Um dos eventos mais curiosos, diversificados e intrigantes do mundo atualmente – e já há algum tempo – é o SXSW ou South by Southwest. Anualmente, a cidade de Austin, no Texas, sedia este evento que combina música, tecnologia, cinema, cultura e comportamento. Uma convergência de indústrias variadas que nutre e inspira profissionais envolvidos com criatividade, e que fazem do SXSW um destino indispensável para descobertas e surpresas.
O fato do evento acontecer em Austin, uma cidade do Texas, repleta de edifícios admiráveis de concreto e vidro e muitos bancos – talvez por conta da força das indústrias de petróleo na região – causa estranheza. Há uma energia interessante aqui, como se além da convergência de conteúdos, há também uma deliciosa convergência de propósito. As pessoas aqui entendem que este é um evento no qual se discute o bem comum, onde a liberdade e a criatividade são forças motrizes para fazer a diferença.
Estou aqui em Austin para cobrir o evento para as plataformas NOVAREJO e Consumidor Moderno, incluindo revistas, sites e mídias sociais. A ideia, como sempre, é colocar uma lente, uma perspectiva mais estratégica capaz de traduzir para a realidade brasileira toda essa convergência de estímulos criativos. O Brasil precisa de muita inovação para sair da armadilha em que se enfiou, dopado de consumismo destrambelhado, esperanças de grandeza vã e promessas de populismo temporão.
De cara, algumas características do local chamam atenção. Primeiro, o quanto as pessoas aqui são amáveis. Nas mais diversas lojas, sorrisos, generosidade, interessa por servir são a regra. Depois, o fato da música ser um elemento cultural muito presente, um traço da identidade e do orgulho locais talvez tenha sido o elemento que impulsionou o SXSW aqui na região.
Por trás da simpatia, em contraste com a frieza séria dos edifícios dos grandes bancos, há toda uma indústria regional, baseada em artigos orgânicos, veganos, reciclados. O plástico aqui não tem vez, nas sacolas – todas de papelão, com alças ou de tecido (!) – e nem nos óculos, com armações legais de madeira(!).
Esse ar retrô combina com as lojas que exibem artigos e artefatos de material rústico-chique. A Urban Outfitters, loja queridinha de moderninhos e consultores (mesmo com um resultado desapontador ano passado), é realmente bastante agradável. Trabalha propositalmente esse ar vintage e mostra orgulhosa uma coleção de vinis – de artistas contemporâneos inclusive, como Adele – e vitrolas, todas cercadas por madeiras, em meio a roupas com cara descolada-chique.
Outra loja interessante é a Royal Blue Grocery. Uma rede com uma pegada mais rústica, local e orgânica que a da famosa Whole Foods. Muitos vinhos legais, cookies, temperos, lanches, saladas, sanduíches – com frescor, qualidade e cuidado na apresentação. A loja é um ambiente tranquilo, amistoso, Wi-Fi grátis e chocolates incrivelmente diferentes.
Ou seja, deixando de olhar para cima e colocando a vista no nível das ruas, aprende-se que Austin tem sim, ambiente para ser a cidade de um evento como o SXSW. Ela tem a inovação baseada na simplicidade, no resgate de símbolos que se conectam com a cultura e a identidade local. O rock é quase uma religião por aqui, assim como o jeans. As pessoas andam de jeans, quase todas, em toda parte. E as lojas abusam de designs e modelos incríveis da calça. Por toda, a informalidade está presente. Mais do que ela, uma espécie de confiança intrínseca que aproxima as pessoas, independentemente de sua origem, cor, classe social. E sabemos que a inovação floresce onde há confiança.
Talvez o Brasil precise olhar com carinho para o que acontece nas ruas – inclusive aquelas onde a violência exacerbada afugenta as pessoas e motiva que se enclausurem por livre vontade – e busque respostas para se reinventar como nação. A beleza de Austin é saber fazer conviver diferenças: bancos e música, rock e tecnologia, inovador e tradicional. Uma receita que poderia fazer bem ao Brasil.
Vamos discutir muito esses aspectos e outros, principalmente inovações e inspirações nessa cobertura do SXSW. Convido você a participar e a interagir conosco aqui em NOVAREJO e também em Consumidor Moderno, Consumidor Consciente, B2B Magazine, Portal Call Center e redes sociais.
*Jacques Meir é Diretor de Conhecimento e Plataformas de Conteúdo do Grupo Padrão