Após os fatos registrados nessas últimas semanas, o País exibe uma notável resiliência. Estamos anestesiados diante de tantos descalabros? Os escândalos em sequência, um sempre mais espantoso que o outro, já não causam nada além da indignação do sofá? Ou seja, diante do fato basta que publiquemos qualquer comentário na rede social mais próxima para marcarmos posição. Ou então, se fizermos parte dos grupos de baderneiros sociais, basta provocar algum tipo de violência que redunde em reação policial para também ganhar as redes sociais com o discurso de “repressão”, num exercício de nostalgia de anos rebeldes.
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Acima de tudo, vemos apenas a debilidade das ideias em circulação. O País, quase monotemático, meio em transe pela desconstrução do sistema político, parece tentar tocar a vida fingindo normalidade. Analistas exclamam indignação e destilam frases de efeito para demonstrar a inviabilidade do poder de ocasião. “O Presidente tem que cair”, exclamam, como se apenas vontade pudesse provocar mudanças sem qualquer respeito a ritos constitucionais.
Claramente, há um choque entre um Brasil que persegue um marco civilizatório e aquele acostumado ao conchavo, à mesquinhez política e aos laços de interesses escusos, afeito às soluções simples, tomadas no afã de agradar ao senso comum. Normalmente ceder ao senso comum é prenúncio de problemas.
Desse choque, talvez sobrevenha um País melhor ou provavelmente pior. Há muito apelo pela solução mágica, instantânea, a “canetada salvadora”. O Brasil sofre da síndrome da recompensa imediata. Quer que tudo se resolva rapidamente. Nada da complexidade atual pode e deve ser resolvido rapidamente. Este é um processo longo, que traz na essência uma mudança cultural.
E os dias seguem. Estamos todos vivendo a normalidade enquanto o sistema de poder se decompõe. As instituições funcionam, as empresas produzem, algumas engavetam planos, outras esperam um cenário mais claro, outras se reposicionam, indiferentes ao Brasil que gosta de se sabotar.
Enquanto um cenário favorável nos acolheu e permitiu que negócios se desenvolvessem exibindo números fabulosos, a doença da alienação mascarou ineficiências e práticas. Algo incomodava? Bastava ir à Brasília e barganhar alguma MP, Lei ou Decreto para anabolizar um segmento em necessidade. Criamos uma cultura de “meia-entrada”, que sabotou a dinâmica própria de competição e produtividade. O Brasil cresceu sem produzir. O resultado está aí.
Agora exibimos nossa contrariedade com a “situação”, aquela cultura de vitimização tão peculiar a nós mesmos. Na verdade, somos vítimas de nossa vitimização, de nossa indisposição em trabalhar duro para produzir mais, ser mais eficiente, inovar de fato, ser melhor, sem depender de leis específicas. Ao mesmo tempo, gostamos de enfatizar nosso despreparo e nossas mazelas, talvez sintamos prazer no derrotismo.
Essa crise provocada ou escancarada pelos açougueiros mancomunados com a politicagem rasteira que iludiu o país vai passar. Esperamos apenas que mais empregos e empresas, ideias e projetos, investimentos e iniciativas não passem junto.
O Brasil que é vítima de si mesmo não pode mais perder tempo. Nem se dar ao desatino de perder tempo discutindo tolices como eleições diretas já. Melhor pensarmos em reformas já.
Vítimas de nós mesmos
Somos vítimas de nossa vitimização, de nossa indisposição em trabalhar duro para produzir mais, inovar de fato, sem depender de leis específicas
- Jacques Meir
- 3 min leitura
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