O escritor Martin Lindstrom é um daqueles fanáticos por livrarias. Seu caso de amor com as páginas impressas o levou a revelar ótimos insigths de como esses espaços, superacolhedores, podem inovar na sua relação com clientes e não sucumbir à concorrência com a Amazon.
A gigante online tem volume, um sistema de buscas rápido e eficiente, uma seleção de dicas de acordo com seu histórico de buscas, além de comentários dos principais veículos especializados que ajudam na hora da compra.
No entanto, as livrarias têm uma vantagem única: são vivas. O que Lindstrom propõem é a mesma formula de interatividade que encontramos no online, mas com a vantagem de ser uma experiência muito mais rica e sensorial.
O conceito de algumas de suas ideias partiu de uma viagem à Europa (viajar amplia não só nossos horizontes, mas nossas ideias também). Sua passagem pelo Aeroporto Malpensa de Milão o fez perceber como os passageiros eram dirigidos pelo aeroporto por um sistema de linhas coloridas pintadas no chão: Sair: verde. Compras: amarelo, etc. Simples, porém, como Lindstrom bem definiu: ?uma vez entendido você apenas segue?.
Esse deveria também ser o papel de uma livraria, segundo o escritor. Elas têm o poder de direcionar seus clientes para seus anseios literários de uma maneira bem parecida. Pense nos milhares de autores que estão em suas prateleiras como um repositório criativo de conteúdo, boas dicas e reflexões. Um dos exemplos de Lindstrom: uma livraria poderia pedir a cada um deles que visitasse sua loja para criar uma sinalização igual a do aeroporto. A livraria X tem a sorte de ter EL James, autora de ?Cinquenta Tons de Cinza?, na lista dos mais vendidos. A autora poderia identificar 10 livros que ela adora naquela loja. A livraria cria uma linha que leva o cliente às prateleiras que contém os livros adorados por James e atribui a cor cinza para ela (óbvio). Posteriormente, a livraria entrevista James sobre esses livros: Que livro a fez chorar? O que mudou a sua vida?O que a inspirou? Grava a entrevista e por meio de um aplicativo disponibiliza o áudio que permite ao visitante ouvir no seu smartphone ou tablet os comentários da autora enquanto caminha em direção à obra guiado pela linha no chão.
Lindstrom segue: ?mas as recomendações não podem ser a única resposta?. A livraria poderia alocar uma cozinha gourmet, uma vez por semana, para novos autores de gastronomia trazerem seus próprios ingredientes e usar o espaço para criarem algumas de suas receitas. A livraria se encheria com os ?aromas dos livros?! Ou então, convidar autores de jardinagem para trazerem potes, sementes e plantas, e demonstrar alguns de seus truques de jardim em outro espaço. As possibilidades são infinitas. Cartunistas criando ao vivo; aeromodelistas montando um modelo de avião de um livro dedicado ao tema, etc. Nesse meio tempo, as lojas poderiam promover esses livros para compra (físico e online) e ainda rentabilizar outros pontos como as cafeterias ? mais gente na loja, maior a rotatividade nesse espaço ? e comercializar produtos relacionados aos temas.
Pensando em todas as discussões que acompanhamos nos últimos tempos sobre ampliar a experiência do consumidor, design thinking*, como integrar loja física e online, reinventar PDVs… enfim, uma série de desafios para um novo comportamento de consumo atrelado às novas tecnologias, o que falta na verdade para muitos setores é um pouco de criatividade e muita iniciativa.
Uma livraria não pode competir com a Amazon, mas, a Amazon não pode competir com o cheiro de uma receita incrível, com a voz ou a presença do seu autor predileto, e por ai vai. Em suma, a venda de livros no mundo físico deve se inspirar nos espaços e nas pessoas.
Dúvido, que você não visitaria uma livraria dessas.
*Design thinking foi o tema principal do Consumidor Moderno Experience Summit 2014 realizado em Roma, Itália. O congresso reúne as principais lideranças empresariais do Brasil para uma imersão em conteúdos que aprimoram as estratégias de gestão. Veja a cobertura completa na edição 197 da revista Consumidor Moderno.