O brasileiro, definitivamente, não passou incólume pela crise. Muitos perderam seus empregos, enquanto outros tiveram que se reeducar financeiramente e mudar completamente os hábitos. É o que mostra “O Novo Shopper” – uma pesquisa exclusiva feita pela consultoria Torretta.br e que analisou minuciosamente o comportamento de 1.200 moradores das cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo entre os meses de abril e maio deste ano. De acordo com a pesquisa, o consumidor precisou se moldar a um novo contexto que inclui não só a redução do poder de compra como o desemprego. “Todo mundo hoje tem alguém desempregado na família. Todos foram impactados”, diz André Torretta, CEO da consultoria.
O consumo de bens duráveis (eletroeletrônicos, móveis) e semiduráveis foram os setores mais fortemente afetados pela crise segundo Alexandre Horta, diretor da PwC Brasil. “São aquisições que, em momentos de crise, podem ser postergadas”, explica. Os setores de alimentos e bebidas (alimentação dentro do lar), segundo ele, mostraram maior resiliência, por se tratarem de categorias mais básicas e com menor elasticidade. Ainda assim, o fator preço ganha peso fundamental na hora da escolha. “Para um País de renda média relativamente baixa, preço sempre foi um fator relevante nas decisões do consumidor. Em momentos de crise econômica, ele se intensifica, forçando uma mudança de hábito até mesmo em camadas da população que mantiveram seu poder de consumo relativamente intacto”, conclui.
A reação das marcas
A população à qual Horta se refere é ínfima. Segundo a pesquisa de Torretta, apenas 4% das pessoas mantiveram o mesmo padrão de vida. Para os outros 96% a mudança foi considerável. “É uma crise profunda e nacional. As marcas precisam entender isso e se perguntar o que podem fazer nesse novo Brasil”, diz Torretta. Parece óbvio, mas, para 82% dos entrevistados, as empresas não vêm entendendo o seu “aperto” financeiro. Na opinião deles, elas poderiam reduzir preços e investir mais em promoções, cupons e apps de descontos. “Elas precisaram reinventar o negócio para reduzir seus custos em toda a cadeia”, diz Horta. Isso significa, segundo ele, ser menos complexo, racionalizar o sortimento, integrar processos, melhorar a produtividade e redesenhar formatos para operar com menor custos.
“Antes era Negresco, agora é Negrito”
“No começo do ano a gente comia filé-mignon. Agora é alcatra”. “Era Stellinha, depois voltou a ser Skol”. Essas frases, ditas durante às entrevistas de “O Novo Shopper”, revelam que em tempos de crise a fidelidade às marcas está, sim, ameaçada. “Quando a crise for embora, o cliente já não vai ter mais a mesma ligação com a marca que não se adequou. Isso significa que portas são abertas para que novas empresas surjam”, diz Torretta. Uma pesquisa da Kantar Worldpanel, empresa especializada em comportamento de consumo, mostra um crescimento de 68% nas vendas de produtos de marca própria (em geral, de 5% a 30% mais em conta) de 2010 para cá. E vale lembrar que não estamos falando de marcas piores, mas sim daquelas que surgiram a partir de uma necessidade básica: a do consumidor.