Em qualquer roda (virtual) de conversa esse assunto aparece: quem está empregado, trabalhando remotamente, tem sentido um aumento no volume de trabalho. E quando isso não ocorre, deliberadamente, por conta das demandas que se acumularam ou ficaram mais irregulares por causa da pandemia de Covid-19, ainda há questões como a cultura da empresa ou o próprio perfil da pessoa. Ser workaholic ainda é algo visto por muita gente como uma característica boa para um profissional. Mas o cérebro não perdoa e quando a mente está cansada, começa a dar sinais que podem – lá na frente – se tornar uma Síndrome de Burnout. Essa estafa que vem atingindo mais e mais pessoas é resultado da soma de vários fatores, entre eles o excesso de volume de trabalho.
Para entender melhor se você precisa dar uma pausa no ritmo atual de entregas e observar seu organismo (e seu comportamento), conversamos com o Dr. Eduardo Perin, psiquiatra pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ele é especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) pelo Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e ajuda a entender se você já está a um passo do burnout e o que precisa fazer para equilibrar melhora relação com o trabalho. Confira.
Fique atento aos sinais
Não é necessário esperar a mente travar por completo para desacelerar e repensar o ritmo de trabalhos ou mesmo a sua relação com os compromissos profissionais e com o ambiente em que está atuando. Antes mesmo do quadro de burnout se configurar, nossa mente dá alguns sinais que devem ser percebidos: “Os primeiros sinais de que você está chegando perto do burnout são: ansiedade, sobressaltos, insônia, sensação de impotência e de estar no limite”, diz o Dr. Eduardo Perin.
Trabalhando em exaustão
Sentiu que não consegue mais estar descansado? Então pare, diminua o ritmo, peça por uns dias de folga. Seguir em um ritmo alucinante de entregas ou compromissos, ainda mais em tempos de pandemia, onde tudo exige nossa atenção de forma nova (e, às vezes, até mais intensa), faz com que o cérebro não aguente. “Continuar trabalhando e exposto a situações profissionais insalubres pode levar o burnout a evoluir para depressão, ansiedade generalizada, pânico, entre outras”, ressalta o psiquiatra. Ou seja, o resultado desse “descuido” pode ser ainda pior para a saúde mental.

Acendeu o sinal vermelho
“As pessoas com propensão ao burnout são perfeccionistas no trabalho e têm um senso de justiça muito forte. Dedicam-se profundamente às tarefas e, geralmente, são promovidos rapidamente por sua destacada performance”, explica o médico. Mas esse comportamento ligado ao perfeccionismo não é mais visto como algo bom. “Essas pessoas passam a receber pressão para produzir mais, passam a valorizar o trabalho acima de qualquer outra coisa na vida e tentam, ao máximo, cumprir as demandas. Por isso, acabam se esgotando completamente do ponto de vista físico e emocional”, explica ele. Quer saber se você está nesse caminho? Siga esses sintomas: “A pessoa começa a ficar mais irritada, intolerante, sarcástica. Tem insônia, se sente muito ansiosa e com problemas de concentração. Tem um cansaço excessivo, tristeza, sensação de injustiça e de inutilidade”.
Cultura da hora extra
“Existe uma cultura no Brasil de que o funcionário deve estar 24/7 a serviço da empresa, sem receber um salário justo. E agora durante a pandemia, existe ainda a possibilidade de se cortar salários e continuar exigindo o desempenho de antes”, comenta o psiquiatra. “Se a empresa exige uma entrega desumana e o funcionário precisa se enquadrar num regime muito intenso, com muitas horas extras sem remuneração adequada, algo precisa ser revisto”, completa ele. É uma questão de saúde mental, termo cujo interesse só cresce nos últimos meses.
Proteja-se da Síndrome de Burnout
Além de desacelerar para valer, outras medidas podem ser tomadas para dar marcha ré nesse caminho de colisão com o muro da estafa mental. Entre elas estão: “seguir uma rotina de sono adequado, com horários de dormir e de acordar, de comer, de atividade física, de boa alimentação. E, muito importante, colocando os limites adequados ao trabalho”, completa o especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental.
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