O trabalho remoto, antes utilizado por relativamente poucos, tornou-se regra no mundo corporativo no último ano por conta da pandemia. Os primeiros momentos foram de adaptação e os questionamentos mais comuns eram: como organizar a rotina dentro de casa? Como lidar com filhos, familiares, tarefas domésticas e a reunião com o chefe? E a produtividade, como fica?
Depois de um ano utilizando serviços de comunicação por vídeo para fazer reuniões e mais uma série de programas e aplicativos para manter o trabalho em dia a dúvida é outra: será que o formato chegou para ficar?
O que mudou depois de um ano
A adaptação nos primeiros momentos do home office exigiu resiliência de empresas e funcionários. Afinal, muitos nunca haviam sequer cogitado trabalhar com o formato em suas empresas. Um levantamento da consultoria EDC Group mostrou que cerca de 62% das pessoas nunca haviam trabalhado de casa e tiveram sua primeira experiência na pandemia.
Para fazer essa transição, muitas se espelharam nas grandes: Google, Facebook e Amazon, outros nomes, principalmente do setor de tecnologia, que há alguns anos já alardeavam o estilo de trabalho diferenciado, com horários mais flexíveis e possibilidade da execução de funções à distância.
Diante do esforço para adaptação e entendimento das vantagens do trabalho remoto, muita gente pode até ter achado que o formato seria algo definitivo nas empresas, mas passado mais de um ano do início da pandemia, o cenário mostra que a distância está para ser encurtada.
No último dia 10 de junho, por exemplo, a Amazon anunciou a seus funcionários que seguirá com o modelo de trabalho híbrido, ou seja, uma mistura entre remoto e presencial. Nesse caso, funcionários corporativos poderão ir ao escritório por três dias e trabalhar remotamente outros dois. Entretanto, algumas funções terão que ser executadas presencialmente. Os funcionários também terão direito a quatro semanas por ano de trabalho totalmente remoto.
E a gigante de Jeff Bezos não está sozinha nessa: Google, Facebook e Apple já anunciaram que também seguirão com o formato de trabalho híbrido com seus funcionários. O Twitter, apesar de permitir o trabalho remoto integral para os que desejarem, também lidará com o formato mesclado.
Aqui no Brasil, o mundo corporativo parece seguir o mesmo caminho: a XP Inc., do mercado financeiro, deu a possibilidade de seus funcionários optarem pelo trabalho 100% remoto ou híbrido e anunciou, ainda, a construção da Villa XP, um campus da empresa fora de São Paulo.
O formato híbrido de trabalho
Mariana Gutheil é CEO da No One, empresa de inovação e estratégia de negócios que adotará o modelo híbrido de trabalho após a possibilidade de retomada do trabalho presencial. Para ela, o formato pode trazer inúmeros benefícios tanto para a empresa quanto para os colaboradores.
“Nós escolhemos seguir com o formato híbrido por alguns motivos principais. O primeiro é a possibilidade de trabalhar com pessoas em diversas partes do Brasil e do mundo, o que permite diferentes visões culturais dentro da empresa, algo que consideramos essencial, já que trabalhamos com inovação e estratégia”, aponta.
Outro ponto de destaque para ela é a flexibilidade para os colaboradores, que podem montar a rotina de maneira mais livre. Isso também atrai talentos e diversifica o quadro de funcionários, o que é visto como positivo.
Todos esses pontos já estavam sendo vistos no trabalho remoto. Por que, então, abrir os escritórios novamente? De acordo com Mariana Gutheil (e o que também pode ser observado nas falas de CEOs das grandes empresas de tecnologia citadas anteriormente), o trabalho remoto trouxe pontos positivos, mas também teve seus desafios.
Entre eles, é possível citar a sensação de isolamento total, já que também não era possível sair de casa para atividades sociais. Isso também levou a um cansaço das telas por conta da falta das microinterações que aconteciam no escritório, como aquele momento do café com os colegas de trabalho e que, muitas vezes, já levava a insights.
Para Mariana Gutheil, a retomada dos escritórios não tem o teor de obrigatoriedade, mas sim de opção para os que estiverem cansados de ficar em casa e queiram estimular a criatividade e trocar ideias com outras pessoas, presencialmente, e não pela tela. “Não vamos obrigar as pessoas a irem para o escritório, exatamente para aproveitar as possibilidades de pessoas trabalhando de outros locais, estamos vendo o trabalho presencial como possibilidade, para irem quando for interessante e necessário”, explica.
Preparando-se para o modelo híbrido
Para conquistar todos os pontos positivos do formato híbrido, entretanto, é preciso preparar a empresa para atender às novas necessidades. Por exemplo, se o formato é híbrido, é preciso que todos tenham acesso às mesmas informações e processos, seja trabalhando em home office, seja trabalhando no escritório.
“Isso é primordial. Os processos precisam ser pensados de maneira online e remota e com possibilidade de serem acessados presencialmente, e não o contrário, como acontecia anteriormente. Se não, haverá obstáculos no caminho que irão atrapalhar o trabalho”, diz Mariana Gutheil.
Um outro detalhe salientado pela CEO da No One é o entendimento e a organização na empresa levando em consideração o trabalho síncrono e assíncrono. No primeiro, é preciso que as pessoas estejam trabalhando no mesmo momento, enquanto no segundo é possível que cada pessoa faça sua tarefa quando achar melhor, desde que entregue no prazo determinado. Mesmo no home office existem momentos de trabalho síncrono (como as reuniões) e assíncrono.
“O modelo híbrido tem muito a ver com o entendimento de dois tipos de trabalho. Essa percepção e inteligência de quando cada modo será utilizado é preciso ser estudado com carinho. Do último ano para cá focamos nossos esforços também nesse entendimento, para possibilitar o trabalho híbrido”, afirma.
O modelo híbrido, portanto, é visto como um formato cheio de pontos positivos para o momento pós-pandemia para inúmeras empresas do mundo corporativo. Mariana Gutheil salienta que está sendo uma descoberta para todos, já que grande parte das empresas nunca havia trabalhado nem em home office nem com uma mistura de presencial com remoto.
“Todas as empresas tiveram que se adaptar. Essa foi a solução que encontramos no momento, considerando os benefícios para os colaboradores e para as empresas. Também achamos importante ter um diálogo aberto com os funcionários para entender se e quando novas mudanças serão necessárias”, finaliza.
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