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“Até os mínimos detalhes possíveis, precisamos repensar como lidamos com privacidade na internet”, diz Chelsea Manning

“Até os mínimos detalhes possíveis, precisamos repensar como lidamos com privacidade na internet”, diz Chelsea Manning

A ativista e consultora de segurança em tecnologia quer mudar a forma como os dados são usados na internet e oferecer mais privacidade por padrão para usuários

Muitas pessoas conhecem a história de Chelsea Manning, ex-militar do exército americano que trabalha com inteligência e ciência de dados, que esteve presente em um momento muito complicado da guerra no Iraque e foi a fonte de informações que levantaram questionamentos sérios sobre a privacidade dos dados.

Ela esteve muito focada nos últimos seis anos nas questões sobre desenvolvimento tecnológico e como eles se conectam com sua própria história. Ser uma pessoa trans, com a trajetória que teve, que gosta de redes sociais e as usou para, de certa forma, descobrir a própria identidade, mas trabalhando muito duro e sofrendo com as implicações éticas da tecnologia de vigilância e o que a ciência de dados é capaz de fazer, aprimorou a percepção de Manning para pensar em como seguir adiante.

“Passei os últimos 10, 15 anos muito focada em sobreviver à cada dia. Saí da prisão em 2017, em um momento de crescimento das tensões. Algumas semanas depois de ter a prisão comutada por Obama o atentado de Charlottesville aconteceu e muitos amigos foram detidos nos protestos e confrontos entre neonazis e anti-fascistas; as eleições nos EUA, a pandemia”.

Tensionamento crescente estimula vigilância

“Tem sido um esforço constante para passar por todos os eventos e chegar em 2023 em um ambiente economicamente tenso, com inflação alta, a crise na cadeia de produção; politicamente tenso, com a guerra na Ucrânia, que está afetando os mercados e pessoas. E sou uma pessoa que pensa constantemente em como vai ser o futuro”, desabafa Manning.

A ativista está muito atenta aos modelos de privacidade e aos métodos de vigilância que têm se consolidado desde 2010. “Tem se tornado mais barato e mais fácil executar vigilâncias em larga escala ao ponto em que não são apenas agências governamentais, corporações se tornaram capazes de monitorar pessoas e coletar um grande volume de dados pessoais, alerta Manning.

Leia Mais: EUA pode proibir o comércio de dados de localização dos usuários

“Os métodos de monitoramento que usamos, como redes virtuais privadas, Tor podem ser emaranhados por agentes globais de vigilância cada vez mais sofisticados, o que é um eufemismo para servidores de internet – em colaboração com empresas e governos”, pontua.

Para Manning, que tem pensado muito nisso, será necessário representar a infraestrutura da internet e como nos comunicamos, “porque algo não está funcionando. Nós estamos dando grandes volumes de informação por padrão. Cada interação que temos dá, seja de um microssegundo no TikTok, repassa nossos dados”.

Outro exemplo é como a Meta consegue saber quanto tempo levamos para rolar a barra do Instagram ou do Facebook e em quais publicações paramos mais tempo. “Não temos como esconder isso. Não há um botão que nos permita dizer que aceitamos ou não esse tipo de vigilância, enquanto as corporações recolhem um montante enorme de informações através de algo que se compara às microexpressões faciais”, exemplifica a ativista.

“Por isso acredito que, até os mínimos detalhes possíveis, precisamos repensar como lidamos com privacidade na internet”, ressalta Chelsea Manning, que junto com colegas propôs um projeto para um mixnet de privacidade. O projeto de Manning inclui alguns recursos que, segundo ela, estão sendo falados desde a década de 90, mas que hoje são realizáveis e escaláveis para prover privacidade e anonimato para as pessoas.

Para entender melhor

Mixnet é um termo técnico que se refere a um protocolo de roteamento de mensagens que suporta o anonimato do remetente e do destinatário usando um grupo de servidores proxy, chamados mixes ou estágios. A cada mix, um lote de entradas é misturado e reordenado para sair em uma ordem diferente, quase como se fosse uma criptografia.

Enquanto ainda estava presa, Chelsea Manning apresentou outro projeto para Hary Halpin, CEO da Nym Technologies – que apresentou o painel no SXSW. “Nós ficamos muito impressionados que Manning estava trabalhando com criptografia da prisão, pensando no futuro, pensando no pós-quantum”, destaca Halpin, que enfatiza a importância de Chelsea Manning não só por seu conhecimento, mas por ter feito a coisa certa, ao denunciar a vigilância (ilegal) do governo norte-americano contra seus próprios cidadãos.

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Futuro da computação passa pela privacidade

Manning, que tem um background muito denso de estudo de computação, softwares, ciência e coleta de dados, e a reflexão sobre o futuro da computação veio através das reflexões sobre algoritmos de machine learning e redes neurais, por serem capazes de ver além, filtrar informações e identificar padrões.

“Nós fazíamos isso no exército, o que era um aspecto muito importante do trabalho que eu tinha como analista, de fazer análises preditivas, o que seria equivalente a fazer previsões meteorológicas em zonas de guerra”, descreve.

Todas as tecnologias têm convergido rumo a confluência da coleta de dados versus privacidade, sugere Manning, que vai além, e avalia que isso nem é pelo volume de dados gerados pelas pessoas todos os dias, mas pela trilha gigante de metadados que deixamos, porque a privacidade não é estabelecida por princípio.

“Essencialmente deixamos esse rastro imenso de metadados por onde passamos e não podemos fazer nada sobre isso. Mesmo se você não tem um smartphone ou um computador, grandes volumes de dados sobre você estão sendo coletados, e muito pode ser aprendido sobre você deste modo”, exemplifica.

“Pessoas são impressionantemente previsíveis”, afirma Manning. “Pensamos em nós como atores racionais que tomam decisões e são diferentes e únicos, mas na perspectiva dos dados, é chocante como 90%, 95% dos algoritmos podem ser semelhantes em vários aspectos sobre como vamos nos comportar e quais são nossos perfis de risco, como de jogar dinheiro fora em algum produto às duas da madrugada”, pontua.

Leia Mais: CDP: o poder dos dados a favor da relevância

Ela exemplifica o poder dos dados com uma situação que certamente já aconteceu com cada um que está lendo este texto. Sabe quando conversamos sobre algo – um produto, um serviço, o que jantar hoje – e ‘misteriosamente’ começam a aparecer anúncios sobre isso? Parece suspeito. Mas não se trata, necessariamente, diz Manning, de um microfone ligado, ou que você está sendo vigiado naquele momento. “É uma conclusão do que o seu cérebro deve estar pensando naquele momento, é uma previsão”.

É por isso que a trilha de metadados que deixamos é tão importante. “E por isso é tão importante repensar a infraestrutura que temos. Se eu, que tenho 20 anos de experiência me debato com essas questões, porque uso TikTok, Instagram, não acho justo que uma pessoa normal tenha que pensar nisso para tentar proteger suas informações”, destaca.

O que podemos fazer então?

O desafio é descobrir como combater o monitoramento que torna nossos comportamentos tão previsíveis, reflete Halpin. “Estamos lidando com adversários muito sofisticados, e o problema não é só de predição comportamental. Eu não quero viver em uma sociedade, um futuro que está constantemente sendo monitorado. Isso destruiria a criatividade e o dissenso”.

O poder computacional do que Halpin chama de adversários está cada vez mais distribuído. “Não é só a NSA, mas pode ser o Google, a Meta, a China. É o que chamo de Visão de Deus na internet”.

O uso de VPNs, Tor, são recursos para inibir o acesso às informações pessoais e aos nossos metadados. Mas é preciso ter algum grau de letramento em tecnologia e informática para usar essas ferramentas.

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O VPN esconde alguns dados do site que está sendo visitado, mas só o endereço de IP. E de toda forma, o servidor de VPN continua a saber tudo sobre o usuário. Já Tor, um projeto originalmente da marinha dos EUA e do MIT, decentraliza o VPN, mas mantém as digitais da navegação.

Enquanto isso o Mixnet embaralha as informações de entrada e de saída de qualquer dado, não só a identidade da navegação. Isso impediria até o Google de saber o que você está pensando.

Essa tecnologia só é possível com um investimento e esforço em computação, que pode ser viabilizado através de uma rede decentralizada de servidores, o que Halpin chamou de paradigma da Web 3.0.


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