Quem não gostaria de saber qual será a totalidade dos efeitos da pandemia no mundo? É preciso esperar anos até entendermos como a vida será depois que a humanidade reparar a tragédia da Covid-19. Mas já passaram dias o suficiente para se ter uma ideia dos abalos da pandemia sobre o setor de infraestrutura no longo prazo.
Em seu relatório “Tendências Emergentes no Setor de Infraestrutura”, a KPMG elencou a principais tendências ao setor de infraestrutura para os próximos anos, considerando os efeitos da pandemia. O relatório traz reflexões de como cada uma delas evoluirá e as oportunidades a serem criadas em transporte, energia, telecomunicações e saneamento ambiental para o desenvolvimento socioeconômico nas cidades.
“A Covid-19 definiu em 2020 que o crescimento está atrelado à sustentabilidade e resiliência, e o setor de infraestrutura precisa adequar-se às novas oportunidades para conseguir atender a todas as demandas”, comenta Leonardo Giusti, sócio-líder de Governo, Infraestrutura e Saúde da KPMG.
Confira a seguir 10 tendências moldadas pela pandemia que influenciarão o setor de infraestrutura nos próximos dez anos:
1. Incerteza tornando planejamentos mais complexos
Os abalos da pandemia tendem a exigir cadeias mais robustas e complexas em diversos setores, além de planos reservas por parte de empresas e governos para prever e prevenir situações. Há uma tendência de empresas com cargos inéditos como chefe de preparação, com foco em respostas rápidas.
No setor de infraestrutura, a partir deste ano, espera-se que os planejadores, operadores e desenvolvedores também devem procurar maneiras de possibilitar uma abordagem muito mais ágil e flexível para a elaboração, desenvolvimento e entrega. Segundo o relatório, é praticamente certo que reconstruir melhor resultará em evolução e aperfeiçoamento.
2. Cidades passando por crise de identidade
Dada a forte tendência de reformulação dos espaços físicos pelos próximos anos por conta da pandemia, é difícil prever como os padrões de vida e trabalho evoluirão, mas já está claro que o foco geral em segurança, tempo e conveniência está diversificando os padrões. Enquanto alguns cidadãos esperam retomar uma vida de deslocamentos e viagens entre bairros comerciais e residenciais, outros deixam as grandes cidades em busca da “cidade de 15 minutos”, ou condição de vida de proximidade entre moradia, trabalho e diversão.
3. Fronteiras se tornando reais novamente
A migração atingiu o nível mais baixo de todos os tempos com a pandemia. Os portos e aeroportos perderam volumes comerciais diante da dependência da indústria e do comércio de usuários finais. Segundo o relatório, eles tendem a se voltar mais às commodities principais, e assim levar de dois a três anos para voltar aos níveis pré-pandemia.
4. Redes de suprimentos em reformulação
Mudanças no ritmo das cadeias de suprimentos de infraestrutura e construção são esperadas para este ano. Tais reformulações devem aumentar à medida que as organizações investem e os desenvolvedores começam a rever os fatores que influenciam as estratégias de fornecimento.
Assim, segundo a KPMG, mais investimentos direcionados ao fortalecimento da cadeia de abastecimento devem acontecer tendo em vista a reavaliação das necessidades de suprimentos e redes. Alguns agentes do setor podem seguir a tendência de buscar novas tecnologias para ajudar a reduzir a dependência de fornecedores de nicho.
5. Novos modelos de financiamento no mercado
O setor de infraestrutura tem visto novas opções de financiamento nos últimos anos – o que colaborou para sua solidez, segundo a KPMG. Assim, a capacidade de aproveitar diferentes fontes de financiamento (capital institucional e fundos sustentáveis, bancos locais e regionais, mercados de capitais) deve levar a uma riqueza de capital a preços competitivos.
Ao longo deste ano, portanto, espera-se que os investidores busquem oportunidades de retorno a longo prazo, sustentáveis e protegidos contra a inflação.
6. Reconstrução mais verde e justa
A pandemia coletivizou o desejo de reconstruir do zero com sustentabilidade e bem-estar, além da vontade de reparo de desigualdades e os desequilíbrios coletivos. Por isso, o relatório aponta que para este ano o setor de infraestrutura fique sob pressão do foco nos resultados ambientais, sociais e de governança. Em outras palavras, a alta do ESG também chega ao setor de infraestrutura.
7. Resiliência galgando posições na agenda
O relatório lembra que, há exatamente um ano, o Fórum Econômico Mundial divulgou uma avaliação com riscos para o ano sem citar a pandemia. Em vez disso, a principal menção foi risco ambiental. Embora a Covid-19 tenha extrema importância, governos e agentes do setor de infraestrutura devem manter foco na resiliência das infraestruturas diante dos riscos climáticos.
Portanto, para este ano, espera-se que os proprietários, planejadores e reguladores de infraestrutura reavaliem cada vez mais a resiliência dos ativos.
8. Mundo digital ficando mais seguro
As administrações públicas devem sinalizar sua prioridade à capacidade de entrega em um mundo digital, o que inclui aspectos relacionados ao acesso à internet, largura de banda e aplicativos habilitadores, como serviços de pagamento seguro e emissão de bilhetes de transporte público. Segundo o relatório da KPMG, esses são fatores fundamentais à economia e sociedade, e são essencialmente influenciados por investimentos em infraestrutura.
Assim, para este ano, é esperado um aumento de atenção com conectividade, já que em breve os governos “começarão a reconhecer que devem abordar os déficits crescentes na infraestrutura digital”, diz o relatório.
9. Reformas se tornando imperativas
O relatório da KPMG aponta que as expectativas sociais foram redefinidas com a pandemia. Novas formas de trabalhar foram adotadas, por exemplo. Sendo assim, empresas e cidadãos esperam ter novas maneiras de interagir com serviços públicos. Com relação à infraestrutura, os agentes do setor e os governos têm oportunidades para reformar seus atendimentos tendo em vista a inovação e a experimentação de novidades que surgem atualmente.
10. Governos procurando mais parcerias
De acordo com a KPMG, há anos o setor privado vem assumindo um papel mais ativo na entrega e operação de ativos e serviços de infraestrutura, com relevância crescente na captação, no financiamento e no fornecimento da infraestrutura governamental. Para este ano, esta relação deve evoluir com governos considerando não apenas o papel que o setor privado desempenha na entrega de ativos de infraestrutura, mas também na entrega de serviços.
De acordo com o relatório, em alguns casos, as parcerias serão necessárias muito por conta do ônus da pandemia aos governos, que buscarão modelos alternativos. Em outros, novas parcerias serão motivadas mais pela inovação e desejo de entregar mais às partes interessadas.