Aos poucos cresce uma consciência de que estamos em uma corrida sem fim para alcançar uma aparência idealizada ou performances físicas e mentais cada vez mais elevadas. Porém, o equilíbrio com relação a esta auto-otimização aparece como uma tendência global, segundo especialistas, assim como a prática de mindfulness e a redução da ansiedade.
O Consumidor Moderno entrevistou Peter Kronstrøm, diretor para América Latina do Instituto Copenhagen de Estudos Futuros, para entender como esta macrotendência da auto-otimização já se aplica ao nosso dia a dia, as reflexões que ela provoca, os impactos da internet na obsessão pela melhora contínua, e quais os passos necessários para que empresas a utilizem na relação direta com consumidores e colaboradores.
CONSUMIDOR MODERNO –Como a auto-otimização se aplica aos dias de hoje e as repercussões desta tendência? E como ela existe no mundo digital?
Peter Kronstrøm–Vejo uma forte mudança no cenário atual onde estamos mudando o macro padrão do que significa luxo. E vemos que o luxo do futuro está cada vez menos vinculado aos bens materiais e cada vez mais ligado aos bens intangíveis, como o melhor Eu ou um melhor mundo. Atualmente, vejo a auto-otimização de várias formas. Cada vez mais fazemos uso de procedimentos cirúrgicos, tatuagens, cabeleireiro, cosméticos; e até yoga intensa, pilates, esportes e educação contínua. A auto-otimização está nos atingindo por todos os lados, desde o físico e estético até o interno e religioso.
Atualmente, vemos, por exemplo o biohacking (experimentação biológica (como edição de genes ou uso de drogas ou implantes) para as capacidades de organismos vivos) que está acontecendo no Vale do Silício.
CM–Você sente que a internet intensificou a obsessão pela busca das pessoas por uma melhora desenfreada da auto-imagem?
PK–Com certeza. As redes sociais aumentaram a opressão para que cada um nós sejamos perfeitos ou com a responsabilidade de sermos o melhor Eu. Vemos outras contra-tendências que dão valor ao que não é considerado belo. E quando se fala que a auto-otimização virou o novo luxo, isso pode criar uma nova polarização porque isso está vinculado ao nível educacional, cultural e fica mais difícil de copiar a felicidade do que copiar uma Mercedes.
CM–Você acha que a consciência da auto-otimização de trabalhar o próprio corpo vem justamente para deixar de olhar para o outro e olhar mais para si?
PK–Se olharmos para os próximos dez anos teremos novas linhas de consumo vinculadas a esta linha de auto-otimização, mas cada vez menos vinculadas estritamente ao físico e realmente focadas em saúde. Se temos o reconhecimento que viveremos mais, isso muda o nosso cenário no presente para ter prática saudáveis, quando ao invés de pensar que vamos viver 80 anos, viveremos 160 ou 180 anos. Será um foco no bem-estar físico também vinculado com longevidade.
CM–Você diria que a auto-otimização também é uma tendência de questionar os padrões?
PK–Sim, mas com o cuidado de não pegar uma corrente de pensamento que daqui a cinco anos será mostrada que não serviu para nada. Precisamos olhar mais para as nossas raízes. Por exemplo, o jejum. Esta é uma prática religiosa que está presente em todas as religiões conhecidas. Por quê? Porque provavelmente existe um fator positivo para a saúde ao realizar o jejum. Isso combinado com a sociedade do conhecimento que está descobrindo mais, mas com olhar para trás e o que os nossos ancestrais praticavam.
CM–Como você acha que as empresas podem incentivar a auto-otimização com os colaboradores e quem tem uma relação direta com a marca? Quais políticas seriam necessárias?
PK–Existem dois macro padrões que as empresas precisam atender. Se você quiser ter sucesso com o consumidor do futuro são necessárias duas coisas: liberar o tempo do consumidor e colaborador para que ele se auto-otimize em construir um melhor Eu e estar junto nesta jornada, facilitando a vida. A gente fala que o próximo passo do branding será a intimidade. Os negócios precisam estar tão próximos do consumidor que entram no espaço íntimo dele para ajudá-lo no seu auto-desenvolvimento. Mas aí vem uma responsabilidade imensa e o lado do abuso, porque se você conhece o seu consumidor intimamente abre o espaço para manipulação.
CM–E os consumidores estão cada vez mais conscientes deste ambiente?
PK–Sim, estão cada vez mais conscientes. Mas apontamos para o cuidado com a polarização, pois vão existir consumidores que vão ser manipulados. E cada vez mais existirá uma elite mais destacada em termos de saúde e precisamos evitar que isso aconteça.
*Com colaboração de Dimas Ribeiro.