Nos últimos meses, o Tik Tok tem atraído outro perfil de jovem que não parece disposto a exibir habilidades na dança em vídeos de poucos segundos. No Reino Unido, é cada vez mais comum um tipo de influenciador que produz conteúdos exclusivamente sobre livros, tudo feito de uma maneira informal, visceral – quase um react – e que tem estimulado a venda de livros em papel entre adolescentes. É o que vem sendo chamado de Book Tok.
O assunto foi abordado em uma recente reportagem do The Guardian, que contou as histórias de diversos influenciadores, caso das irmãs Elodie e Mireille Lee, donas das contas @alifeofliterature no TikTok.
Tudo começou, segundo Mireille, quando ela convenceu a irmã, Elodie, a ler o romance juvenil “A Seleção”, de Kiera Cass. “Eu não queria ler. Eu gostava de jogos”, lembra Elodie, que afirma ter sido mordida pelo “bicho da leitura” e daí não parou mais. A conta no TikTok foi consequência.
No primeiro vídeo, Elodie mostrou cenas inspiradas na estética ou clima da obra “A Seleção” e o resultado foi animador para uma estreante no universo das influenciadoras: 1 mil curtidas em um único dia. Mireille, então, decidiu se juntar a irmã e, hoje, elas contam com 284 mil e aproximadamente 6 milhões de curtidas.
Um dos vídeos de maior sucesso delas é sobre a obra “We Were Liars”, de E Lockhart, que mostra fotos de cenas dramáticas e glamorosas de um belo litoral, praticamente um resumo do conteúdo do livro. Hoje, os vídeos tem uma única proposta: elas não resenham livros, mas, segundo palavras delas, o objetivo é “convencer você a ler livros com base em sua estética”.
Outro exemplo de book toker é Ayman Chaudhary, de 20 anos, estudante na universidade de Chicago. Ela notou uma explosão de “likes” quando postou um vídeo com comentários sobre a obra A Canção de Aquiles de Madeline Miller.
Chaudhary diz que os vídeos surgiram durante o lockdown, estimulada pelo “tédio da quarentena. “Nunca planejei fazer conteúdo. Achei que não tinha nada de especial ou novo a dizer”. Hoje, ela tem 258.000 seguidores e 16,2 milhões de likes em sua conta @aymansbooks.
Livrarias e editoras animadas
Quem anda animado com o movimento de book tok são livrarias e editoras, que enxergam no fenômeno de jovens influenciadores de livro uma maneira de se reinventarem após o forte impacto da transformação digital na venda de livros físicos.
“O grupo de pessoas que compram livros para jovens é limitado a alguns milhares de amantes dedicados do gênero. Por outro lado, o BookTok é empolgante, com seus vídeos curtos e divertidos trazendo uma nova e poderosa oportunidade de alcançar e envolver os não leitores, para criar mais amantes de livros”, diz Kat McKenna, consultora de marketing e marca especializada em livros infantis e jovens em entrevista ao The Guardian.
Um exemplo dessa euforia de McKenna e outros profissionais da indústria da cultura é o romance de 2017 de Adam Silvera, de nome “Ambos Morrem no Final”.
Recentemente, diversos book tokers começaram a se filmar antes e depois de ler o livro. Em março, a obra atingiu o topo das paradas de ficção adolescente, vendendo mais de 4 mil cópias por semana. O livro vendeu mais de 200 mil cópias no Reino Unido, sendo que bem mais da metade das vendas ocorreu em 2021 – e após os vídeos. A hashtag #adamsilvera foi visto 10,8 milhões de vezes). Será que a moda pega no Brasil?