De janeiro a outubro de 2021, foram vendidos 27.097 carros elétricos no Brasil. Trata-se de um recorde de vendas desse tipo de carro no país, com um aumento de 74% em relação a 2020. Os dados são da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
Para Carlos Gabriel Bianchin, engenheiro eletricista e pesquisador especialista do centro de ciência e tecnologia Lactec, a subida nos números era prevista. “Mesmo em um ano pandêmico, o mercado estava trabalhando com expectativas mais positivas. É uma tendência que deve se repetir nos próximos anos, com forte possibilidade que em 2025 tenhamos um aumento ainda maior”, pontua.
Além disso, pesquisa da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) em parceria com a o Boston Consulting Group (BCG) apontou três grandes cenários possíveis para o país nos próximos 15 anos. O primeiro seria o “Inercial”, no qual a transformação viria no ritmo atual, sem metas estabelecidas, sem uma organização geral dos setores envolvidos no transporte e na geração de energia, e sem uma política de Estado que incentive a eletrificação.
O segundo, batizado de “Convergência Global”, seria o mais acelerado no sentido de acompanhar os movimentos já em curso nos países mais desenvolvidos. O terceiro é o “Protagonismo de Biocombustíveis”, um caminho que privilegiaria combustíveis “verdes”, mas com um grau de eletrificação semelhante ao do cenário “Inercial”.
Dependendo da rota a ser seguida, a previsão é de que os veículos leves eletrificados poderão responder por até 62% do total de vendas em 2035.
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Os entraves para a popularização dos carros elétricos
No Brasil, as montadoras vivem uma corrida para baratear os custos de produção desses veículos e tornar o seu preço mais competitivo. O investimento inicial em um carro elétrico com autonomia de 300 a 350 km se aproxima dos R$ 200 mil, enquanto um veículo movido a combustível fóssil com o mesmo rendimento pode custar a partir de R$ 40 mil. “O grande gargalo para o crescimento desse modal é o preço”, explica o pesquisador.
Em relação a potências como Estados Unidos e China, o país engatinha em termos de vendas de carros elétricos: dados do Global EV Outlook 2021 mostram que, em 2020, mais de 10 milhões de veículos elétricos foram registrados no mundo. Europa e China lideram este ranking (1,3 e 1,1 milhões respectivamente).
No Brasil, os números absolutos ainda são baixos, mas manteve o crescimento em números elevados. Em 2021, o país dobrou a frota de veículos elétricos e híbridos, com cerca de 31 mil unidades vendidas. A maioria ainda é veículo híbrido. Em relação ao exterior, ainda está bem abaixo, pois os Estados Unidos, que vêm mantendo os números nos mesmos patamares há alguns anos, comercializaram cerca de 300 mil unidades em 2020.
Isso se deve, porque além do valor para o consumidor final, a adesão esbarra na infraestrutura de recarga disponível. É preciso garantir que os compradores que queiram viajar, por exemplo, possam contar com eletropostos por toda a extensão do caminho, de modo que a tecnologia e a inovação, provenientes dessas plataformas, sejam encontrados a cada trecho.
Os pontos de recarga existentes atualmente ainda não são regularizados, o que significa que não são taxados como o combustível disponível nos postos convencionais. O Lactec, que desenvolve soluções de eletrificação desde 2010, é pioneiro na bilhetagem deste tipo de serviço. “É fundamental que o mercado possa ter este negócio viabilizado e as empresas se interessem, o que o tornará mais atrativo para empresas e usuários”, esclarece Carlos Gabriel Bianchin.
O centro de ciência e tecnologia também viabilizou o desenvolvimento de um carregador rápido com tecnologia nacional e 50 kW de potência de carregamento. Com esse tipo de equipamento, a implantação de sistemas de carga de alta potência com menor custo e o deslocamento dos veículos elétricos entre cidades podem se tornar realidade.
O Lactec vem atuando em projetos de implantação de sistemas de recarga, eletrovias, sistemas de bilhetagem para recarga de veículos elétricos, modelos de negócio para comercialização de energia em eletropostos e desenvolvimento de um caminhão elétrico para empresas distribuidoras de energia.
Portanto, com tudo isso estabelecido e consolidado, o especialista acredita que a adesão do brasileiro aumentaria, pois, o veículo elétrico possui diversos atrativos, como redução de ruído e resposta e performance acima da média.
“A mentalidade do consumidor aceita bem as mudanças e de forma muito natural. Acredito que a massificação do veículo elétrico em outros mercados fará com que aqui também se torne algo mais acessível, assim como o aumento da infraestrutura de reabastecimento de baterias. Aí sim teremos uma mudança de hábitos de consumo expressiva”, explica.
Carros híbridos: como se posicionam?
Uma opção que se aproxima do que os carros elétricos oferecem é a dos carros híbridos. De acordo com o especialista, o Brasil apresenta um terreno bom para este modelo de veículo neste momento, pois não muda o modo operacional de abastecimento, mantendo o etanol e a gasolina como fonte energética para o deslocamento.
O consumidor ganha com a redução de consumo e também com a performance melhorada (dependendo da forma que os motores interagem). Em outros mercados, onde o veículo elétrico já é uma realidade com milhões de unidades vendidas anualmente, também há a coexistência com veículos híbridos. Aqui, também deverá aumentar esta convivência entre os modelos de veículos, dando mais opções ao cliente.
“De qualquer forma, espero que o consumo de veículos elétricos aumente e possa se tornar tão comum quando o veículo a combustão, oferecendo uma opção com menor emissão de poluentes ao mesmo tempo que oferece muito maior qualidade para o deslocamento intra e intermunicipal”, finaliza Carlos Gabriel Bianchin.
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