Uma quantidade de até 37 milhões de toneladas de plástico chega aos oceanos todos os anos. Isso equivale a cerca de 50kg de plástico por metro de costa. No mundo todo.
O mais grave é que, em pouco menos de 20 anos, este volume do chamado plástico marinho pode triplicar, segundo o relatório Da Poluição à Solução: Uma Análise Global sobre Lixo Marinho e Poluição Plástica, feito pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Quando o assunto é crise climática, nenhum dado parece alarmante demais. Por isso, não só entidades e atores envolvidos com a causa, mas o público em geral tem cobrado ações globais que tragam soluções sustentáveis para o uso e descarte do plástico.
As grandes empresas, por sua vez, entraram para o rol de quem deve atuar sob a ótica da sustentabilidade e têm respondido às demandas por meio de ESG (governança ambiental, social e corporativa).
É uma escolha quase mandatória: de acordo com uma pesquisa da Gfk, empresa alemã de estudos de mercado, 76% dos consumidores esperam que as marcas hoje tenham comprometimento com o meio ambiente. Além disso, há o peso do fator econômico. Um estudo publicado na revista científica Marine Pollution Bulletin, os custos dos efeitos negativos da poluição marinha somam US$ 2,5 trilhões por ano.
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O impacto ecológico do plástico marinho
Os pesquisadores da área ambiental da UNESP e USP, Bárbara Rani-Borges e Lucas Gonçalves Queiroz, explicam que plástico marinho se refere a todo polímero sintético que, ao ser descartado inadequadamente, polui ambientes de água salgada. Vale destacar que, de acordo com o relatório do PNUMA, atualmente ele representa 85% dos resíduos que chegam aos oceanos.
Os impactos negativos da presença destes materiais no ecossistema marinho são inúmeros, passando inclusive pela morte de animais devido à ingestão, sufocamento, afogamento e estrangulamento.
“Além disso, o plástico marinho está sujeito a uma série de fatores ambientais que promovem a sua degradação, dando origem a pequenas partículas plásticas chamadas microplásticos. Estes, por sua vez, constituem uma nova via de poluição, podendo alcançar e impactar mais compartimentos ambientais que plásticos de maiores dimensões”, afirmam os pesquisadores.
Diante deste cenário que o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente considera de crise global de poluição, seria urgente a redução drástica do uso do plástico desnecessário. Para isso, ele cobra diversas ações como a aceleração na transição para energias renováveis, a eliminação de subsídios a setores poluidores e a adoção de abordagens circulares. Caberia aos governos se comprometerem com o enfrentamento da crise.
ESG e plástico marinho: o que funciona?
O relatório do PNUMA aponta a importância de se agir coletivamente no freio da poluição marinha, incluindo aí não só a vontade política, mas práticas ESG por parte das empresas. Seria responsabilidade principalmente das grandes marcas e companhias o desenvolvimento e adoção rápida de alternativas sustentáveis para uso e destinação do plástico.
Os pesquisadores Bárbara Rani-Borges e Lucas Gonçalves Queiroz também listam boas práticas empresariais efetivas, como:
* Projetos de conscientização ambiental do público consumidor, visando minimizar o desperdício e o uso desenfreado de recursos;
* O reuso de materiais plásticos que atingem o ambiente marinho;
* A redução da dependência destes materiais, principalmente de plásticos de uso único;
* A adoção de outros materiais de origem renovável como alternativa aos plásticos convencionais, uma vez que estes tendem a ser menos persistentes e nocivos ao meio ambiente;
* Soluções para o descarte adequado destes materiais, seguindo os princípios regidos pelos modelos de economia verde e circular.
Boas práticas das empresas que já estão aí
O comprometimento com o enfrentamento à crise climática e ecológica é uma cobrança que já surtiu seus efeitos. Aqui, destacamos marcas globais e nacionais que já tomam a dianteira e adotam boas práticas visando a redução do plástico marinho.
Adidas
“Inovação é a solução” é um dos motes da marca de produtos esportivos. Ela é membro-fundadora da Parley Ocean Plastic, organização ambiental que atua no cuidado com os oceanos de diversas formas, mas principalmente prevenindo que o plástico chegue nos oceanos e transformando plástico marinho em roupa esportiva.
A parceria resultou em uma coleção de tênis feita de plástico marinho, com percentuais que chegam a 100% de plástico recuperado nos cadarços, lona, tela e tecido.
Além disso, a marca apoia e lança diversas ações voltadas à conscientização e recuperação ambiental, como a Run For de Oceans. Durante o período da campanha, Adidas e Parley Ocean Plastic prometem limpar uma quantidade para cada quilômetro corrido pelos usuários do app da Adidas Running. O resultado foi a retirada de mais de 200 mil quilos de resíduos plásticos de praias, ilhas e comunidades costeiras.
Natura
O carro-chefe da ação da marca de cosméticos brasileira é o perfume Kaiak, que tem suas embalagens produzidas com resíduos plásticos coletados do litoral brasileiro. Plásticos de uso único, por exemplo o que sela a caixinha do produto, também foram eliminados. Em um ano, as ações geram a reciclagem de 102 toneladas de plástico.
Outro ponto é que o olhar sustentável permeia todo o processo. São cooperativas parceiras da Natura as responsáveis por recolher estes resíduos, impedindo que cheguem aos oceanos, e enviar para empresas de reciclagem.
Mattel
Em 2021, a empresa de brinquedos lançou a coleção Barbie Loves The Ocean, que conta com bonecas feitas de plástico marinho. Para isso, ela se associou à empresa de reciclagem de plásticos Envision Plastics, que irá coletar os resíduos – agora matéria-prima – da península mexicana de Baja.
Aproveitando a popularidade da personagem, a Mattel também combinou o lançamento da boneca com a exibição de vídeos no canal do YouTube da Barbie com foco em conscientização ambiental para crianças.
Outros brinquedos também já estão sendo feitos com plástico marinho, como é o caso do dinossauro Mosasaurus
Protetor dos Oceanos, da linha Jurassic World. Além disso, a marca se comprometeu a usar plástico 100% reciclado, reciclável ou de base biológica em todos seus produtos e embalagens até 2030.
Braskem
Fundada em 2002, a petroquímica brasileira de atuação global tem o propósito de criar soluções sustentáveis em diversos setores por meio da química e do bom uso do plástico.
Dessa forma, tem uma atuação abrangente quando o assunto é a preservação dos oceanos: é uma das patrocinadoras do Projeto Blue Keepers, da Rede Brasil do Pacto Global da ONU que busca combater a poluição plástica nos oceanos; se comprometeu com metas de reciclagem, como um milhão de toneladas de produtos com plástico reciclado vendidos por ano até 2030; oferece suporte financeiro e apoio a empresas que por meio de inovação procuram alternativas para o uso e destinação do plástico, além de recuperação marinha; entre outras.
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