“Sabe, a vida que eu tinha antes de você eu sabia como tocar – eu poderia seguir com ela para sempre. Mas, agora, olhe para mim. O que eu vou fazer? O que eu vou fazer com tudo isso?”, questiona Erica Barry, personagem interpretada pela impecável Diane Keaton, no filme Alguém tem que ceder (Something’s Gotta Give). Sem muitos spoilers: a frase é dita à sua primeira paixão em décadas, Harry Sanborn, interpretado pelo também irretocável Jack Nicholson. E qual é a relação entre essa citação e sistemas legados?
Por mais que tenha um contexto romântico, o trecho do filme de Nancy Meyers demonstra também o sofrimento que é sair da própria zona de conforto – sentimento que até poderia ser novidade para algumas empresas até alguns anos atrás, mas que, com a pandemia de COVID-19, tornou-se comum e recorrente.
“O que eu vou fazer com tudo isso?” é uma questão que se aplica tanto a modelos de negócio que se mostram obsoletos como um todo – exigindo uma reformulação estrutural – quanto a sistemas que podem ser uma bagagem pesada, ainda que necessária. É o caso dos sistemas legados das empresas: ainda no fim da década de 2010, era comum para a Consumidor Moderno ouvir que o desafio era justamente integrá-lo às novas tecnologias, para alcançar a sonhada omnicanalidade e uma visão única do cliente.
Entre softwares e hardwares, são muitas as estruturas tecnológicas que, por terem sido implementadas há anos ou décadas, não estão adaptadas às tecnologias e padrões atuais. Os exemplos vão desde sistemas baseados em mainframes até sistemas escritos em linguagens de programação antigas ou obsoletas.
Investimentos em TI
- Os gastos mundiais com TI estão projetados para totalizar US$ 4,6 trilhões em 2023, um aumento de 5,5% em relação a 2022, de acordo com a última previsão do Gartner, Inc.
- Até 2025, 51% dos gastos com TI nas categorias de software de aplicativos, software de infraestrutura, serviços de processos empresariais e infraestrutura de sistema terão migrado de soluções tradicionais para a nuvem pública, em comparação com 41% em 2022;
- 65,9% dos gastos com software de APIs serão direcionados para tecnologias em nuvem em 2025, um aumento de 57,7% em relação a 2022.
Fonte: Gartner
De sistema de legado a modernização
Principalmente no caso de empresas que detém e gerenciam uma imensidão de informações – do próprio negócio e dos mais variados stakeholders –, manter, atualizar ou até mesmo substituir sistemas legados é um verdadeiro desafio. A boa notícia é que são justamente essas organizações que estão à frente em termos de tecnologia e, portanto, já reconhecem há tempos a necessidade de estar atentas a esse aspecto, tanto por razões de segurança quanto por ser benéfico para a experiência do cliente.
Um exemplo nesse sentido é o Itaú Unibanco, que começou a sua plataforma tecnológica nos anos 1970, como destaca o CIO da empresa, Ricardo Guerra, em um evento 100% digital que reuniu os copresidentes do Conselho de Administração e o Comitê Executivo do Itaú Unibanco. “Nós tínhamos – e eu estou usando a palavra no passado de propósito – um legado muito complexo, que trazia muita lentidão”, disse o executivo.
Hoje, a evolução dos sistemas já é uma realidade consolidada no banco. “Hoje, eu posso afirmar que mais da metade da nossa plataforma tecnológica está modernizada. Isso significa que a arquitetura, a forma como ela é construída, é muito mais moderna, componetizada – que é como chamamos tecnologicamente –, rodando em nuvem, que é a infraestrutura mais moderna vigente hoje em dia”, detalha o CIO. “Isso nos permite trazer essa velocidade do ponto de vista técnico”.
70% do caminho já foi percorrido
Pedro Moreira Salles, copresidente, revela que 50% da plataforma tecnológica do banco já está em nuvem mas, como a migração não será de 100%, pode-se considerar que 70% do caminho da modernização já está percorrido. Diante disso, os benefícios são muitos. “Isso nos dá uma enorme agilidade, uma capacidade de resposta e de competição, muito maior do que se a gente tivesse ficado preso ao modelo de tecnologia que vínhamos construindo ao longo de décadas – e que gera certos inibidores para o banco poder, de fato, dar a resposta que o cliente exige”, explica o executivo.
Nesse sentido, Milton Maluhy, CEO do Itaú Unibanco, revela que a meta da empresa é atingir 70 pontos em avaliações de NPS, em todos os negócios do banco – hoje, 60% já estão acima desse patamar. Para isso, ele destaca que é fundamental avançar cada vez mais na jornada de transformação da plataforma tecnológica, que acontece por meio da componentização e da “quebra dos monolitos dos sistemas legados”.
A empresa evolui, quem ganha é o cliente
“O nosso Data Lake, onde temos nossos dados, opera 100% na nuvem, fazendo com que sejamos uma empresa data centric, ou seja, uma empresa que olha para dados, trabalha dados o tempo todo”, complementa o CEO. “No fundo, o desafio que a gente tem é transformar um banco para cada um dos nossos clientes e não atender segmentos de forma massificada, mas que cada cliente se sinta individual, se sinta único na relação com o banco”.
Maluhy afirma ainda que o Itaú Unibanco tem desenvolvido muitos trabalhos com Inteligência Artificial e Machine Learning – ferramentas que, ele defende, realmente devem ser usadas em benefício do cliente. “Além disso, para 2023, vamos continuar buscando NPS”, reforça. “Bater 70 pontos não é suficiente, até porque tem negócios que já operam acima de 70 pontos, mas vamos continuar buscando, melhorando a avaliação e aumentando a exigência”.
O raciocínio do executivo deixa claro que existe uma relação direta entre a modernização de sistemas legados e experiência do cliente. “A expectativa do cliente vai mudando, as tecnologias vão avançando e estamos aqui para atuar e avançar todos os dias, o tempo todo”, garante o CEO do Itaú Unibanco.