar esse desafio? 

De fato, a saúde suplementar é um setor robusto e, assim como todos os sistemas de saúde do mundo, vinculado à situação econômica do país. Temos desafios estruturais significativos, que já estamos enfrentando e que já vislumbramos pela frente, e a Agência tem sido, como deve ser, protagonista na busca políticas, de planejamento, de aperfeiçoamentos e na manutenção dos direitos dos consumidores. Os custos em saúde são altos – no Brasil e no mundo todo – e a conta não é baixa. Nem para as empresas que contratam esse benefício para seus funcionários, nem para os indivíduos que buscam os planos individuais ou coletivos por adesão. Acreditamos que o caminho passa pela adoção de um conjunto de medidas. 
  
Em se tratando de saúde, especialmente, a sustentabilidade do setor está bastante vinculada à gestão da saúde dos beneficiários, então é fundamental que as operadoras coloquem o paciente no centro das suas atenções e que façam programas de promoção da saúde e de prevenção de riscos e doenças. Elas precisam implementar a atenção primária, orientando o paciente a se movimentar no setor, e cuidar da qualidade da prestação de serviços, estabelecendo indicadores e monitorando resultados. Cuidar da saúde dos beneficiários evita o surgimento ou agravamento de doenças, reduz custos e colabora para a viabilidade do setor.

Desafios  

CM: Outros desafios do setor são as mudanças demográficas causadas pelo aumento da longevidade da população, correto? Há alguma proposta da ANS para lidar com essa questão? 

Temos observado o crescimento dessa parcela da população, com 60 anos ou mais, nos planos de saúde. Nos últimos cinco anos, por exemplo, houve aumento de 1 milhão de beneficiários desse grupo nos planos de saúde. Não existe solução fácil. A regulação tem avançado no sentido de promover concorrência, ampliar facilidade de acesso, equilibrar as relações no setor. Recentemente, a ANS participou de um evento sobre Longevidade, que já está em sua sexta edição, em São Paulo. Durante o encontro, realizamos a Conferência ANS, que promoveu debates sobre temas como prevenção de riscos e doenças e promoção do cuidado na saúde suplementar. O evento mostrou, em suma, a importância do papel da Agência no desenvolvimento de políticas voltadas à população idosa. Estiveram presentes representantes dos poderes executivo e legislativo, órgãos reguladores, setor privado e a sociedade civil para debater a melhoria da vida das pessoas idosas. 

Ação

CM: Neste sentido, o que está sendo feito pela ANS?

A ANS não só está atenta a esta questão como se coloca como indutora desse processo. É preciso começar a mudança agora e colocar as pessoas em primeiro lugar. O cuidado à saúde dos idosos deve ser uma prioridade contínua. E, dessa forma, essa conferência que citei mostrou que estamos prontos para construir um futuro mais inclusivo e saudável para essa população. 

O crescente aumento de beneficiários idosos nos planos de saúde demostra a importância da saúde suplementar para a nossa população longeva. Como destaquei anteriormente, mais de 1 milhão de idosos ingressaram no setor de agosto/2019 a agosto/2024. Hoje temos 7.661.391 de idosos na saúde suplementar, o que corresponde a 15% do total de beneficiários. Um dado interessante é que, segundo o Censo de 2022, tínhamos 37.814 mil centenários no Brasil, desses, 10.840 têm planos de saúde atualmente, o que significa dizer que 28,6% dos nossos centenários são cobertos pelos planos de saúde. 

Sala de Situação da ANS

CM: Qual é a importância da Sala de Situação para o setor de saúde e para os consumidores, de forma geral? 

A ANS desenvolveu e, em 2016, passou a disponibilizar a sua Sala de Situação para o setor de saúde suplementar. Com isso, consumidores, atores do mercado, gestores e demais interessados em obter informações relacionadas à saúde suplementar ganharam um instrumento mais completo e de fácil acesso, que permite consultas a dados atualizados mensalmente pela ANS. A ferramenta traz uma visão global e um panorama individualizado do mercado, ampliando e facilitando a consulta sobre operadoras e planos de saúde. A Sala de Situação faz parte da política de transparência da Agência e tem relação direta com a defesa do interesse público na assistência suplementar à saúde. Por meio da Sala de Situação as consultas ganham mais agilidade e customização de acordo com segmentações específicas escolhidas. A ferramenta também possui recursos visuais – mapas e gráficos – que possibilitam melhor visualização e comparação dos dados disponibilizados. 


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