Uma das maiores dificuldades dos nossos tempos, seja dentro ou fora da empresa, é conseguir realizar um planejamento eficiente. Cerca de 9,3% da população brasileira tem ansiedade, segundo a Organização Mundial da Saúde. Isso quer dizer que 18,6 milhões de brasileiros convivem com o transtorno, o que mostra nossa dificuldade de lidar com o futuro.
O longo prazo nos assusta. Fazer um planejamento levando em conta os próximos cinco ou dez anos já é uma tarefa do maior nível de dificuldade. Porém, em um mundo que vive em constante transformação, o conceito de longo prazo já é abstrato demais porque vivemos focados no imediato.
Graziela Di Giorgi, CGO da Scopen e autora do livro “O Efeito Iguana”, falou sobre nossa relação conturbada com o planejamento a longo prazo durante palestra que abriu o segundo dia do Whow! Festival de Inovação. Para isso, ela usa três pilares:
1 – Tempo elástico
Vivemos em constante conflito: razão e emoção tentam a todo momento assumir protagonismo em nossas decisões. Graziela nos define como seres emocionais e avisa: “Nossa percepção de tempo pode oscilar muito por causa disso”.
Por deixarmos a emoção tomar conta, sempre pensamos como o futuro será e como o passado foi bom ou poderia ser melhor conforme nossas escolhas. Isso nos leva a uma incapacidade de nos concentrarmos no presente e no que devemos fazer para um futuro melhor.
Ao mesmo tempo em que vivemos nosso conflito interno, o curto prazo atropela o planejamento mais longo. Precisamos sempre resolver algo agora e não reservamos tempo para fazer o que demanda mais tempo para ser feito.
Outro viés que nos leva a um conflito com o conceito de longo prazo é o medo da perda. Valorizamos mais o que podemos perder do que o potencial ganho que teremos quando tomamos uma decisão.
“Se eu perco R$100 a intensidade da tristeza é duas vezes maior em comparação com a felicidade de achar a mesma quantia”, ilustra Graziela.
2- Vulnerabilidade
Temos medo do futuro e nunca nos sentimos preparados para as tecnologias vigentes e as que se apresentam como tendência. Isso nos leva a crer que o futuro será avassalador e que estamos vulneráveis.
A diretora da Scopen diz que as tecnologias mudam, mas nossas necessidades permanecem as mesmas. “O que muda é como compramos comida, não nossa necessidade de nos alimentar. O mesmo vale para a necessidade de jogar e comunicar”.
Portanto, segundo ela, não faz sentido nos preocuparmos tanto com o futuro, já que apenas a forma como satisfazemos nossas necessidades mudará. É necessário simplificar o que tomamos como um conceito complexo.
Para Graziela, é necessário deixar de ter medo para mudar. “Precisamos ter visão para lidar com variáveis que não dependem de nós e responsabilidade para lidar com aquilo que depende sim da gente”.
3 – Presença
“Quando conseguimos entender que não temos controle sobre nada começamos a presenciar”. Este verbo, presenciar, pronunciado pela autora, diz respeito a ter sensibilidade ao que está acontecendo.
Uma das técnicas de Graziela para viver o presente e deixar de se preocupar com o que foi e o que há de vir é fragmentar o tempo. Para aplicar a técnica, basta pensar no tempo como algo cada vez menor: se pensa no relatório que precisa terminar em 20 minutos, pense apenas no parágrafo que está escrevendo. Caso não funcione, se concentre apenas nas próximas palavras ou números que colocará no documento, sem pensar no horário de entrega.
Entender o que se passa ao seu redor parece uma tarefa inofensiva, mas tem o poder de mudar como pensamos e este simples ato certamente mudará a forma como tomamos – ou deixamos de tomar – decisões.
Graziela explica que conforme começamos a presenciar, enxergamos apenas um caminho possível e até o ato de tomar decisão fica mais simples. Apenas uma opção parece viável, já que estamos sensíveis ao que acontece ao nosso redor.
A reflexão final é: “devemos estar mais preocupados com a nossa não presença no mundo do que com as transformações que o mundo passa”.