Douglas Matricardi hoje é diretor de operações no Magazine Luiza. Mas, ao longo dos 33 anos em que ele trabalhou na companhia, já passou por áreas diferentes. Entrou em TI, passou pela assessoria à presidência e esteve à frente do projeto das lojas digitais. Quando ele começou, eram oito lojas. Hoje, são 780.
“Amo o que faço, adoro o varejo. Já recebi propostas para sair, mas o Magazine Luiza é uma empresa que me proporcionou ambiente de trabalho positivo, com plano de carreira adequado, com transparência e um norte claro de onde chegar e como se engajar. Isso faz toda a diferença”, afirma o executivo.
Ele e Ruy Shiozawa, CEO da Great Place to Work Brasil, debateram, ao longo do painel “O ponto de virada: por que transformar as pessoas na estratégia principal do negócio pode garantir receita”, justamente isso mesmo: o papel dos colaboradores nas empresas.
Com experiência de quem realiza pesquisas de satisfação de colaboradores há 30 anos, Shiozawa revela que é um fato: para as empresas hoje serem bem sucedidas em mercado tão complexo, claro que tem gestão financeira bem elaborada. Bem como gestão de clientes. Mas a gestão de pessoas é fundamental. “Até hoje nenhuma disse que pessoas não são o mais importante. Mas descobrimos, também, que nem todas as empresas praticam isso tão bem”, afirma.
Segundo ele, um dos desafios do varejo é a rotatividade. Nas pesquisas, dados provam que, quanto melhor é o ambiente, menor a rotatividade. Nas melhores empresas para trabalhar, o salário é o 4º principal fator, com 12, 13%. Qualidade de vida (flexibilidade, possibilidade de equilibrar vida pessoal e profissional), oportunidade de crescimento e desenvolvimento e alinhamento de valores vem antes do dinheiro. “As pessoas não buscam emprego, buscam significado para a vida delas. E os gestores devem estimular. Não foi GPTW que inventou isso. Minha primeira dica é: se quer construir um excelente meio de trabalho, escute as pessoas”, diz.
Ao longo do painel, eles foram intercalando o case do Magazine Luiza – um sucesso, que vive nos rankings de melhores empresas para se trabalhar – com dicas para os varejistas.
Autonomia
Segundo Matricardi, na empresa, as pessoas são responsáveis pelo que fazem. Por exemplo, cada loja tem sua fan page nas redes sociais. E os colaboradores são liberados para fazerem a comunicação de acordo com a comunidade onde atuam. Isso gera muito engajamento. Lembrando: são 23 mil funcionários. Além disso, todo mês recebem feedbacks de sua atuação. “Há empresas que investem milhões para colocar mídia na televisão e não comunicam os funcionários nas lojas. Comunicação é um grande diferencial para engajar. Ainda mais com 780 pontos pelo Brasil, onde cada lugar é diferente”, comenta.
Ainda, ele revela que todas a lojas têm um conselho (isso já acontece há 20 anos), além da estrutura de liderança. O papel dele é cuidar do clima da loja, das relações das pessoas. Já no caso das reformas e inaugurações de loja, sempre, para evitar problemas, há um comitê multifuncional que visita as lojas a serem reformadas para ouvi-las. “Ele se reúne com a equipe, que sabe melhor do que ninguém o fluxo da loja. Isso acabou com mudanças pós-inauguração. E a equipe se sente participativa’, diz o diretor.
Prática
A segunda dica dada por Ruy Shiozawa é muito importante: ouvir é fundamental, mas depois é preciso transformar isso em práticas da organização. Ele revela que as pessoas costumam achar que investir em pessoas é “gastar” dinheiro, com vale refeição ou plano de saúde, por exemplo.
“Conheço um presidente de uma empresa não tão grande que passa a primeira meia hora do dia andando e conversando com as pessoas. Não há investimento financeiro nenhum nisso. É investimento em tempo, em atenção, em dedicação”, conta. E aproveita para dar a terceira dica: preparar os gestores da organização para cuidar das pessoas. Não os principais, mas os gestores intermediários. Isso é muito importante.