Trabalhar por anos em uma mesma empresa, contando as horas para o expediente acabar, apenas para garantir um salário no fim do mês não é o sonho de mais ninguém. Ao contrário, muito mais do que uma boa remuneração, os profissionais da atualidade valorizam o propósito do seu trabalho, a employee experience e buscam realização e equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
Esses fatores têm se mostrado tão relevantes que nem a crise econômica trazida pela pandemia tem sido capaz de fazer com que as pessoas permaneçam em seus empregos caso estejam insatisfeitas ou desmotivadas. Neste cenário, a retenção de talentos se tornou um verdadeiro desafio para as empresas.
Retenção de talentos passa pelo propósito e pela employee experience
A matemática é simples: por mais modernas que sejam e por mais recursos tecnológicos que disponham, para funcionar, empresas precisam de pessoas. Se forem bem remuneradas, reconhecidas e valorizadas, essas pessoas trabalharão contentes e se dedicarão para cumprir com as metas da organização, contribuindo com seu crescimento e sucesso.
Do contrário, tendem a não se dedicar ao máximo e a buscar outras alternativas que correspondam melhor aos seus propósitos, expectativas e valores. Neste sentido, a employee experience, em que o colaborador é o foco na tomada de decisões pelo setor de Recursos Humanos, é fundamental.
Apesar de parecer simples, muitas organizações ainda patinam neste raciocínio. Prova disso é uma pesquisa realizada pela Pearson, empresa global de educação, que constatou que 76% dos brasileiros estão insatisfeitos com o trabalho e planejam repensar seu plano de carreira por conta da pandemia.
“A pandemia causou muitas mudanças no mercado e as lideranças têm nas mãos um grande desafio, que é conseguir fazer uma gestão igualitária no quadro de funcionários. Entre os principais impactos estão questões como engajamento e produtividade, que sofreram alterações por conta do home office. Isso leva a um comando que precisa acompanhar com mais flexibilidade e entender a diversidade presente, a realidade de cada um, afinal, estamos lidando com casais com filhos, pessoas que moram com os pais, sozinhas, com cachorro etc.”, analisa o administrador Raphael Machioni, cofundador e CEO da Vee, HR Tech de benefícios.
Para ele, ter conhecimento das necessidades de cada profissional e estar presente em seu dia a dia é fundamental para a retenção de talentos. “Notamos essa tendência nos últimos anos, ainda mais quando falamos da reunião de diversos perfis de colaboradores que trabalham juntos. Para isso funcionar, é preciso o real entendimento do que é flexibilidade, já que liderar de perto e controlar processos não se resume a um conceito, o processo vai muito mais a fundo”, pontua.
Trabalho remoto potencializa desafios da retenção de talentos
Os millennials (nascidos entre 1980 e 1994) e a geração Z (nascida entre 1995 e 2015) foram os principais responsáveis por estabelecer as mudanças nas regras do jogo quando o assunto é vida profissional e plano de carreira.
Para eles, muitas vezes, o plano é não ter um plano: são profissionais difíceis de atrair, de reter e de motivar porque valorizam aspectos diferentes dos que os trabalhadores tradicionais, das gerações X e Baby Boomers, valorizavam: propósito, qualidade de vida, equilíbrio entre vida pessoal e profissional, comunicação, colaboração e desafios. Em alguns casos, inclusive, o componente emocional chega a ser mais forte do que a remuneração.
Como se não bastasse, no último ano, outro fator se somou às características dessas gerações e complicou o meio de campo para as empresas que batalham pela retenção de talentos: o trabalho remoto. Com a expansão do modelo home office, profissionais passaram a ser disputados por empresas em diversas partes do mundo.
“A busca por talentos ficou mais diversificada, o que contribui muito para uma liderança com olhares diferentes. E isso, para o negócio, é muito positivo, pois conseguimos olhar não só através do nosso ponto de vista, mas entender melhor realidades diferentes para entregar uma comunicação mais clara e inclusiva, um produto diferenciado, que realmente fale com todos e não só com alguns”, destaca Raphael Machioni.
Comunicação, saúde mental e pacote de benefícios que fazem sentido
Um dos fatores listados como essencial para a retenção de talentos pelo administrador Raphael Machioni é a comunicação. De acordo com ele, o processo, que é inerente às organizações, deve receber atenção redobrada neste momento, especialmente em negócios que adotaram o home office como modelo de trabalho.
“No escritório existe uma estrutura física que facilita esse canal, mas agora é cada um em um canto. Algumas empresas estavam preparadas para o trabalho remoto, mas a maioria não. É preciso promover cultura, engajamento e momentos em que todos possam estar focados e empenhados. Isso é muito importante para que todo mundo esteja na mesma página e com o entendimento único da empresa, do propósito e das necessidades”, destaca Machioni.
Oferecer um pacote de benefícios compatível com a situação e com os propósitos dos profissionais também é uma estratégia para a retenção de talentos, visto que, muitas vezes, eles têm tanto peso na balança do colaborador como o salário.
Um exemplo citado por Machioni é o oferecimento de vale-transporte aos colaboradores que estão em home office, que deixou de fazer sentido. Por outro lado, o trabalho remoto abriu espaço para novas necessidades, como uma boa estrutura para trabalhar em casa e internet de qualidade.
“As empresas tiveram que pensar rapidamente em como entregar esses benefícios de forma que se adequassem à nova realidade, com uma ampla rede de aceitação e que oferecesse flexibilidade de uso. Nesse cenário, o benefício voltado ao home office teve grande elevação, como auxílio financeiro para internet ou ainda para compra de móveis mais adequados. No momento em que estamos, essas preocupações são muito importantes na retenção de talentos, e isso transcende o salário”, reforça.
Além disso, Raphael Machioni pontua a importância da atenção à saúde mental dos trabalhadores como algo determinante para a retenção de talentos. Isso porque, por conta da pandemia, questões como a insegurança e perdas de familiares e conhecidos têm impactos diretos sobre o estado de saúde físico e emocional dos profissionais.
“A fase de isolamento provocou um abalo em todos nós, gerando variações não apenas em relação ao rendimento, como também na capacidade de se estar conectado frente a frente com seus colegas. Cada vez mais se faz necessário cuidar do profissional em seu ambiente de trabalho – que agora se estende à casa dele”, avalia.
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