Se a sua impressão é que os tentáculos da taxa Selic alcançam a tudo e todos, você está certo. Taxa básica de juros da economia brasileira, ela é usada como referência para diversas operações financeiras, como empréstimos, financiamentos, investimentos em renda fixa e cálculo de vários índices econômicos. Ela é a base de tudo, taxa a partir da qual todas as demais são calculadas.
Além de ser um instrumento de controle da inflação, a taxa Selic influencia diversos comportamentos econômicos e determina o patamar que o governo deseja pagar de juros para quem empresta dinheiro a ele.
“Consideramos que o governo é o agente econômico mais seguro para emprestar dinheiro, por isso ela é tão importante como referência”, fala o professor de economia da Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo (FATEC), Paulo André de Oliveira.
Aqui, você tira dúvidas sobre ela e compreende seus funcionamentos e os impactos que traz a diversos âmbitos da economia.
Como funciona a taxa Selic
Selic vem de Sistema Especial de Liquidação e Custódia, que é o sistema usado para registro e liquidação das operações do mercado financeiro no Brasil, administrado pelo Banco Central do Brasil.
Quem determina a taxa Selic é o Comitê de Política Monetária (COPOM) do próprio Banco Central, que tem como um de seus grandes objetivos estabelecer as diretrizes da política monetária do país. São nove diretores, incluindo o presidente da instituição, que decidem o quanto será a taxa Selic em reuniões que ocorrem geralmente a cada 45. O valor definido vale até a próxima reunião.
Para tomar a decisão, o COPOM leva em consideração diversos indicadores econômicos, como a inflação, o crescimento econômico, o comportamento do mercado financeiro e informações do mercado, entre outros, para decidir se a taxa de juros deve ser mantida, reduzida ou aumentada.
O que influencia no aumento e na redução da taxa Selic
Dentre os diversos indicadores econômicos utilizados pelo COPOM, o mais significativo é a inflação e a expectativa de inflação, uma vez que uma das metas da taxa Selic é buscar o equilíbrio entre o controle inflacionário e o estímulo ao crescimento econômico.
Então, se a inflação e a perspectiva de inflação estão altas, há um aumento na taxa Selic; se a inflação está sob controle, baixa ou em queda, a taxa Selic pode ser reduzida também.
“É importante tentar baixar a taxa Selic até um ponto que chamamos de ponto neutro, ou taxa neutra. Não é vantajoso ter os juros extremamente baixos, pois assim as pessoas deixam de aplicar dinheiro, ou seja, emprestar dinheiro para o governo, que passa a não conseguir se financiar”, explica o professor de economia, Paulo André.
Relação Selic e IPCA
Quando se fala da influência da inflação nas decisões sobre a taxa Selic, estamos falando do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA, que é calculado pelo IBGE considerando famílias que estão na faixa de renda de um a 40 salários mínimos.
O IPCA serve como referência para o acompanhamento da variação de preços dos produtos e serviços consumidos pelas famílias e abrange uma cesta que representa gastos com alimentação, moradia, saúde, transporte, educação, entre outros itens.
Segundo o professor Paulo André de Oliveira, é este o índice utilizado pelo COPOM, pois reflete a “inflação do varejo, das gôndolas do supermercado e do dia a dia de consumo da população”. Diferentemente de outros índices com objetivos distintos, como o IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela Fundação Getúlio Vargas e que verifica os preços nas fábricas, atacados, construção civil, etc.
Taxa Selic e seus impactos
Como já mencionado, a taxa Selic, como taxa básica de juros do país, influencia os mais diversos âmbitos econômicos. Aqui estão alguns especialmente impactados:
No consumo
Taxas de juros mais altas inibem o consumo, uma vez que as prestações a prazo dos produtos ficam mais altas também. Além disso, o cenário com Selic elevada não incentiva os produtores a aumentarem os preços, uma vez que não está havendo vendas significativas.
O professor Paulo André ainda explica que não é somente sobre itens de alto valor, que exigem financiamento, que a Selic tem influência.
“Taxas altas podem gerar desemprego ou perda de renda. Então a influência tem uma amplitude maior, já que no geral as compras menores da família, do supermercado, por exemplo, também precisam ser reduzidas”, diz.
No crédito
Quando a taxa Selic aumenta, há um efeito cascata e as taxas de juros de todo o crédito da economia aumentam também, desde a taxa básica a do cheque especial, do crédito ao consumidor e até de empréstimo imobiliário. Afinal, os agentes financeiros acompanham a Selic.
Nos investimentos
“Aqui, podemos falar tanto de investimento financeiro quanto de investimento produtivo: quando a taxa de juros está elevada, há um incentivo à investimentos no mercado financeiro para receber juros, ao mesmo tempo que as decisões de compra podem acabar postergadas”, comenta o professor de economia da FATEC.
Já quando se fala de investimento produtivo – por exemplo, construir uma fábrica ou loja, aumentar um estoque, etc. – há um incentivo em tempos de Selic mais baixa. “Na alta dos juros, por que um empresário irá aumentar sua fábrica se ganha mais investindo no mercado financeiro? Essa é a lógica”, completa.
Já um terceiro ponto a se considerar é o câmbio. O professor Paulo André explica que muito do dólar vem do exterior ao Brasil devido aos altos juros do país. Assim, a taxa Selic controla também o câmbio, o valor do dólar e o controle da inflação relacionada a ele.
Como agir diante de cada cenário da taxa Selic
Quem tem experiência no mercado financeiro já tem um comportamento anticíclico que considera os valores da taxa básica de juros. Com Selic alta, há uma diminuição do consumo para se aplicar em investimentos; com Selic baixa, volta-se a consumir, seja com financiamento e contração de empréstimos ou não.
“Porém vemos isso mais para pessoas com experiência, não necessariamente no geral da população. E são diversas opções para além do mercado financeiro, pois é possível guardar dinheiro em um momento de Selic alta nem que seja para dar uma entrada melhor depois. O bom senso diz isso: com juros altos, não compre e invista; com juros baixos, compre coisas reais”, finaliza.
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