O fim do ano chegou e com ele se solidificam as apostas para os cenários que vamos encontrar em um mundo profundamente transformado por pandemia, confinamento, crise econômica e sanitária – bem como por novidades tecnológicas e comportamentais. Em todas as áreas será assim, mas quando se trada do mercado de mídia e comunicação, as transformações parecem ter sido ainda mais rápidas e profundas. Pensando nesse complexo quadro, a Kantar, empresa de pesquisa de mercado, insights e consultoria, liberou seu relatório de apostas para 2021, mapeando as tendências que devem impactar essa indústria.
Alguns desses insights já vêm acontecendo nos últimos dois anos, por exemplo o crescimento do marketing de influência, que agora pede cada vez mais propósito e posicionamento de quem pretende ocupar esse posto. Mas há novidades, como o conceito do assinante-bumerangue, aquele que vai e volta entre as diversas plataformas de subscrição de conteúdo que consome.
Para saber mais sobre o que vem por aí na opinião dos experts da consultoria, confira abaixo um top 5 entre as apostas elencadas.
Audiências com comportamentos ainda mais complexos
Donos de veículos de mídia, de plataformas de conteúdo e creators não devem ter sossego em 2021. A comunicação é um dos mercados que mais muda com a velocidade com que as mudanças sociais e de comportamento tem ocorrido atualmente e isso não deve se alterar. Ainda que a pandemia de Covid-19 arrefeça no ano que vem, a maneira como as audiências se comportam seguirá sendo complexa de entender.
“À medida que a pandemia progredia em cada país, observamos que o consumo de mídia crescia de forma importante. Só em abril, vimos a navegação na internet aumentar em 64%, o consumo de vídeo online em 54% e o engajamento em mídia social em 56%. Enquanto isso, os consumidores estavam cada vez mais preocupados com o futuro e com a economia: 77% sentiam ou esperavam sentir um impacto em sua renda”, diz o relatório.
A resposta para lidar com esses humores da audiência, impactada por uma realidade que não é mais tão solida, é ter agilidade para mudar sua forma de fazer comunicação e ter ainda mais interesse em mapear o que as pessoas querem ver. Em outras palavras, ler os dados e os sinais emitidos por seu público.
O assinante-bumerangue
Não é nada pessoal com a sua marca ou serviço, mas saiba que a tendência do consumidor ir e voltar entre diversas plataformas irá se consolidar em 2021. Lealdade será uma conquista difícil, principalmente no mercado de streamings, que vive uma “guerra” pelo assinante, animada no caso dos filmes e séries pelo lançamento da Disney+.
Segundo a Kantar o que vem por aí no ano que vem são parcerias para driblar esse feito bumerangue – como a da Disney com o Bradesco e a Globo Play no Brasil, por exemplo, e uma importância ainda maior em cuidar do relacionamento com o cliente: “A relação das plataformas com seus assinantes é peça fundamental e deve ser cuidadosamente planejada para reduzir o número de cancelamentos; nada reduz mais a fidelidade do que os consumidores não terem suas necessidades atendidas e não haver uma opção de saída (cancelamento) fácil”, reforça o documento.
A relação entre comércio eletrônico e mídias sociais
De acordo com dados mapeados pela Kantar, só nos Estados Unidos, por exemplo, 63% dos consumidores começam suas buscas de compras primeiro pelo Google – e não por sites como Amazon ou Walmart. Isso significa que, principalmente para os “millennials”, as mídias sociais seguem sendo uma grande e poderosa vitrine.
Em 2020 tivemos marcas grandes retirando seus investimentos de plataformas como o Facebook para pressionar uma melhor maneira de controlar anúncios de conteúdos patrocinados que podem ser danosos à democracia e aos Direitos Humanos, indo no rastro dos atritos que as eleições nos Estados Unidos causaram. Com mais gente conectada em tempo integral, por causa da pandemia especialmente, surgiram os e-commerces sociais, notadamente criados pela Amazon e pelo Alibaba, que “lançaram suas transmissões ao vivo, através do ‘Taobao Live’ e do ‘Amazon Live’, respectivamente, dentro de seus ecossistemas”.
Para o ano que vem, essa comunicação multicanal deve se tornar mainstream: “Essas novas dinâmicas de mercado permitirão que pequenas marcas insurgentes cresçam e ganhem participação de mercado. Por outro lado, players mais estabelecidos precisam ser mais ágeis e utilizar plataformas de comunidade, como o e-commerce social do Facebook Shop e WeChat, em conjunto com influenciadores na sua estratégia de comunicação e promoção.
TV tradicional X streaming
Se tem algo que mudou radicalmente foi a forma de consumir conteúdo durante a pandemia, com as pessoas passando horas e horas nas plataformas de streaming, a ponto de governos mundo afora terem que pedir para empresas como a Netflix diminuírem a qualidade de exibição de seus conteúdos para não comprometerem todo o sistema de internet.
Para enfrentar essa concorrência, a TV tradicional aposta no ao vivo, que ainda é algo de muito apelo e insubstituível. Para a Kantar, vem por aí um necessário estudo da atenção da audiência para entender como ela está se comportando. “Ainda que os patamares de audiência tenham retornado gradualmente aos níveis pré-isolamento, a co-visualização ainda é importante, e prevemos que as sobreposições do público entre as plataformas de streaming crescerão. A medição em todas as telas e plataformas deve ser levada a sério para entender as migrações das audiências”, diz o documento.
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Ação, influência e propósito
Há um tempo as consultorias de mídia e comunicação vêm falando sobre propósito para marcas e criadores de conteúdo. Em 2020 houve um verdadeiro divisor de água nesse sentido e muita gente que não se manifestou (incluindo marcas) foi cobrado.
“Buscando se diferenciar em um ambiente de mídia saturado, as marcas compartilham cada vez mais suas opiniões e se envolvem na área de políticas públicas. As oportunidades de sucesso ou fracasso são reais e, embora a paixão por uma causa possa ser forte, se as marcas apenas falarem e não fizerem nada, a credibilidade delas será questionada”, reforça o relatório da Kantar.
Entre os dados liberados no material, está, por exemplo, o fato de que para 49% dos consumidores “agir com responsabilidade é o que mais influencia a reputação de uma marca”. Com as redes sociais dando voz aos indivíduos, cobranças e posicionamentos devem ser cada vez mais comuns e todo mundo precisará estar preparado para isso, principalmente de forma a evitar ruídos de comunicação antes que eles aconteçam. Caso contrário, mais e mais marcas ou pessoas podem ser vistos como oportunistas, de acordo com o posicionamento tomado.