Quer entender por que os custos de internação no Brasil estão aumentando?
Primeiro, antes de responder essa pergunta, é preciso salientar que o devido preparo para entender o aumento das despesas é fundamental para garantir a sustentabilidade do sistema de saúde no Brasil. Afinal, com o envelhecimento da população e a consequente demanda por cuidados intensivos, tanto o setor público quanto o privado precisam se antecipar e se adaptar a essa realidade.
E hoje, quando o assunto são custos assistenciais, as despesas com internações continuam em alta. Prova disso está em uma nova pesquisa da União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde (Unidas).
Para se ter uma ideia do quanto o custo com internações continua sendo o principal gasto assistencial, os valores médios gastos com um paciente hospitalizado apenas aumentaram de R$ 6.455 em 2019 para R$ 10.153 atualmente, um acréscimo de R$ 3.698.
Principal causa internação
Hoje a principal causa de internações no Brasil são as doenças do sistema circulatório. Somente essa patologia é responsável por cerca de 10% do total de hospitalizações no período analisado.
Os transtornos mentais e comportamentais, que no auge da pandemia representavam 9% das internações hospitalares, caíram para 6%.
Participaram da pesquisa 46 operadoras associadas à Unidas. Ao todo, essas operadoras representam 2.530.753 de usuários de planos de saúde.
Faixa etária = aumento das internações
Um dos destaques do levantamento diz respeito ao aumento da faixa etária dos pacientes e as respectivas despesas com internações. Traçando um paralelo, o custo médio com uma hospitalização para pessoas com mais de 60 anos é mais que o dobro do que entre pessoas de 24 a 28 anos.
Anderson Mendes, presidente da Unidas, chama atenção ao fato que os custos com internações onerarão de maneira significativa os sistemas de saúde público e privado na próxima década. Assim, ele deixa um alerta para o sistema de saúde na totalidade, vez que os idosos demandam um cuidado maior. “Temos dentro das autogestões uma realidade etária que o Brasil terá em 2050”.
Outro ponto que chama atenção tange às variações nos custos dos serviços de saúde, que refletem a dinâmica do sistema hospitalar e a demanda por diferentes tipos de atendimento. Assim, houve aumento no custo médio das consultas na região Sudeste, que registrou um crescimento de 14% (maior elevação de preços no país).
Já o valor médio dos exames teve o maior reajuste na região Centro-Oeste (4,17%). Ao mesmo tempo, o custo médio com internação domiciliar baixou R$ 10 mil em quatro anos, enquanto a hospitalar aumentou quase R$ 10 mil, ultrapassando os R$ 24.252 de 2021, auge da pandemia.
Exames
Além disso, as ações de distanciamento social implementadas no início da pandemia contribuíram para a queda no número de atendimentos menos urgentes, resultando em uma concentração da demanda por serviços de saúde em casos mais complexos. Como resultado, houve um aumento significativo na taxa de realização de exames em 2021 (7,25 por consulta) e uma leve diminuição em 2022 (6,68 por consulta).
Esse aumento em 2021 pode indicar um represamento de diagnósticos não realizados em 2020. Já em 2022, a média aponta um retorno aos níveis normais, após os efeitos da Covid-19.
Idosos
As diferenças observadas em relação à idade mostraram que os beneficiários com mais de 59 anos tiveram a média mais alta de consultas e exames, enquanto os mais jovens tendem a realizar menos procedimentos. “Portanto, é crucial aprender a cuidar das pessoas para que elas cheguem à terceira idade com saúde”, salienta Anderson Mendes, salientando ainda que manter a sustentabilidade e acessibilidade nos planos de autogestão é um desafio, e logo se tornará uma preocupação para todo o mercado de saúde suplementar.
Quanto aos atendimentos de internação, a evolução da taxa de internação demonstra uma influência significativa da pandemia de Covid-19 em seus resultados.
Autogestão
As autogestões também têm a maior concentração de idosos na Saúde Suplementar. Enquanto a média do setor é de 15,34%, entre as participantes da pesquisa, pessoas com 59 anos ou mais representam 28,5% da carteira.
“As pessoas, com atributos de risco, necessitam de cuidados. E, por consequência, aumenta a probabilidade de utilização da cobertura contratada. Então, a operadora permanecerá com uma base de clientes mais dependente do sistema. Com menos receita e mais custos, a sinistralidade continuará aumentando”, afirma o presidente da Unidas.
É importante destacar que nas autogestões, em 2022, o índice de sinistralidade atingiu 94%. O percentual ultrapassou o patamar histórico de 92% observado em 2019. Isso significa que, de cada R$ 100 recebidos pela operadora de saúde, R$ 94 são gastos com pagamentos de despesas médicas e assistenciais.
Operadoras de pequeno porte
A análise dos dados revela que a maioria das operadoras pertence ao grupo de pequeno porte, representando 51,2% do total. No entanto, esse volume de operadoras de pequeno porte contrasta com sua representatividade em número de beneficiários, que corresponde a 7,8% do total desta pesquisa.
Em contrapartida, as operadoras de grande porte, embora representem apenas 12,2% do total de operadoras, abrangem significativos 66,6% dos beneficiários.
Quanto ao tipo de plano, os planos regulamentados predominam, com destaque para os planos coletivos empresariais e de cobertura nacional.
Em dezembro de 2022, os segmentos de “Ambulatorial + Hospitalar com Obstetrícia + Odontológico” e “Ambulatorial + Hospitalar com Obstetrícia” representaram a maioria dos beneficiários. Ao todo, eles totalizaram 51,3% e 44,4%, respectivamente. Isso sugere que as operadoras têm oferecido planos abrangentes que oferecem amplas opções de assistência. É importante notar que a grande maioria dos beneficiários está inscrita em planos com coparticipação, abrangendo aproximadamente 90% dos beneficiários. Isso pode indicar uma estratégia das operadoras para oferecer opções mais acessíveis aos seus clientes.