O movimento da moda sem gênero já vem acontecendo há algum tempo no mercado fashion, inclusive no brasileiro, mas a chegada da Geração Z ao posto de consumidores principais dos próximos anos acelerou certos processos. Entre eles, o de tornar o varejo de roupas Genderless, ou seja, mais fluído quando o assunto é gênero. Essa tendência de mercado foi identificada pela Wunderman Thompson Company, agência e consultoria de tecnologia, lifestyle e comportamento.
O varejo sem gênero, como é chamado, não deve mais se apresentar apenas no estilo das roupas em si, segundo a consultoria, mas também nos layouts das lojas, nas comunicações das vendas online e design, que estão saindo do convencional. Um exemplo recente que prova esse movimento é a coleção-cápsula criada pela grife Stella McCartney.
Lançada em agosto deste ano, a linha (em inglês, algo como compartilhado) traz peças de roupas mais utilitárias, como moletons ou casacos, que podem ser usados sem ter que escolher entre modelos masculinos e femininos. O apelo principal desta linha é a sustentabilidade, já que as peças são feitas com algodão 100% orgânico. A paleta de cores neutra também facilita as combinações e, com isso, a inclusão.
Vale lembrar que a ideia é acertar precisamente a GenZ como público-alvo, já que esta é a geração mais fluída quando o assunto é identidade, e que tem outras preocupações, entre elas a climática. Apesar da Stella McCartney ter no DNA a questão da sustentabilidade desde sempre, o lançamento da marca claramente está antenado com o momento em que vivemos, muito impactado pela pandemia de Covid-19, onde os valores e os propósitos de marca se tornaram essenciais para atrair a atenção das pessoas.
Sem gênero e sem coleções definidas
Outro fator para a tendência do agênero se firmar, segundo outra consultoria chamada Kalypso, é a presença do novo coronavírus, ainda sem controle, impactando a economia dos países. Nesse sentido, é interessante ter produtos que possam durar mais – ou seja, que não obedeçam necessariamente estações do ano, temáticas ou gêneros. Eles podem permanecer mais tempo à venda e atendem a outras expectativas, como a de terem melhor qualidade ou serem mais sustentáveis.
“Para varejistas que enfrentam dificuldades financeiras durante a pandemia, um modelo sem gênero também tem seus benefícios”, diz o relatório da Wunderman. Esse é o raciocínio também da marca de roupas The Phluid Project, nova-iorquina que aposta em coleções de produtos agêneros e já se tornou conhecida por isso. O fundador da marca, Rob Smith, já declarou que suas roupas são neutras e, com isso, ele não precisa de espaços separados para homens e mulheres nas lojas ou no e-commerce, por exemplo.
Quebrar a visão binária no varejo de roupas não é só algo de marcas mais descoladas como a nova-iorquina. Outras bem conhecidas, como a grife de luxo Gucci, estão abraçando a ideia do neutro em diversos produtos de suas coleções. Foi lançada, inclusive, a linha MX, colocada à venda a partir de julho de 2020, que traz artigos como sapatos, acessórios e bolsas de gênero neutro.
Ao final, essa movimentação questiona dois conceitos que estão bem engessados na sociedade: o de masculinidade e de feminilidade. Com o avanço da tecnologia impactando e conectando cada vez mais as pessoas, esses comportamentos estabelecidos anteriormente são questionados. É um pouco desse pensamento que está no site da própria Gucci: “apresentando masculinidade e feminilidade como conceitos relativos”.
Outra que já embarcou nessa tendência é a Adidas, que inaugurou uma loja conceito em outubro voltada para o consumidor da Geração Z. “As pessoas não querem ser definidas pelo que alguém diz ser certo ou não para elas”, disse o vice-presidente da Adidas no Reino Unido, Chris Walsh, para a Vogue Business, segundo explica o artigo da Wunderman. É um novo mundo que se abre para a comunicação, o design e o conceito de fashion. É preciso acompanhá-lo, seja por sustentabilidade, seja por oportunidade de negócio.