E, enfim, chegamos a 2017, após a longa jornada em busca de um túnel que caracterizou boa parte de 2016. Contudo, se há exatos 12 meses apontássemos que o país iria aprovar uma Emenda Constitucional que limita os gastos por 20 anos, que veria no Congresso Nacional uma Reforma da Previdência, que a inflação voltaria para dentro do limite de tolerância da meta e que os juros começariam trajetória consistente de baixa, além de finalmente discutirmos seriamente alguns itens para reformar a anacrônica CLT, seríamos objetos de ceticismo. Felizmente, esses movimentos estão em curso e podemos respirar ligeiramente mais aliviados. Entramos no túnel. Em breve, talvez possamos ver alguma luz distante.
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Não devemos nos iludir. O Brasil tem muito trabalho pela frente. Corrigir, reconstruir, revisar, remodelar anos e anos de incúria, incompetência, ilusão e ações deletérias levará muito tempo. Não estou abordando ou enfatizando nada de novo. Qualquer analista, comentarista ou pessoa dotada de mínimo bom senso concorda com essa premissa. Por outro lado, a situação em si, o panorama econômico, social e político é tão grave que cria terreno fértil para a proliferação de ideias salvacionistas e para projetar ou fazer renascer o populismo oportunista.
É doloroso pensar que o discurso oficial e corporativo deve ser aquele que desidrata e não alimenta ilusões. O Brasil precisa trabalhar para consertar o mal que provocou a si mesmo, quando se viu como uma potência global, a partir de condições artificiais e momentâneas. À essa imagem de grandeza sucedeu-se um choque brutal com uma realidade que se manifesta na violência quase incontrolável, nos cofres públicos destroçados, nos quase 13 milhões de desempregados, sem contar aqueles que simplesmente desistiram de procurar ocupação. Uma situação que só vai melhorar com trabalho duro.
O grande desafio do Brasil, mesmo após retomar uma trajetória de crescimento – que é inevitável, diga-se, e rápida, arrisco – será justamente criar trabalho e trabalhar com competência e qualidade. Não são poucos os estudos globais que mostram claramente a crise do emprego mundo afora. Automação, inteligência artificial, eficiência, robotização, são fenômenos que ganham escala em velocidade acelerada, muito maior do que uma eventual acomodação de mercado que leve a criação de novas funções para gerar empregos eliminados pela evolução de tecnologias e processos. Mesmo que o Brasil consiga realizar a proeza de crescer cerca de 2% a 2,5% já a partir de 2018 e por um período longo, essa taxa (tanto quanto taxas mais elevadas de crescimento) é insuficiente para reduzir o passivo de empregos. Há algumas funções promissoras, onde a demanda cresce confortavelmente – cientistas de dados, por exemplo – mas o país não consegue formar profissionais para cobri-las. O fato inequívoco é que mesmo com todo o trabalho que há pela frente para que o Brasil se recupere, o emprego estará em falta para milhões de brasileiros.
Este é o momento de pensarmos – políticos, executivos, analistas, especialistas, economistas, lideranças em geral – em como criar condições para que haja trabalho digno para o máximo de pessoas. Esse problema não será enfrentado com voluntarismo, soluções mágicas, esquerdismo utópico. Não é possível frear a evolução da tecnologia e da história, colocar o país em uma câmara impermeável, ou adotar uma experiência exótica que evite nosso contato com o mundo e com a mudança. Mas o fato é que o Brasil precisa facilitar o acesso ao emprego, simplificar regras, perseverar no discurso e na condução racional e madura da economia. Ainda assim, é preciso gerar ideias que aproveitem melhor o potencial de milhões de cidadãos. Um bom começo é fazer a sociedade compreender que não é o consumo que gera emprego, mas sim o emprego que gera consumo. Simplificar ao máximo a CLT também ajudaria.
Nesse ponto, vale a pena destacar: um dos segmentos mais promissores para a criação de empregos é justamente aquele mais maltratado pela burocracia e miopia das “políticas econômicas”: o varejo. Uma expansão natural do nosso varejo, a partir de condições facilitadas de contratação – regime de trabalho parcial, terceirização, acordos coletivos sem interferência da justiça do trabalho – poderia facilmente dobrar a força de trabalho empregada pelo setor, hoje na ordem de sete milhões de pessoas. Ou seja, o varejo poderia colaborar decisivamente para a redução do contingente de desempregados.
Sim, há muito, muito trabalho pela frente. O Brasil precisa acreditar que só o trabalho duro e virtuoso é capaz de criar um país mais justo e próspero, onde as oportunidades se multipliquem e o mérito seja consagrado. E todo esforço empreendido para gerar empregos e chances para cada vez mais pessoas é um objetivo e um propósito valioso para empreendedores e executivos.
Bom trabalho para você nestes e nos próximos 12 meses. Não há nada melhor para desejar em 2017.
*Jacques Meir é Diretor Executivo de Conhecimento, Conteúdo e Comunicação do Grupo Padrão.
Ao trabalho
Um dos maiores desafios do Brasil está centrado nele: o emprego. É preciso repensar o presente para garantir o futuro. Confira análise exclusiva
- Jacques Meir
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