Para criar uma malha de logística eficiente, a Amazon registrou-se na cidade de Cajamar, interior de São Paulo, com o objetivo de exercer atividade econômica para instalar um centro de distribuição, segundo a Reuters. Recentemente, a agência também noticiou que a companhia estaria fechando uma parceria com a Azul Cargo Express para fazer entrega de produtos eletrônicos no Brasil. O braço de entregas da Azul alcança mais da metade dos municípios do Brasil, 3 mil dos cerca de 5,5 mil. Seria a solução para a Amazon driblar o problema de deslocamento de produtos. Cajamar fica a menos de uma hora do hub da Azul, em Campinas.
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Essa possível parceria faz sentido, uma vez que a logística pode ser o grande calcanhar de Aquiles da Amazon. “No Brasil, a partir do momento em que a empresa vende produtos de terceiros e estes passam a ser responsáveis por ditar o preço do produto e realizar a entrega num País com tantos problemas de logística, fatalmente a qualidade do serviço será afetada”, avalia André Dias, diretor-executivo da Ebit.
Mesmo que a Amazon consiga contornar o problema de logística, ela terá de lidar com um mercado muito fragmentado. Dias afirma que os sellers que a Amazon integrar ao seu marketplace também estarão em vários outros mercados on-line, vendendo o mesmo produto. “Hoje, deve ter entre 15 e 20 grandes marketplaces no Brasil”, explica Dias.
Um dos maiores e mais tradicionais sistemas de vendas on-line do Brasil é o do GPA, que tem reformado sua lista de sellers para ampliar o mix de produtos na internet. Essa iniciativa já trouxe resultados positivos à Via Varejo em 2017, com o GMV do marketplace chegando a 24% do faturamento total da Via Varejo. Hoje, a marca tem 3,1 mil lojistas e 1,5 milhão de itens em seu mercado virtual.
Alimento pela internet: o caminho para a expansão
Para Dias, produtos de consumo rápido precisam ser integrados à venda on-line porque o perfil de consumo na internet ainda é majoritariamente de itens duráveis, que têm giro lento. A média de compras na internet é de cinco por pessoa ao ano, segundo a Ebit. Tirando o Mercado Livre, líder de mercado, as vendas caem para 2,7 por pessoa. “É preciso aumentar a recorrência de produtos que têm saída mais frequente, como pet e alimentos. O problema é que esses produtos precisam de uma logística eficiente”, avalia.
Compras on-line em supermercados representam apenas 2% no Brasil
O drama para incluir alimentos nas vendas on-line não é exclusividade do varejo nacional. A Amazon americana trabalha para alongar a cauda de seu marketplace por meio da entrega de alimentos em um prazo cada vez menor. O Pão de Açúcar tem um programa de entrega que leva os produtos aos consumidores em no máximo 24 horas e está tentando baixar esse prazo para, no máximo, quatro horas por meio de seu novo programa de retirada na loja.
O Carrefour prepara uma operação de pontos de retirada para reduzir as filas dentro das lojas e encurtar a distância entre o consumidor on-line e o produto. Hoje, o serviço de pontos de retirada já funciona em 12 lojas. O desafio tem sido solidificar esse tipo de entrega e expandi-lo para o varejo alimentar.
Carrefour e GPA
Para Paula Cardoso, CEO do Carrefour Soluções Financeiras, a logística e a cultura do brasileiro são os principais desafios para implementação de um serviço amplo de vendas on-line de alimentos. “As pessoas não têm o hábito de comprar alimentos on-line. Mas não sei dizer se falta serviço bom para motivar esse comportamento ou se o consumidor, aprendendo a consumir dessa maneira, incentivaria bons serviços. Mas, uma vez vencida essa barreira, não haverá mais volta”, explica.
Carrefour começa a vender alimentos pelo site
Para vender alimentos no Brasil, a Amazon teria de entender o sucesso peculiar do atacarejo, segundo a executiva do Carrefour, um fenômeno tipicamente brasileiro. Uma pesquisa da Nielsen apontou que 10 milhões de famílias migraram dos super e hipermercados para o atacarejo, atraídos, principalmente, pelo preço.
O Assaí, bandeira de atacarejo do GPA que responde por um faturamento anual de R$ 20,1 bilhões, registrou crescimento de 28% em 2017 e fechou o ano com 128 unidades em 18 Estados, em todas as regiões do Brasil. Um alcance territorial que a Amazon penaria para conseguir. Em tempos nos quais a internet dita uma preferência do consumidor por preço baixo, o atacarejo acaba sendo uma espécie de marketplace do varejo físico, com seus preços que chegam a ser de 15% a 20% mais baixos.
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