O brasileiro é cheio de idiossincrasias. Esse ponto, levantado pelos participantes do debate promovido no painel “A percepção do consumidor-cidadão perante a qualidade dos serviços públicos e privados no Brasil”, realizado no seminário A Era do Diálogo, foi sustentado pelos participantes.
Provocado por questionamentos de Renato Meirelles, presidente do Instituto Data Popular, e mediador da discussão, o diretor do Instituto Análise e articulador do jornal Valor Econômico, Alberto Almeida, apresentou questões que destacam: o Brasil tem detalhes que só pertencem a ele, ou são compartilhados por algumas minorias.
Nós temos um “jeitinho”, o “jeitinho brasileiro”. Quem vive por aqui, sabe o que significa essa expressão. Quem não vive, descobre em poucos momentos de experiência no país. Almeida ressalta, assim, que “utilizamos uma régua brasileira”, para eleger aquilo que é certo ou errado, bom ou ruim.
Como exemplo, ele cita que, na virada do ano, nós utilizamos roupas brancas, enquanto nos EUA, por exemplo, utilizam-se roupas pretas. O brasileiro é supersticioso o suficiente para crer que, se não usar roupas de cor clara, terá azar ao longo do ano.
Maurício Rands, advogado, professor de direito da UFPE e doutor pela Universidade de Oxford, afirma que características como a adaptabilidade ou a criatividade para sair de situações ruins, muitas vezes exagerada nos brasileiros, pode gerar uma série de problemas.
“Nós, enquanto povo e sociedade, somos lenientes, impontuais e muitas vezes irresponsáveis”, defende. Ele conta que, quando estudou na Inglaterra, ouviu de um professor que os brasileiros falam muito sobre os próprios direitos mais esquecem dos deveres. O brasileiro é otimista, mas o problema disso é o exagero. “Nós precisamos mudar para que a produtividade também mude”, diz. “Os políticos são reflexo das pessoas”.
Luiz Felipe Pondé, filósofo, colunista do jornal Folha de S. Paulo e comentarista do Jornal da Cultura e da TV Bandeirantes, levanta também algumas questões. Ele cita, por exemplo, que o brasileiro tem peculiaridades relacionadas à religião. “Ele é católico, mas quando os problemas apertam, pede ajuda a qualquer um”, justifica.
A questão é que o brasileiro evita brigas. “O cara que briga porque o outro furou a fila é visto como chato”, defende Pondé. A questão da religião, para o brasileiro, é fundamental. “E ninguém poderá fazer qualquer coisa com o Brasil sem levar isso em conta”.
Com base na pesquisa “A percepção do consumidor-cidadão perante a qualidade dos serviços públicos e privados”, realizada pelo Instituto Data Popular, Pondé afirma que o consumidor espera muito do Estado. “Ele acredita que o governo vai protegê-lo das empresas e ajuda mais do que o patrão”, explica. “Na realidade, diante do estado estamos muito mais desprotegidos do que em qualquer relação comercial”.
A sensação do brasileiro é de que o governo representa a força divina que nos cuida, como uma representação de Deus. “A vida deve ter garantia, dada pelo estado”, justifica Pondé. E o brasileiro, contando com o Estado, quer ter segurança e abrir mão dos riscos.?