De vez em quando, este colunista encontra alguma coisa e sua primeira reação é: “Isso é brilhante!”, mas depois, acaba chegando a um “Humm, isso é tão trivial”. Um bom exemplo foi minha reação ao ver o título de um livro – “Hooked: How to Build Habit-Forming Products” (“Fisgado: como construir produtos que se tornam um hábito”, em tradução livre).
Você pode perguntar: há algo de novo nisso? Muito do que nós já consumimos não é de uso habitual? As pessoas nascem com necessidades básicas – comida, bebida e socialização – e esses não são simples hábitos, já que não se pode dispensá-los. Em sociedades ricas, essas necessidades já foram atendidas. Se você deseja um crescimento de consumo maior – e há puritanos e apologistas da sustentabilidade pregando que não devíamos desejar –, é melhor aprender a gerar necessidade contínua. Quanto mais você cria produtos que virem um hábito até se tornarem referenciais, mais vendas você vai gerar.
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Produtos clássicos indiscutivelmente seriais são o álcool e o tabaco. No entanto, está provado que fumar e beber em excesso faz mal para a saúde. Por outro lado, suicídio não é crime. Se você leitor, é um liberal, deve acreditar que cabe aos indivíduos decidirem o que fazer, especialmente se eles são informados apropriadamente sobre as possíveis consequências. Se deixarmos de lado as questões éticas, devemos admitir que tanto o álcool quanto o tabaco são produtos brilhantes que garantem vendas constantes ao capitalizarem o sistema de recompensas do cérebro humano. Eles são hábitos difíceis de cortar.
A mais recente categoria de produtos seriais é a das mídias sociais. Os mais jovens já são viciados, mas é só questão de tempo até que esse vício se espalhe para todos nós. É mais um fenômeno geracional do que relacionado à idade. Há pelo menos duas razões para a aceitação intensa das redes sociais.
Em primeiro lugar, o produto não é pago. Na letra da música The Old Dope Peddler (O velho pedinte drogado, em tradução livre), de Tom Lehrer, ele dá amostras grátis às crianças, porque sabe que suas faces inocentes serão os clientes de amanhã. Os jovens sabem que as redes sociais não são inteiramente de graça, pois fazem parte de uma transação onde o acesso aos ambientes é possível em troca de informações pessoais que serão usadas para marketing. A transparência pode ser discutida, mas está longe de ser do único case onde há um buraco enorme entre o ideal e a realidade do capitalismo.
Outra coisa é que as redes sociais se tornam viciantes porque são baseadas no FoMo (“Fear of missing out” ou “medo de perder as novidades”, em tradução livre). A pessoa tem medo de não estar no “burburinho” e, por isso, quer a certeza de que não irá perder nada.
O advento das redes sociais é tão novo que os estudos sobre suas consequências estão apenas começando. Será uma indústria crescente no futuro, com uma gama usual de respostas que irão de lamentos à exuberância. No entanto, as consequências são bastante claras agora: debates que não são realizados presencialmente se tornam – vamos dizer assim – mais intensos. Já existe a Godwin’s Law: teoria segundo a qual, em qualquer discussão online, alguém eventualmente será chamado de nazista. O futuro promete ser excitante.