Ao introduzir o Relatório de Tendências em Tecnologia 2021 que traz insights sobre tendências que vão impactar negócios, governos e sociedade nos próximos cinco anos, a futuróloga Amy Webb lembra que momentos históricos de cataclismos de disrupções levam pessoas ou a querer a volta do normal ou a abraçarem o caos. Se for assim, nos tempos atuais, de que lado você ficaria ao perceber que se estuda cada vez mais a possibilidade de direitos dos robôs?
“Tecnologias exponenciais – inteligência artificial, biologia sintética, supercomputadores, robôs autônomos e missões fora do planeta – estão desafiando nossas suposições sobre potencial humano. Sob confinamento, aprendemos a trabalhar na mesa da cozinha, liderar do nosso quarto e colaborarmos à distância. Mas esta interrupção apenas começou”, afirma Webb.
Desde a pandemia, a disseminação do avanço da robótica tem feito com que passemos a ver robôs desinfetando espaços públicos, medindo temperaturas de pacientes e executando tarefas simples em hospitais e mercados de diversos países. Mas, conforme mostra o Tendências em Tecnologia 2021, a próxima geração de robôs está saindo de ambientes controláveis, como fábricas e espaços comerciais, para desempenhar tarefas que nem os humanos executam.
Confira a seguir dez tendências – apontadas pelo relatório – que os avanços da robótica devem tornar comuns nos próximos cinco anos:
Robots-as-a-Service (RaaS)
A robótica em nuvem se trata de robôs que compartilham dados e códigos – o que dá a eles a capacidade de desempenhar tarefas remotamente. Um exemplo? Veículos sem motorista. Eles são robôs que usam uma rede para acessar mapas, entender informações espaciais e muito mais para que tomem suas decisões. A mesma tecnologia é usada em galpões do e-commerce, como o AWS Amazon Robomaker e os mais de 300 robôs do centro de distribuição da Dafiti. Com a tecnologia, os negócios poderão cada vez mais usar robôs para seleção estratégica em galpões com a finalidade de se anteciparem a sazonalidades, além de terem mais segurança e automação.
Robótica mole
Trata-se de robôs criados para imitar organismos vivos. Desenvolvedores do Instituto de Politécnica de Worcester criaram um robô-cobra que pode rastejar por espaços estreitos. Já pesquisadores da Universidade da Califórnia fizeram um robô de tecido mole que imita a biomecânica de uma arraia, e o Instituto de Biorrobótica da Sant’Anna School fez um robô-polvo com mesma capacidade de movimentar músculos.
Invenções da robótica mole e controladas com ímãs podem controlar dispositivos biomédicos, tirar fotos de dentro do corpo, abrir artérias, levar remédios a partes específicas do corpo e até extrair amostras de tecidos. Esses robôs podem ajudar a explorar ambientes hoje impossíveis de se chegar, como águas extremamente profundas, Marte e mesmo nosso fluxo sanguíneo.
Robôs colaborativos (cobots)
Os cobots trabalham com humanos e outras máquinas. Na China, o setor automotivo tem trabalhado cada vez mais usando o YuMu, da ABB, para montar partes dos carros. Conforme o 5G reduz latência, os cobots tenderão a ser cada vez mais usados nos próximos cinco anos em tarefas repetitivas executadas por humanos, de acordo com a Federação Internacional de Robótica.
Atualmente, institutos de tecnologia e universidades como MIT e Sapienza Universidade de Roma desenvolvem cobots que combinam tecnologia de visão, scanners a laser e um dispositivo tátil sensível ao toque que permite diminuir sua velocidade e força quando interage com um operador humano.
Robôs programáveis de enxame
Pesquisadores do Instituto Wyss e da Universidade de Harvard estão desenvolvendo nada menos que robôs voadores. No futuro próximo, eles poderão montar paredes ou checar diques de represas. O Projeto Kilobots, que já existe, conta com mais de 1.024 robôs para ações programadas conjuntas. O Walmart pediu patente para robôs abelha que distribuirão sementes, na tentativa de compensar a falta de polinização causada pela queda nas populações de abelhas pelo mundo.
Entre as tarefas executáveis por esses robôs estão a inspeção de pontos, construção de estruturas altas ou complicadas e trabalhos de alto grau de periculosidade hoje executado por humanos, como manipulação de produtos tóxicos.
Robôs que se acoplam
O MIT desenvolveu robôs chamados M-Blocs que usam código de barras para se comunicar e movimentarem em conjunto. Em paralelo, a Universidade da Pensilvânia desenvolveu os robôs Smores-EP, que são pequenos robôs no formato de rodas com sensores e câmeras que podem se juntar para levantar objetos. Os pesquisadores da universidade também criaram o Variable Topology Trusses, uma nova classe de robôs que pode se reconfigurar rapidamente. Um robô desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Pesquisa da Georgia e da Universidade de Pequim, por exemplo, pode funcionar como um origami, dobrando e desdobrando com polímero líquido e lâmpadas de LED.
O impacto dessas tecnologias deve chegar à medicina, à indústria, à construção e ter aplicação militar, com robôs funcionando em situações emergenciais em que formam uma escada para resgatar alguém de um prédio em chamas, ou formando uma ponte para áreas alagadas.
Compilados
Os chamados robôs compilados aumentarão produtividade e cortarão custos nos próximos anos ao abreviarem tarefas que demanda tempo dos programadores. A Universidade da Califórnia, o MIT, a Universidade da Pensilvânia e Harvard estão desenvolvendo novos métodos para fabricação de robôs, com sistemas robóticos 3D que obedecem comandos por linguagem simples.
Assim, no futuro próximo, pessoas com conhecimento limitado em robótica poderão esboçar, desenhar, fabricar e controlar robôs que imaginarem ao trabalharem com programações fáceis e simplificadas.
Poeira inteligente
Também conhecidos como sistema microeletromecânico (MEMS), os Smart Dust (poeira inteligente) são robôs minúsculos com sensores para monitorar ambientes, tirar fotos e/ou detectar calor humano e energia.
Parece fantástico, mas esta tecnologia já existe e está se disseminando. Estes robôs nada mais são que os sensores de aceleração dos air bags e os biosensores, por exemplo. Mas de fato estão indo mais além. Cientistas da Universidade da Califórnia (Berkeley) desenvolveram o que chamam de “Poeira Neural”, que são microcomputadores que trabalham por ultrassom remoto enviando e recebendo dados sobre o cérebro. Na Universidade de Stuttgart, na Alemanha, estudiosos arrumaram um jeito de imprimir lentes minúsculas do tamanho de um grão de areia que podem aposentar a invasiva tecnologia endoscópica.
Além da medicina, robôs-partículas poderiam ser soltos ao vento para medir a qualidade do ar ou tirar fotos.
Quadrúpedes comerciais
Esses robôs são bons para terrenos difíceis onde rodas não ajudam – ou lugares impossíveis para humanos se locomoverem. A Boston Dynamics começou a vender estes robôs comercialmente em outubro de 2019, os Spot, que podem mapear ambientes de difícil acesso e interagir com objetos. Esses robôs se guardam e se carregam sozinhos, e a disseminação deles devem ter impacto em áreas como segurança, manutenção, resposta de emergência e militar.
Cachorros de Marte
Atualmente, os robôs explorando Marte têm rodas – são mais próprios para terrenos planos ou ondulados. Para possibilitar a exploração de terrenos extremamente irregulares, a Nasa e a Universidade de McGill estão fazendo uma versão modificada do Spot, o Au-Spot.
Fabricação ética
Uma tendência para os próximos cinco anos é a supressão dos trabalhos análogos à escravidão na indústria da moda em países em desenvolvimento. A automação para fabricação de roupas deve ficar cada vez mais barata e acessível, com fortes chances de eliminar o trabalho forçado e de baixos salários.
A Aliança das Nações Unidas para Moda Sustentável, a Iniciativa Ética do Comércio, a Bluesign Technologies e a Organização Mundial do Comércio Justo são as organizações globais mais interessadas nestas tecnologias.
Robôs com direitos
Acredite se quiser, mas o abuso de humanos sobre robôs tem aumentado. A Interação Humana com a Natureza e a Universidade de Washington constataram que crianças não tem o mesmo grau de empatia que têm com humanos também por robôs. Cerca de 60% das crianças achavam que um robô usado no teste tinha sentimentos, enquanto 50% acharam que tudo bem trancá-lo em um armário.
E este não é o único exemplo encontrado a partir de análise empírica. Pesquisadores da ATR Laboratórios de Robótica Inteligente e Comunicação, Universidade de Osaka, Universidade Ryukoku e Universidade Tokai colocaram um robô sozinho em um shopping. Enquanto os adultos pediam desculpas ao pisar no pé do robô, crianças não só não se desculparam como, quando não vistas, eram intencionalmente travessas, chutando, gritando e caçoando da (pobre) máquina.
Robôs como trabalhadores essenciais
Há quem diga que governos deveriam criar registros nacionais dos robôs. Desde a pandemia, eles têm realizado trabalhos essenciais limpando hospitais, monitorando pacientes remotamente, checando temperaturas e até fazendo pizzas e saladas sem supervisão humana.
Sendo assim, o Tendências em Tecnologia 2021 levanta a questão dos direitos trabalhistas aos robôs que quem os detêm, e lembra que a União Europeia já discute se deve ter um status legal especial para “pessoas eletrônicas” para proteger robôs sofisticados.
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