De hora em hora o Apple Watch (e outros relógios inteligentes) treme no pulso de quem possui esse tipo de gadget para avisar: hora de respirar fundo por 1 minuto. Parece engraçado que um aplicativo tenha que nos lembrar o quanto é importante respirar corretamente, mas a verdade é que a vida moderna parece não ter favorecido muito essa atividade essencial para a existência.
O impacto da pandemia do novo coronavírus na saúde mental das pessoas é mais um elemento a se levar em conta, além da correria e do estresse típicos do cotidiano, para sabermos como estamos nos comportamos. Dentro desse cenário, é muito comum que acabemos, então, respirando de forma cada vez mais curta e rápida, ou seja, de maneira errada. E isso favorece um aumento da ansiedade por um lado – e a perda de concentração por outro.
“Quando se está sob pressão, ansioso ou estressado, nosso cérebro entende que nos encontramos em uma situação de perigo. Por isso, o sistema nervoso libera adrenalina e cortisol, nossa respiração e batimentos cardíacos se aceleram e o corpo fica tenso. É nossa forma de reagir, como se estivéssemos nos preparando para lutar ou para fugir, e por isso a respiração fica curta”, explica Daniela Cruz.
Terapeuta corporal com mais de 18 anos de experiência no assunto e especialista em práticas de consciência corporal e respiratória, além de meditação, Daniela já fez cursos especializados até mesmo no Havaí. Atualmente atende em uma clínica-spa da Zona Oeste de em São Paulo e conta como o ar ajuda na nossa concentração, por exemplo. “Um dos órgãos que mais precisa de oxigênio é o cérebro. Quando está bem oxigenado, pode funcionar plenamente. A baixa oxigenação cerebral afeta funções como a atenção e a capacidade de focar em algo”, diz.
Para saber mais sobre o assunto e tirar dúvidas, batemos um papo com a expert. Fique de olho para descobrir algumas práticas que ajudam a melhorar sua consciência respiratória. Acompanhe essas quatro orientações:
REPARE COMO ESTÁ RESPIRANDO
Quer se concentrar para aquela reunião por vídeo-chamada? Comece tirando uns minutinhos para respirar profundamente. “Quando estabelecemos uma respiração profunda e ritmada, as instabilidades da nossa consciência e da nossa mente diminuem, favorecendo a concentração e o foco”, explica Daniela Cruz.
Isso porque, ao respirar com calma e ciente do que se está fazendo, o corpo entende que não há perigo iminente. “Falando mais ‘tecnicamente’, essa reação ocorre porque a respiração profunda estimula a liberação do ácido gama-aminobutírico (GABA), principal neurotransmissor inibitório do sistema nervoso. Sua ação no organismo é a de um potente calmante e ansiolítico natural, restabelecendo a tranquilidade e o controle das emoções”, afirma a expert.
ACIONE O NEUROTRANSMISSOR DO FOCO
Como estamos muito acostumados a respirar de forma bem curta e rápida, vale parar alguns minutos do dia para fazer aquele exercício profundo de encher mesmo os pulmões. “Por conta da liberação deste neurotransmissor, o ácido gama-aminobutírico (GABA), é que a respiração profunda é amplamente recomendada no controle de crises de ansiedade e de outros transtornos psicológicos. Além da questão emocional, a respiração correta também beneficia a saúde cognitiva”, conta Daniela.
Ou seja, quem pratica apenas a respiração superficial tende a enfrentar problemas com atenção, concentração, memória, raciocínio lógico e compreensão. Para identificar se sua respiração é curta, basta prestar atenção em qual parte do seu corpo se move mais durante a inspiração – se seus ombros e suas clavículas, ou seu abdômen e suas costelas.
“Para facilitar esse processo, você pode se deitar confortavelmente, apoiando uma mão na região do abdômen, e a outra na parte mais alta do seu tórax. Respire normalmente e observe qual das duas mãos se eleva primeiro. Se o movimento for maior na parte superior do tórax, sua respiração está curta, e você pertence ao grupo dos respiradores verticais. Se você percebe mais o movimento no abdômen e suas costelas se expandem pras laterais você está respirando corretamente e pertence ao seleto grupo dos respiradores horizontais”, firma.
IDENTIFIQUE A “RESPIRAÇÃO ERRADA”
A respiração curta, apontada pela terapeuta como a forma menos correta de se respirar, pode ajudar a ficarmos ansiosos e a tensionar os músculos da parte superior do corpo. “Na respiração curta, também conhecida como respiração vertical, peito e ombros se erguem em direção ao queixo. Puxamos a tensão para nossos ombros, encolhemos o abdômen, e as respirações acabam ficando curtas mesmo e bem menos efetivas, mais localizada no peito, o que é muito errado”.
A melhor maneira de utilizar a respiração a nosso favor é utilizar o diafragma para encher os pulmões de ar. “A respiração profunda – também chamada de horizontal – é aquela em que trazemos o ar para a região abdominal. Quando essa parte se move adequadamente, todo o nosso sistema fica melhor oxigenado”, completa.
RESPEITE AS PAUSAS E OS RELÓGIOS INTELIGENTES
De tempos em tempos, os smartwatches pedem para seu usuário parar por um minuto e se dedicar a uma respiração mais profunda. De acordo com Daniela Cruz, é importante respeitar essa orientação da inteligência artificial. Caso você não possua um objeto como esse, é só regular o tempo para fazer algumas pausas.
“As células precisam de oxigênio para continuar trabalhando. Quanto melhor a qualidade da nossa respiração, maior a quantidade de oxigênio no nosso corpo. Os benefícios da respiração diafragmática são inúmeros. Entre eles destaco a estabilização do sistema nervoso autônomo (aliviando sintomas de stress e ansiedade); o controle dos batimentos cardíacos e da pressão arterial;e até a melhora de funções fisiológicas, como sono e digestão”, explica ela.
Ou seja, respirar é mais uma ação que fazemos no piloto automático da vida moderna, mas que podemos cuidar para se tornar um hábito capaz de garantir o bem-estar dentro ou fora das horas de trabalho diárias.
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