O Brasil é um dos países que mais consomem carne. De acordo com dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o país ocupa o 5º lugar no ranking mundial, com um consumo per capita médio de 78 kg por ano. Uma pesquisa inédita feita pelo Ibope e encomendada pelo Good Food Institute Brasil, no entanto, revelou que quase metade (47%) dos brasileiros reduziu o consumo de carne em 2020.
Além do aumento no preço da carne, outro fator colaborou para essa redução: o interesse crescente por pautas ligadas ao vegetarianismo e ao veganismo. O mercado, é claro, já está de olho nessa tendência, e não faltam oportunidades para quem investe nessa área.
Sem carne, sem crueldade
A última pesquisa Ibope sobre o assunto, realizada em 2018, aponta que cerca de 30 milhões de brasileiros são vegetarianos. O resultado indica um crescimento de 75% em relação a 2012, quando cerca de 8% da população se declarou adepta do vegetarianismo.
Na esteira do vegetarianismo, outra corrente vem ganhando força: o veganismo, que exclui por completo o consumo de qualquer componente de origem animal, em esferas que vão além da alimentação.
Vegana há quatro anos, a publicitária Renata Fukuda conta que a transição alimentar, ao contrário do que muitos podem pensar, foi simples. “Sempre tendi ao vegetarianismo por ser intolerante à lactose e por não gostar de mexer em carnes. Então, mesmo cozinhando, optava muitas vezes por não comer.”
A maior dificuldade, segundo Renata, veio quando ela decidiu fazer a transição para o veganismo. “Percebi que não bastava tirar a crueldade somente do meu prato. Ainda tinha muita coisa na minha vida que eu usava ou fazia que explorava animais, e meu coração já não estava contente com isso. Na época, eu tinha um blog sobre beleza e vivia disso. E adivinha? Todas as marcas com que eu trabalhava realizavam testes em animais. Foi bem difícil me reinventar profissionalmente. Cortar os laços com aquela ‘antiga vida’ demorou um pouco, mas depois que aconteceu, foi libertador”, diz.
Renata, que atualmente conta com mais de 26 mil seguidores em sua página no Instagram (@umbigosemfundo), diz que, cada vez mais, percebe o interesse crescente das pessoas pelo assunto, e destaca a importância das redes sociais nesse processo. “Hoje temos criadores de conteúdo que desmistificam o veganismo e mostram como é simples, fácil e libertador, além de muito possível retirar a crueldade animal das nossas vidas”, comemora.
Negócios sustentáveis
O número cada vez maior de pessoas em busca de produtos livres de crueldade e de insumos animais foi um dos motivos que levou a farmacêutica Carina Zampini a montar a primeira farmácia de manipulação vegana do Brasil, a Vegan Pharma.
Há cerca de 5 anos, Carina enfrentou uma série de restrições alimentares para conseguir amamentar a filha recém-nascida, que era alérgica a múltiplos alimentos. Pesquisando opções de receitas que se adequassem ao seu momento de vida, a farmacêutica descobriu o universo do veganismo e se encantou. “Foi aí que percebi que a melhor forma de retribuir a essas pessoas por toda a ajuda que recebi, era oferecendo o que eu mais sabia fazer: fórmulas manipuladas. Sempre fui empreendedora, e aliei a gratidão que tinha pelos veganos à minha visão empreendedora de perceber que ainda não existia uma empresa farmacêutica com esse foco”, conta.
Inicialmente, Carina, que já era dona de outra farmácia de manipulação, desenvolveu uma linha exclusiva de medicamentos 100% veganos. A busca crescente pelos produtos nesses últimos anos fez com que a empresária focasse, agora, na criação da Vegan Pharma. A loja na capital paulista deve inaugurar em breve, e vai oferecer não apenas medicamentos, mas também itens de higiene pessoal e cosméticos veganos.
A farmacêutica destaca que os produtos veganos servem para qualquer pessoa, além de melhorar a qualidade de vida dos humanos, reduzir o risco de desenvolver doenças e beneficiar o meio ambiente. Para ela, não há dúvidas: o futuro é vegano. “A pandemia veio para acelerar e reforçar ainda mais a importância de os seres humanos não consumirem mais carne. O nosso planeta não sobrevive mais ao nosso ritmo de consumo, e o ser humano é inteligente o suficiente para entender tudo isso e fazer a diferença acontecer”, conclui.
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