Apesar do inexorável crescimento do mercado de moda plus size no Brasil, persiste entre as grandes empresas o tabu de se investir fortemente no segmento. Segundo dados da Associação Brasil Plus Size (ABPS), houve crescimento de 7,9% no faturamento em 2017, com arrecadação de 7,1 bilhões de reais. A expectativa para este ano é de alta de 8,1% nos lucros. Mas os números estão aquém do verdadeiro potencial da moda plus size.
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O nicho de produtos voltados para pessoas acima do peso e obesas representa apenas 5% do varejo de moda no Brasil. O levantamento da ABPS mostra que há um abismo e falta de exploração de um mercado altamente necessitado.
São cerca de 120 milhões de brasileiros que usam tamanhos de roupa a partir de 46. Os Estados Unidos, país pioneiro em vender moda plus size no mundo, faturam mais de 20 bilhões de dólares (cerca de 67 bilhões de reais) em um mercado para mais de 200 milhões de pessoas. De acordo com a vice-presidente da ABPS, Marcela Elizabeth, o preconceito e o receio de entrar no mercado plus size ainda reinam no âmbito empresarial.
Preconceito x saúde
“Esse tipo de preconceito não pode estar na cabeça do empresário. Tem alguns que têm certas restrições, só vendem até o tamanho 52, porque acham que desse número para frente já é um patamar em que a pessoa tem que se tratar, emagrecer e vestir tamanhos menores. Mas não é tão simples assim”, afirma a especialista, em evento do segmento organizado pela Associação Brasileira da Indústria de Equipamentos e Serviços para o Varejo (Abiesv).
Segundo ela, o consumidor plus size “tem a pior experiência de compra possível”. Marcela, pesquisadora e ativista plus size há cerca de 10 anos, diz que a falta de investimento reflete no humor dos clientes que necessitam de roupas maiores.
“Todo mundo está feliz quando sai para comprar roupa. Mas o consumidor plus size não. Ele já sai de casa frustrado e sabe que vai ser mal atendido e que não vai encontrar o que procura. Há muitos casos de pessoas em situação de obesidade que usam apenas uma peça de roupa para sair e em casa usam tecidos largos e cangas porque não têm peças adequadas no mercado que lhes atendem”, diz.
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As reações do mercado
Colocando os diversos problemas do segmento de lado, há indícios, tomando por base vários exemplos, de que a moda brasileira absorva, aos poucos, o ainda quase intocável mercado plus size. Como as lojas estão cada vez mais atentas e de olho nesse mercado, cresceu a procura de lojistas por manequins plus size. O CEO da Expor Manequins, Marcos Andrade, afirma à reportagem que houve aumento de 30% nas vendas de manequins plus size em 2017 e que a tendência é só crescer.
Segundo o executivo, a linha foi a que mais evoluiu em vendas dentre os tipos fabricados pela empresa. “Os manequins são peças fundamentais para criar experiência. Hoje o nome do jogo na loja física é criar um engajamento com seu cliente”, diz Andrade, que também é vice-presidente da Abiesv.
O detentor do cargo mais alto da Expor Manequins considera que o mercado plus size deve ter maior atenção e capricho na hora de fisgar o cliente. O manequim deve refletir de fato o perfil do consumidor. “Para acertar no manequim você tem que entender seu cliente, os valores dele e criar essa conexão. No mercado plus size o consumidor é mais carente de produtos e mais sensível. O trabalho psicológico é muito maior. Então é preciso se comunicar da melhor forma”, conclui Andrade.
A jornalista Flávia Durante organiza, desde 2012, uma feira de moda plus size, conhecida como Pop Plus. Na primeira edição do evento, ela conta ao portal NOVAREJO que havia apenas 12 lojas participantes. Na última feira, em março deste ano, a presença foi muito maior: foram, pelo menos, 70 expositores que vendem exclusivamente peças plus size.
Grandes marcas
As grandes marcas da moda brasileira ainda não dão grande relevância para as peças plus size. Dentre elas, a Renner é a única varejista que tem uma marca específica para o consumidor plus size, a Ashua, por enquanto exclusiva para o e-commerce. A empresa pretende expandir o negócio e criar uma loja física da marca, conforme adiantou o portal NOVAREJO.
A C&A tem uma parceria com a startup Flaminga, que vende roupas a partir do tamanho 44 de várias lojas cadastradas. Mas as roupas plus size estão escondidas em meio a uma extensa variedade de peças e categorias no site, não havendo o mínimo destaque.
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Pioneirismo
A marca de maior expressão que tem fatia relevante em suas vendas é a Malwee, que tem uma linha exclusiva para peças maiores, a Wee!, uma das primeiras a surgir no Brasil. De acordo com a estilista Raquel Quinderé, responsável pela modelagem da linha, a Wee! cresceu 47% e foi o produto que teve a melhor performance da Malwee em 2017.
A fashion designer afirma que “ainda há bastante preconceito no mercado plus size, mas as empresas estão começando a abrir a cabeça”. O problema, segundo ela, é a desinformação que existe em torno da necessidade dos consumidores. “As marcas ainda estão desinformadas com os números do segmento. Existe um grande desafio que é mostrar que existe esse consumidor”.
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