Há quase dois meses a vida de bilhões de pessoas foi atropelada pela pandemia do novo coronavírus. De uma hora para outra, fomos retirados de nossa rotina, limitamos nossos deslocamentos, passamos a ir para a rua somente para compras essenciais, usando máscaras e utilizando quantidades oceânicas de álcool em gel. Também começamos a trabalhar dentro de nossos lares, nos afastamos de familiares (os idosos de um lado, e estes dos netos, de outro) e tivemos de nos adaptar a uma vida mediada por telas e aplicativos de comunicação que nos conectam a amigos, colegas de empresa e negócios. Começamos a ver muito mais intensamente webinars, lives, broadcasts, eventos digitais.
A sensação geral, além da perplexidade pela velocidade com que tivemos de nos adaptar à uma realidade desconfortável, que nos retirou dos restaurantes, dos cinemas, teatros, parques, de eventos e shows, de jogos de futebol, esportes (nos estádios e nas TVs), das caminhadas nas ruas e dos treinos nas academias, tivemos de aceitar que nossas casas se tornaram nossos mundos. Sim, podemos dizer que todos nos tornamos um tanto adolescentes, confinados em quartos e olhando para o mundo por meio da internet. Trabalhar, conversar, fazer um happy hour, reuniões de negócios, paqueras, boa parte do relacionamento social migrou do contato pessoal para o virtual.
A ansiedade que sentimos, misturando nossos sentimentos nesse período em que estamos em quarentena e a vontade de retomar alguma normalidade, provoca emoções controversas: ora queremos que tudo isso termine de uma vez, ora nos encorajamos pensando no sofrimento de muitos outros que perdem entes queridos para o inimigo invisível, ora sentimos vontade jogar tudo para o alto. Lá no fundo, quem não pensa no quanto seria bom retornarmos ao ponto original, à nossa rotina conhecida e confortável?
O fato é que todas as evidências apontam para uma mudança na forma pela qual iremos viver no momento imediato e no futuro próximo. Iremos viajar menos, iremos circular menos, iremos confraternizar menos. Aliada à recessão (desaceleração em alguns mercados), viveremos um período de restrições, sob a égide de carências emocionais, mentais, afetivas, econômicas. E certamente estaremos inclinados a pensar em como seria bom voltar ao passado, à zona de conforto, negando ou resistindo à aceitar um novo, incômodo e inseguro normal.
Diante de uma nova realidade
A pergunta que ainda não foi contemplada com reflexões que indiquem uma resposta é: estamos preparados para suportar uma nova realidade tão restrita? Evidentemente que o instinto de sobrevivência ganha espaço em nossa psique, fazendo com que assumamos menos riscos, mas qual nosso limite para viver usando máscaras, testando nossa temperatura à porta dos mercados, evitando aglomerações, toques, abraços, tudo aquilo que definiu a experiência de viver por séculos, ainda mais diante da aceleração da globalização experimentada nos últimos 30 anos, desde a queda do Muro de Berlim?
Sim, é quase certo que todos venhamos a sentir saudades e a pedir pelo retorno ao paraíso. O novo coronavírus, tal e qual a serpente bíblica, nos arremessou para fora do paraíso e escancarou nossa culpa diante de nossa relação com a natureza, com o trabalho, o equilíbrio de corpo e mente, e com a vida familiar.
Novos normais
Muita coisa não será como antes, como nos acostumamos a viver, por vários meses mesmo após o contágio ficar sob controle. Essa “experiência” global marcará toda uma geração e fará muitos de nós, particularmente grandes contingentes das gerações Millennial e X, a sentirem uma triste melancolia. As sensações de perda, de falta irão se incorporar ao nosso comportamento e isso poderá motivar uma busca permanente por bem-estar, por reconexão, por âncoras emocionais que deem sentido à vida.
Entre os novos normais, estará também a procura incessante pela nova zona de conforto. Onde e como nos sentiremos bem e em sintonia com nossos eus interiores e com as pessoas que prezamos? Como iremos entender nossa relação com o trabalho e com os objetivos de vida?
Muita coisa mudou e a realidade vai continuar diferente. Uma constante vai permanecer: nossa angústia diante do incerto; cada dia mais incerto.
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