Nos últimos 10 anos, plataformas como o Airbnb ajudaram a bombar o número de viajantes de cidades turísticas como Lisboa e Amsterdã, o que levou à escalada do custo de vida para os habitantes destes locais. Com menos de 830 mil habitantes, a cidade de Amsterdã recebeu, só em 2019, cerca de 19 milhões de turista. Na França, o número bateu 80 milhões. Em Portugal, foram 23 milhões de pessoas.
O que os dados sozinhos não revelam é o enorme impacto do turismo nesses países. Se, por um lado, a receita gerada pela atividade traz muito dinheiro – só na economia portuguesa foram 34,8 bilhões de euros no último ano – por outro, os efeitos colaterais dessa sobrecarga de viajantes podem virar um fardo na vida de moradores locais.
Momento de mudanças
Agora, com a escassez de visitantes causada pela pandemia, lugares antes superlotados têm a chance de rever esse modelo. Para se ter ideia, nos últimos anos, um terço da cidade de Lisboa era ocupado com aluguel de temporada, estilo Airbnb. Inflacionado pela alta procura por locações de curto prazo, o mercado imobiliário viu os preços explodirem. A vida não só se tornou mais cara para os habitantes, como o processo de gentrificação acabou expulsando muitos deles para bairros afastados ou mesmo para outras cidades.
Até o início de 2020, esse jogo ainda estava a favor dos proprietários, que tinham uma demanda absurda por seus imóveis. Com o coronavírus, no entanto, eles viram a procura despencar, ao mesmo tempo que precisam continuar pagando hipotecas altíssimas, sem contar a dívida de impostos. Assim, cidades europeias estão sendo praticamente obrigadas a repensar uma forma de turismo com consequências menos agressivas para seus habitantes, sem no entanto deixar de socorrer os donos de imóveis.
Outras formas de alugar ?
Lisboa, por exemplo, está substituindo o Airbnb por aluguéis seguros. “Estamos oferecendo incentivos fiscais e financeiros aos proprietários por até cinco anos, através do programa Renda Segura”, explica o prefeito Fernando Medina. A ideia é transformar esses imóveis em moradias para trabalhadores essenciais, que foram afastados dos centros devido à inflação do setor imobiliário.
“Queremos que o turista tenha uma cidade mais limpa, sustentável, saudável e equitativa quando retornarem para cá. Ou fazemos isso agora, ou corremos o risco de nos tornarmos apenas um belo museu”, afirma Medina.
Em Paris, a Prefeitura também tem investido na compra de imóveis que foram arrendados como investimento para aluguéis de curto prazo. Amsterdã proibiu o uso de Airbnb no centro da cidade. Moradores de Veneza pressionam para um futuro menos turístico e debatem um outro renascimento para a cidade. Barcelona está forçando os proprietários a alugarem seus imóveis sob o risco de perdê-los. Budapeste planeja limitar a quantidade de diárias por mês com aluguel de curta temporada.
Com o isolamento social dificultando as viagens, a Ópera de Sydney, na Austália, os mercados noturnos de Bangcoc, o Museu do Louvre em Paris ou o Coliseu em Roma estão esvaziados. Velhos espaços agora têm sido ocupados por um novo tipo de turista: os próprios moradores, que estão redescobrindo suas cidades.
Isso tem dado impulso a planos para a indústria turística, só que o incentivo agora é local. Parisienses no Louvre, venezianos na Praça São Marcos, espanhóis de férias nos arredores de Barcelona. Os monumentos agradecem o respiro – e as cidades ganham mais tempo para se levantar.
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