Há alguns anos as três letrinhas que chamam pela sustentabilidade têm ditado o futuro dos negócios. A agenda ESG é para o consumidor hoje uma questão de prioridade: o consumo está totalmente relacionado às boas práticas das empresas, ações sustentáveis e de responsabilidade social. O rumo é evidente: as marcas que não desenvolvem — e divulgam — suas ações estão ficando para trás na concorrência.
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O mercado lida na atualidade com um consumidor um tanto quanto informado e inteligente, que busca informações sobre todos os processos daquilo que consome e está mais do que disposto a abandonar uma marca caso sinta que ela não cumpre seu “dever” com o planeta. A questão é qual é o papel das empresas nesse cenário?
Esse foi o tema do painel “A empresa como agente de transformação: o poder da agenda ESG”, do Conarec 2021, que contou com mediação de Valéria Café, diretora de Vocalização e Influência do IBGC e a presença de Ignacio Sanchez, diretor geral da Leroy Merlin Brasil.
Mais do que lucro, o ESG como estratégia de transformação
Um dos principais motivos pelos quais os consumidores deixam de acreditar nos valores e propósitos das empresas é a desconfiança do que realmente é importante a elas, além da falta de transparência e honestidade sobre os processos internos. “As empresas precisam parar ganhar dinheiro a todo custo, sem regra, sem métricas, isso não é certo. Essa é a doença do mundo. As empresas falem hoje por tomar péssimas decisões econômicas, muito baseadas no momento, o que vai prejudicando o planeta aos poucos”, argumenta Sanchez.
Ele destaca, ainda, que a agenda ESG bem executada gera justamente esse lucro tão esperado, mas não da forma como as empresas imaginam. “A primeira coisa que temos que aceitar hoje é que ser sustentável hoje vai gerar mais despesa, portanto, o lucro será menor. Mas lá na frente, esse lucro retorna, isso não se fala porque foco é sempre ter mais dinheiro, mais recurso, e espera-se que as empresas sempre faturem muito. O problema é que essa estratégia a longo prazo é muito mais valiosa, ética, responsável e eficiente”, acrescenta o executivo.
De nacionalidade espanhola, Sanchez embarcou formou sua carreira na Leroy Merlin da Espanha, ingressando em 1993 como gestor de controle. Em 2009, assumiu como CEO e seguiu com o mesmo cargo para o Brasil desde outubro de 2020. Com experiências na Itália e em Portugal, ele afirma que os brasileiros possuem profundas diferenças na percepção da agenda de ESG.
“A educação é prioridade fora do Brasil e é justamente ela que cria uma conexão grande com a agenda ESG. Aqui, eu tenho a sensação esse conhecimento ainda é muito restrito, poucas pessoas têm educação, o País tem muitos analfabetos. Eu acredito, como Leroy Merlin, que apontar para a educação é um investimento importantíssimo para que o ESG entre na vida do consumidor”, aponta o executivo.
O ESG nas particularidades brasileiras
Outro ponto interessante que o CEO aponta como diferença entre os países europeus e o Brasil é a dificuldade em gerar uma logística que seja neutra em carbono. “A suply chain aqui é muito complexa. No Brasil as coisas são longes, a logística aqui precisa ser muitíssimo bem-pensada, porque a distância muitas vezes tem o poder de aumentar a poluição, a pegada de carbono. A Leroy faz questão de usar o máximo de tecnologia e inovação para reduzir essa distância — ao menos para a química do processo”.
Em maio deste ano, a Leroy Merlin anunciou uma certificação internacional de sustentabilidade em 25 de suas unidades e pretende, até o fim de dezembro, certificar as 19 restantes. Ao todo, a empresa chega a economizar mais de 7.800m³ de água potável por ano.
Ele também destaca que o futuro está na sustentabilidade e na ética. “Uma empresa que tenha todo dia uma rotina de inovação, de revolução, que arrisca e aprende, ela é o futuro e o sucesso para o planeta. Às vezes, das 20 tentativas, 15 dão certo e cinco são terríveis. Não procure culpados, procure soluções, arrisque, tente de novo. Essa é a riqueza da inovação”.
Por fim, ele aponta que trabalhar a agenda ESG é um trabalho a ser feito de forma conjunta. “Uma empresa é uma constelação de estrelas e não um sistema solar com uma única estrela no centro. A ética também está nisso, o ESG está nisso, é importante perceber que a sustentabilidade vem principalmente de dentro para fora e não se faz sozinho”, conclui.
+ Conarec 2021
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