A transformação digital ainda engatinha dentro das organizações brasileiras. Pesquisa da IDC, consultoria focada em inteligência de mercado, com mais de cem empresas, apontou que 24,7% não acham que o tema seja relevante, enquanto somente 4% estão cientes da importância do assunto e o tratam como prioridade.
A boa notícia é que uma grande fatia, cerca de 42%, afirma que quer iniciar o processo nos próximos anos, entre 2019 e 2021. Breno Barros, diretor global de Inovação e Negócios Digitais da Stefanini, empresa provedora global de soluções de negócios baseadas em tecnologia, diz que, entre o ano passado e este ano, a transformação digital passou a ser encarada com mais seriedade pelas médias e grandes organizações nacionais.
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“No passado era uma visão futurista, agora as organizações estão mais pragmáticas com o tema digital, sabem que o mundo está em transformação e querem saber o que fazer para lidar com as mudanças agora”, reitera Barros.
Prova disso é que, no primeiro semestre de 2019, a comercialização de novas tecnologias teve um crescimento de dez vezes nos últimos três anos e já passa a representar 25% do faturamento global da Stefanini. De acordo com o executivo, o setor financeiro foi o grande pioneiro no quesito transformação digital. “Com a chegada de novas fintechs, já há alguns anos, o mercado se abriu e a demanda por inovação cresceu. As empresas começaram a se questionar como seria possível levar mais experiência ao cliente para não perdê-lo”, comenta Barros.
Foi o que aconteceu com a Sicredi, que decidiu investir em uma nova plataforma de tecnologia e se lançar no mercado digital com o Woop, conta digital gratuita. Para dar suporte a esta novidade, a empresa decidiu fazer uma mudança do core bancário tradicional – sistema que processa todos os produtos de uma instituição financeira – para um core digital, com a transferência das informações dos clientes para a nuvem.
A solução Core Banking Topaz, desenvolvida pela Stefanini e que passou a ser usada pela Sicredi, permite operações bancárias em tempo real de forma centralizada e disponível em múltiplos canais para atendimento ao cliente.
“Esta tecnologia possibilita que as instituições, como é o caso da Sicredi, reforcem o relacionamento com seus clientes, ampliando a produtividade e aprimorando a gestão financeira”, diz Barros.
Além do setor financeiro, um segundo segmento que saiu à frente em inovação foi a indústria – especialmente a de manufatura e bens de consumo. “Pois é um segmento que tem uma enorme necessidade de eficiência (fazer mais com menos) e as novas tecnologias permitem isso”, lembra o executivo.
Neste contexto, a Stefanini desenvolveu uma solução capaz de gerir o estoque de uma empresa de fertilizantes, a partir do uso de drones (veículos não tripulados). “O primeiro grande benefício foi a redução do custo de mão de obra em mais de 50% e, principalmente, a eliminação do risco de acidentes com pessoal para realização da atividade”, diz Breno Barros.
Além disso, o tempo de contagem da linha de produção foi reduzido de 24 horas para 20 minutos, e a assertividade na contagem do estoque que era de 90%, quando feita por um funcionário, aumentou para 98%, após a implementação da tecnologia.
Visão de gente grande
Para tornar a visão de que a transformação digital é, de fato, importante para as empresas brasileiras, a Stefanini e o INSEAD, escola de negócios francesa, desenvolveram, em 2018, o Programa Leadership Transformation, que, em 2020, terá sua terceira edição.
O curso, que acontece durante cinco dias, oferece uma experiência educacional que permite aos executivos desenvolver habilidades necessárias para mudar a mentalidade, acompanhar as disrupções do setor, inspirar as equipes e engajá-las no processo de transformação digital.
“Percebemos que a inovação é algo que precisa vir do alto escalão, até porque há uma necessidade de alinhamento com a visão estratégica da companhia, que passa pelos fundadores, presidentes e demais C?Levels”, destaca Barros.
O executivo da Stefanini também lembra que os profissionais do board da companhia são quem, de fato, podem engajar os funcionários para que a transformação digital percorra toda a organização.
“Há dois anos, o mais difícil era convencer executivos e empresários que a transformação digital era algo fundamental para o sucesso do negócio. Hoje, o maior desafio é envolver as pessoas e fazer com que elas se comprometam com o propósito da inovação”, conclui.