Dia 1º de outubro é o Dia Nacional dos Idosos. A data também celebra o Dia Internacional da Terceira Idade. No Brasil, entre os anos 2000 e 2023, a proporção de idosos (pessoas com 60 anos ou mais) quase duplicou, subindo de 8,7% para 15,6%. Em 2070, cerca de 37,8% dos habitantes do país serão idosos. Os dados são das Projeções de População do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), recentemente divulgado.
Segundo o levantamento, a população brasileira vai atingir seu ápice em 2041. Nesse ano, a expectativa é que o país esteja com 220.425.299 habitantes. Depois, ela vai diminuir, chegando aos 199.228.708 habitantes em 2070.
Outro dado interessante é que a esperança de vida do brasileiro ao nascer subiu de 71,1 anos em 2000 para 76,4 anos em 2023. E a expectativa deve chegar aos 83,9 anos em 2070.
Aumento do número de idosos
Fato é que essas transformações demográficas trazem consigo uma série de desafios. Em primeiro lugar, o aumento da população idosa exige uma reavaliação das políticas públicas, especialmente nas áreas de saúde, previdência e assistência social. No que tange à saúde dos idosos, é fundamental que todo o sistema médico-hospitalar se adapte para atender às necessidades específicas dessa faixa etária. Isso vale tanto para o sistema público quanto privado. Afinal, os idosos, geralmente, apresentam um aumento na incidência de doenças crônicas e requer cuidados contínuos. Mas, será que o Brasil está preparado para esses obstáculos?
Sobre a saúde suplementar, Lucas Miglioli, sócio-fundador do escritório M3BS Advogados, aponta que o aumento de idosos na população brasileira tem implicações profundas. Em primeiro lugar, por conta do número, quase o dobro entre 2000 e 2023. Em segundo lugar, o fato impõe desafios crescentes tanto em termos de custo quanto de gestão dos planos de saúde.
Segundo ele, o cenário de envelhecimento populacional está diretamente associado a uma maior demanda por serviços médicos. “O que inclui internações, tratamentos de doenças crônicas, uso de tecnologias avançadas e cuidados prolongados, como home care, por exemplo”.
Gestão de risco
E, dessa forma, tal crescimento da população idosa eleva a pressão sobre o sistema de saúde suplementar como um todo. E, por consequência, esse precisa adaptar suas práticas de gestão de risco e regulação para garantir a sustentabilidade financeira.
Lucas Miglioli salienta que é notório que os idosos, em comparação com a população mais jovem, utilizam os serviços de saúde com mais frequência. E, portanto, apresentam maior sinistralidade, o que se traduz em custos elevados para as operadoras de planos de saúde. “Consequentemente, as empresas do setor terão que lidar com o aumento das despesas assistenciais. Ao mesmo tempo em que buscam mecanismos para controlar reajustes de mensalidades e evitar a evasão de clientes”.
Prevenção é a solução para idosos
Além disso, Lucas, membro da Comissão Permanente de Governança e Integridade e da Comissão Especial de Compliance, ambas da OAB/SP, pontua que o aumento de idosos requer um maior investimento em programas preventivos. Isso envolve o gerenciamento de doenças crônicas e soluções inovadoras, como o uso de tecnologia para monitoramento remoto e telemedicina. “O foco em prevenção e promoção de saúde será crucial para mitigar os impactos financeiros e promover o bem-estar dos beneficiários”, garante.
Outro ponto a ser observado é que o envelhecimento populacional no Brasil também intensifica o debate sobre a necessidade de políticas públicas e regulamentações mais adequadas a essa realidade. “A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) terá um papel central na articulação entre as operadoras e o Estado. O objetivo é garantir que os beneficiários idosos tenham acesso adequado a cuidados de saúde, ao mesmo tempo em que se equilibra a viabilidade econômica das operadoras. O setor de saúde suplementar precisa, portanto, adotar uma abordagem estratégica e inovadora para enfrentar os desafios impostos por esse novo perfil demográfico”, ressalta Lucas.
Dispositivos médicos
Outra lacuna, quando o assunto é saúde e qualidade de vida para os idosos, está no setor de dispositivos médicos, que enfrenta uma série de dificuldades que impactam sua inovação e crescimento. A regulação é uma das principais questões, com o sistema de aprovação de novos produtos muitas vezes sendo percebido como moroso e burocrático.
Outra problemática é a alta carga tributária, que onera tanto os fabricantes quanto os consumidores. Os impostos elevados encarem os produtos, limitando o acesso a inovações essenciais para o tratamento de doenças e cuidados de saúde. Ademais, a falta de incentivos fiscais e programas governamentais para estimular a pesquisa e desenvolvimento na área afeta a capacidade das empresas de investirem em inovação.
A escassez de mão de obra qualificada também se destaca como um desafio significativo. A formação especializada é crítica, especialmente em áreas como engenharia biomédica e tecnologia da informação, onde a demanda por profissionais qualificados cresce em ritmo acelerado. Juntando tudo isso com o aumento da número de idosos no Brasil, Paulo Henrique Fraccaro, CEO da Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos (Abimo), destaca a importância de estar preparado. “É crucial para o Sistema Único de Saúde se planejar para um aumento na demanda por tratamentos. E é fundamental para os fabricantes de dispositivos médicos adaptar seus produtos e equipamentos para melhor atender os idosos nos hospitais”.
Planejamento é a chave
Nas palavras de Fraccaro, que acumula mais de 40 anos de experiência na área da saúde, sendo membro dos Conselhos da Fundação Zerbini e da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, “é essencial que tanto o SUS quanto as empresas se programem para evitar que os custos disparem ou que equipamentos inadequados, como, por exemplo, camas ou macas muito altas, sejam usados pelos idosos. Esse acompanhamento permitirá um desenvolvimento mais eficiente e seguro”.
Em suma, com o aumento do número de idosos, a estratégia deve focar na prevenção como uma forma inovadora de reduzir custos, que hoje parecem inevitáveis. “Com um planejamento antecipado, podemos mitigar os impactos financeiros que, de outra forma, serão significativos. A melhoria da qualidade de vida dos idosos depende de um esforço coletivo que envolve o governo, o setor privado e a sociedade civil. Juntos, podemos criar um ambiente propício para que as inovações em dispositivos médicos se desenvolvam e cheguem a quem mais precisa”.
Autogestão
A autogestão de planos de saúde ocorre quando uma entidade é responsável pela administração e operação do plano de saúde de seus associados. Essa entidade pode ser uma empresa ou uma cooperativa, sendo a responsável por gerenciar os serviços de saúde de seus membros.
Dessa forma, as autogestões são geridas por empresas públicas e privadas, sem a finalidade de obtenção de lucro e tendo como usuários seus próprios funcionários e dependentes. “Portanto, o modelo oferece assistência em saúde a um número significativo de aposentados e pode se adaptar às necessidades de uma população idosa”. A fala é de Anderson Mendes, presidente da União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde (Unidas).
Anderson comenta que a carteira de autogestão, tem, hoje, cerca de 30% de idosos. Isso representa cinco vezes mais idosos do que tem uma seguradora, por exemplo. Justamente devido à característica de as pessoas permanecerem dentro do regime. “Nós temos uma proporção de aposentados, dentro da autogestão, muito maior do que os planos privados de categoria aberta, que geralmente estão ligadas ao empregador”, assevera Anderson Mendes.
Atenção primária
Com o aumento da longevidade, uma realidade de todos os sistemas, incluindo as autogestões, é que as operadoras terão que investir cada vez mais na atenção primária para manter sua sustentabilidade. “É preciso investir em programas de prevenção e promoção de saúde voltados para idosos, adotar tecnologias que facilitem o monitoramento remoto de pacientes e ajustar suas políticas de cobertura para incluir tratamentos mais frequentes e complexos, comuns em uma população envelhecida”.
A educação e conscientização da sociedade sobre a importância do envelhecimento saudável e da valorização dos idosos são igualmente vitais. É preciso cultivar uma cultura que reconheça as contribuições da terceira idade, promovendo seus direitos e bem-estar, garantindo assim que envelhecer seja uma fase digna e plena.