Estudo inédito realizado pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) revelou que 57% da população brasileira ainda não tem acesso à “conectividade significativa”. Além disso, os dados apontam que apenas 22% dos brasileiros com mais de dez anos de idade possuem condições satisfatórias de internet. O conceito se baseia na ideia de que a conexão à internet deve proporcionar o acesso satisfatório a uma variedade de serviços online, possibilitando o aproveitamento das oportunidades no ambiente conectado.
O estudo “Conectividade Significativa: propostas para medição e o retrato da população no Brasil” analisou diferentes indicadores como: acessibilidade financeira, acesso a equipamentos, qualidade da conexão, ambiente de uso, custo da conexão domiciliar, plano de celular, dispositivos per capita, computador no domicílio, uso diversificado de dispositivos, tipo de conexão domiciliar, velocidade da conexão domiciliar, frequência de uso da Internet e locais de uso diversificados.
Efeito da cor, educação e classe social na conectividade
No recorte por região, a disparidade no acesso à internet no Brasil fica mais evidente nas regiões Norte e Nordeste, as mais afetadas pela falta de infraestrutura digital. De acordo com o levantamento, apenas 11% da população do Norte e 10% da população do Nordeste desfrutam de condições de conectividade significativa. Essa disparidade contrasta com a realidade das regiões Sul e Sudeste, que registram os melhores índices de conectividade no país. No Sul, 27% da população desfruta de condições plenas de conectividade, enquanto no Sudeste esse número sobe para 31%.
A desigualdade fica evidente na análise da autodeclaração de cor ou raça dos respondentes. Entre brancos, 32% estão na faixa mais alta de acesso pleno à internet. Já entre pretos e pardos, a porcentagem cai para 18%. Da mesma forma, as desigualdades se refletem nas classes sociais, com 83% da classe A desfrutando de melhor conectividade, em contraste com apenas 1% das classes D e E.
No recorte de faixa etária, o levantamento confirma que idosos são mais vulneráveis à exclusão digital. Uma proporção significativa de brasileiros com 60 anos ou mais (61%) enfrentam mais dificuldades para acessar e utilizar tecnologias digitais.
Além disso, a proporção de pessoas com melhor conectividade é consideravelmente maior entre os entrevistados do sexo masculino, totalizando 28%, em comparação com os do sexo feminino, que representam apenas 17%. No entanto, o estudo ressalta que, quando examinados isoladamente, alguns indicadores de acesso às tecnologias não evidenciam as desigualdades entre homens e mulheres. Por exemplo, a prevalência de usuários de internet no Brasil mostra distâncias pouco significativas entre esses dois grupos. No entanto, uma análise combinada de indicadores revela condições de conectividade mais precárias para a população feminina.
Por fim, a pesquisa desmistifica a ideia comum de que jovens têm automaticamente melhores indicadores de conectividade. Contrariando essa percepção, apenas uma pequena parcela dos jovens entre dez e 15 anos (16%) e entre 16 e 24 anos (24%) está na faixa mais alta de conectividade. Os níveis mais elevados são observados entre os grupos mais ativos no mercado de trabalho, com destaque para a faixa entre 25 e 44 anos.
“O estudo questiona a ideia de que os gargalos para inclusão digital seriam sanados por uma possível transição geracional, uma vez que os jovens já seriam super conectados”, explica Graziela Castello, coordenadora de estudos setoriais no Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação) e responsável pelo levantamento. “Quando olhamos para os usuários de internet de maneira geral, isso se confirma, mas ao complexificarmos a análise e entendermos a conectividade como um todo, fica claro que uma parcela importante desse grupo possui condições precárias de conectividade e vai ingressar no mercado de trabalho com uma desvantagem grande. A realidade de um jovem que mora na periferia e não tem qualidade de conexão é muito distinta da de um jovem da mesma idade que tem melhores condições. Essas diferenças potencializam desigualdades já existentes”.