O TikTok anunciou algumas medidas para limitar o uso do aplicativo por adolescentes. A principal dela é o controle do tempo de tela para menores de 18 anos, que só poderão acessar a rede social por 60 minutos por dia.
As mudanças foram anunciadas após uma série de críticas feitas por pesquisadores aos efeitos nocivos do uso excessivo de redes sociais ao cérebro de crianças e adolescentes. Um estudo publicado pela revista científica NeuroImagem em 2022 identificou que assistir aos vídeos recomendados pelo aplicativo gera um excesso de dopamina no cérebro, semelhante ao efeito de vício.
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O TikTok afirmou em nota oficial que “adolescentes precisam de apoio extra quando começam a explorar a internet de forma independente”, e por isso decidiu implantar medidas de controle que estarão disponíveis já nas próximas semanas. No caso do tempo de tela, após uma hora será necessário inserir uma senha para continuar a usar o aplicativo. Segundo a mídia social, desta forma o usuário menor de 18 anos precisará tomar ativamente uma medida para continuar a usar a plataforma.
O TikTok também passa a contar com um medidor de quantidade de tempo que cada usuário passa no aplicativo, similar ao que já existe no Instagram, e a listar a quantidade de vezes em que o app foi aberto. Além disso, as notificações para usuários entre 13 e 15 anos serão automaticamente suspensas a partir das 21h, e para os adolescentes de 16 e 17 anos às 22h.
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As medidas e o tempo tido como o mais próximo do limite ideal para a faixa etária foram decididas após consultas com especialistas do Laboratório Digital Wellness do Hospital Infantil de Boston e da análise de pesquisas acadêmicas recentes.
“Acreditamos que as experiências digitais devem trazer alegria e desempenhar um papel positivo na forma como as pessoas se expressam, descobrem ideias e se conectam”, disse Cormac Keenan, head de confiança e segurança do TikTok no comunicado.
A explosão das mídias sociais nas últimas duas décadas é acusada de contribuir para uma crise de saúde mental entre os jovens, dizem especialistas. A pesquisa também indicou que limitar o tempo de tela pode fazer os jovens se sentirem melhor consigo mesmos.
Em janeiro deste ano, escolas públicas americanas entram com ação para responsabilizar redes sociais por danos à saúde mental de crianças e adolescentes. A ação mira TikTok, Meta, Snap e outras empresas para responsabilizar as plataformas de mídia social pelo excesso de estímulos para que crianças e adolescentes se mantenham conectados, o que pesquisas apontam que pode interferir na percepção de si mesmos e do mundo, especialmente no caso de pessoas em formação.
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Boas medidas, mas ainda insuficientes
Para o neurocientista Fabiano de Abreu Agrela, as mudanças são benéficas para os adolescentes, mas as medidas ainda são bastante limitadas e pouco eficazes.
“Aparelhos eletrônicos como um todo, mas em especial as redes sociais se usada por um longo período podem ser bastante perigosas para o desenvolvimento adequado do cérebro dos adolescentes, pois os deixa em um estado de ‘passividade’ onde pouco aprendizado é adquirido e o cérebro não faz os esforços necessários para seu desenvolvimento através da neuroplasticidade, o que é fundamental nas idades anteriores aos 18 anos”.
“As medidas apresentadas pelo Tik Tok são um início importante, mas ainda não causam impactos relevantes nesse processo, pois a idade é autodeclaratória, o que faz com que seja muito fácil o sistema ser burlado, já a exibição do tempo de tela pode dar um ‘choque de realidade’, pois muitas vezes os usuários perdem a perceção do tempo ao usar esses aplicativos”, avalia o neurocientista.
Linda Charmaraman, pesquisadora sênior do Wellesley Centers for Women, disse à TV pública americana, NPR, que os limites parecem ser um esforço de boa-fé do TikTok para regular como os jovens usam o serviço da empresa.
“Acho que é realmente um passo interessante para uma empresa de mídia social finalmente acordar para o apelo do público para colocar alguns controles para mostrar que eles não estão apenas [passando] o máximo de tempo possível em seus aplicativos, mas máximo de cliques possível em seus aplicativos”, disse.
Já para Agrela, “no fim, o principal é o esforço individual e o autocontrole para evitar excessos e utilizar a tecnologia de forma inteligente, para os adolescentes, é fundamental que os pais os conscientizem disso desde cedo”, alerta o neurocientista.
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