A cervejaria de Belo Horizonte Backer voltou a aparecer no noticiário nacional, mas desta vez de uma maneira um pouco mais positiva. É que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) autorizou a pequena produtora da bebida a utilizar a cerveja que está parada em tanques há 90 dias para produção de álcool 70%. Ela se junta ao time das empresas que suspendeu a produção de bebida simplesmente pela diminuição do consumo.
Estima-se que a cerveja parada poderá render 28 mil litros de álcool gel. A ideia é doar o produto para o sistema público de saúde para combate ao novo coronavírus, segundo informou a empresa.
Retidos
Ao todo, 472 mil litros de cerveja ficaram retidos nos tanques desde a interdição do local em janeiro, para apurar a contaminação por mono e dietilenoglicol na bebida produzida na fábrica.
O inquérito policial, que completou três meses no início de abril, aponta para 42 vítimas, sendo que nove teriam morrido em decorrência da intoxicação. A polícia segue investigando como se deu a contaminação das bebidas, mas não há prazo para conclusão.
A fábrica da cerveja, que fica no bairro Olhos D’Água, segue interditada até que seja possível afirmar que não há riscos na retomada da produção no local, diz o Mapa. A apuração administrativa do caso também segue.
Movimento similar
Embora a produção de álcool gel seja uma boa oportunidade para a Backer melhorar a sua imagem diante do consumidor cervejeiro, o fato é que a empresa mineira está apenas seguindo uma tendência do seu mercado. E isso diz muito sobre o momento do setor.
Uma das pioneiras nessa iniciativa foi a Ambev, que prometeu produzir um milhão de garrafas com o produto e entregar para a rede pública de saúde. O mesmo movimento foi seguido por cervejarias da Serra Gaúcha, caso da Rasen, e muitas outras no País.
Ocorre que alguns estudos sugerem que a produção do álcool gel teria relação com a queda no consumo de bebida no País. Um recente levantamento feito pela Abrape, entidade que representa os fabricantes de bebidas como cerveja, cachaça, vinho e outros destilados, mostra uma redução de 51% nas receitas entre 15 e 31 de março.
Embora muita gente diga “Ah, mas eu tenho consumido mais bebida alcoólica em casa”, o fato é que o maior faturamento do setor não está relacionado ao consumo realizado em casa. Outro estudo, desta vez produzido pela consultoria KPMG em outubro do ano passado, afirma que 61% do consumo de bebida alcoólica ocorre em bares, restaurantes e similares – justamente os lugares que foram obrigados a fechar por causa do novo coronavírus.
Ou seja, no fim, no Brasil, a doação de álcool gel se tornou uma maneira para desovar o produto parado na indústria. No fim, um mal menor.
Nos EUA ocorre o inverso
Já nos EUA, curiosamente, existe um movimento contrário ao brasileiro. O americano parece disposto a comprar tanto o álcool gel (também em produção por empresas de bebidas americanas) quanto a própria bebida alcoólica durante a pandemia do COVID-19. Nesse sentido, o destaque é a cerveja.
A conclusão está em um estudo produzido pela inMarket, uma consultoria americana. De acordo com a pesquisa, o consumo de todos os tipos de bebidas alcoólicas cresceu no mercado norte-americano. No entanto, é justamente a cerveja que tem chamado a atenção da consultoria. Por lá, notava-se um aumento no desinteresse dos americanos pela bebida, o que mudou na pandemia.
Agora, a procura pela “gelada” cresceu – e muito. Um exemplo é a cerveja como a Busch Light da Anheuser-Busch, que cresceu impressionantes 44%. Outras marcas também registraram aumentos de vendas de dois dígitos, caso da Miller Lite, Michelob Ultra e Natural Light. Todos eles cresceram entre 14% e 17%. As vendas de Modelo e Miller High Life saltaram cerca de 7%.