Seria uma curiosidade, não fosse pelo simbolismo. Na semana em que um avião espatifou os sonhos de um time de futebol na Colômbia, a venerável Chapecoense, Michael Delligati, criador do icônico Big Mac faleceu, os 98 anos. O Big Mac está perto de completar oficialmente 50 anos (foi oficialmente incorporado ao cardápio da rede em 1968 – um ano não menos emblemático) e sua influência é sentida no mundo todo. Famoso como índice econômico – o Big Mac é utilizado pela The Economist para avaliar o poder de compra e a apreciação ou depreciação dos diversos padrões monetários existentes no mundo – o sanduiche do Mc Donald´s é uma inovação sustentadora que nasceu como cópia. Deligatti quis copiar os sanduiches de 2 andares que surgiam em outros restaurantes e então combinou ingredientes já existentes na rede – dois hambúrgueres e a cebola do cheeseburger, o pão e o picles do Quarterão (Quarter pound), queijo dos mesmos lanches, alface, e um molho especial à base de pepino. Nesses tempos dominados pela tecnologia é quase simplório pensar na combinação de elementos que originou o Big Mac, mas é justamente aí que reside um bom ensinamento para os varejistas de 50 anos depois.
A revista NOVAREJO digital está com conteúdo novo. Acesse agora!
Olhe para dentro da sua loja, da sua oferta – restaurantes de fast food talvez não sejam comparáveis a magazines, lojas de material de construção farmácias ou papelarias – mas em todo negócio certamente há elementos que possam ser recombinados para criar uma oferta nova, diferente, que possa até ser mesmo uma cópia melhorada do que outros competidores, mas que possuam tamanha aderência com a sua loja que possam se tornar um grande sucesso.
A grande conquista de Michael Delligatti, ou simplesmente TIM (de novo, simplificação) foi olhar para a situação e pensar em como gerar mais vendas a partir de uma oferta que já fosse naturalmente percebida como de valor para o consumidor. Depois de 9 trimestres seguidos de recessão quantas vezes você se dedicou a fazer isso? Não falo sobre pensar em promoções, de ganhar eficiência, de trabalhar pela saúde do caixa – requisitos imprescindíveis para manter a empresa diante do cenário adverso – mas de pensar em inovação a partir do que está à mão. Recombinar padrões de moda, criar combos, olhar para preferências simples dos clientes no sentido de fazer o seu negócio girar. Nos dias de hoje, o Mc Donald´s parece novamente adotar os mesmo princípios: ao invés de investir mais decisivamente no cardápio saudável – que era visto como padrão de sobrevivência para a rede – passou a recombinar ingredientes, acrescentando um toque gourmet, um tanto a mais de sofisticação – hambúrgueres de procedência – carne Angus – temperos famosos – mostarda dijon – tradicionais – bacon, cebola frita, para índices de colesterol e obesidade à parte, levar o consumidor mais vezes às lojas da rede. Agora oferece clássicos a R$ 8,00, um por dia da semana. Uma receita simples para toda e qualquer rede, oferecer um clássico, um produto de boa saída um dia por semana com desconto.
Essa é uma das grandes maravilhas do varejo: aprender com as práticas de outras redes, não necessariamente competidoras diretas (ainda que nesses tempos dominados por orçamentos apertados, todos competem pelo recurso existente), para recriar ou mexer um pouco na percepção do cliente a fim de se manter em evidência e ganhar atenção. E atenção sempre foi o nome do jogo, desde antes vermos consumidores mesmerizados diante das telas dos celulares.
Logo, uma ideia simples para tentar gerar mais caixa é fazer o seu Big Mac de cada dia. Pode ser surpreendente saber o que dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles em um pão com gergelim podem fazer pela sua empresa.
*Jacques Meir é Diretor Executivo de Conhecimento, Conteúdo e Comunicação do Grupo Padrão.