Há 20 anos, o personagem vivido pelo ator Keanu Reeves precisou escolher entre tomar a pílula azul ou a vermelha. Ao escolher a segunda, ele protagonizou um fenômeno que deu forma às principais questões e dúvidas do mundo contemporâneo.
Dirigido pelos irmãos Wachowski, Matrix colocou em pauta questões existenciais tipicamente humanas com a desconfiança em relação aos novos rumos da sociedade diante da evolução dos computadores e da inteligência artificial.
Com a jornada dos personagens embalada por uma trilha sonora eletrônica, figurinos em couro e vinil, Matrix foi pioneiro no uso de técnicas de computação gráfica, como o efeito “bullet time”, que permite um personagem desviar de balas atiradas contra ele.
Após o lançamento, em 1999, Matrix acumulou mais de US$ 463 milhões em faturamento pelo mundo, superando mais de sete vezes o valor investido na sua produção, de US$63 milhões.
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O que é real?
Mas afinal, em que o mundo em 2019 parece com o retratado pelos irmãos Wachowski nesse clássico do cinema? Michel Alcoforado, doutor em Antropologia e especialista na área em consumo pela University of British Columbia, no Canadá, analisa a atemporalidade do longa-metragem.
“O filme mostra para gente com uma grande clareza o grande efeito do filme em falar das tecnologias que se tinha e teriam nos próximos anos. Mas o interessante é ver que um filme que nasce em 1999, praticamente está se afirmando como uma metodologia do que temos e do daqui para frente”, afirma.
O storytelling
Uma das tendências em divulgação de marcas e estratégias usadas pelas empresas é o storytelling, com a construção de histórias e a criação de personagens para aproximar o cliente das marcas e facilitar a fidelização.
Para Michel, a participação de roteiristas de cinema têm feito a diferença no relacionamento das organizações com o cliente.
“Essa capacidade de inventar o imaginário do que vai ser o mundo, claro que a gente está falando de ficção, mas já vem havendo uma maneira de trabalhar com a imaginação desse grupo. Empresas vêm contratando roteiristas de ficção científica para começarem a contribuir em qual papel fazer das canetas, das cadeiras, dos absorventes daqui a 10 anos”, explica.
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Para onde vamos?
Segundo o especialista, Matrix mostra qual seria o papel da tecnologia no mundo atual, como o surgimento da Inteligência Artificial (IA) e o aparecimento dos bots.
“Matrix mostra o papel que a tecnologia iria ter na resolução dos nossos problemas. Ele foi fundamental também em dizer que impacto isso teria nas relações sociais, que é o momento que a gente está vivendo agora”, afirma Michel.
Hoje, de acordo com o antropólogo, os robôs podem “ser gente como a gente”, algo já retratado no clássico do cinema. Atualmente, bots estabelecem relacionamento com o cliente, podem compor músicas e criar conteúdo.
Michel esclarece que esse tipo de tecnologia pode desumanizar as relações pessoais. “Na medida que você desumaniza os humanos, você faz algo com ele que você não faria com uma pessoa real. A medida que você vira um número perdido no meio de tantos outros dados, eu não tenho problema nenhum em descobrir um problema seu e vender para uma empresa. E isso coloca problemas existenciais da ideia do que se tem de humano, como a ideia de privacidade, empatia e cuidado com o outro”, declara.
Filme atemporal
As mudanças anunciadas pelo filme e as reflexões que ele provoca são elementos importantes e que tornam Matrix atemporal, segundo Michel.
“Os filmes clássicos abrem possibilidades e arquétipos da nossa realidade. Você pode visitar o Matrix hoje e visitar ele daqui a 30 anos e encontrar as mesmas questões que a gente encontra hoje. Ele vai estar vivo sempre!”, finaliza.