Renato Mezan é uma das maiores autoridades em psicanálise do país. Ele diz que o brasileiro tem uma tendência ao pensamento mágico, que acredita na chegada de uma pessoa capaz de resolver os problemas pela sua própria vontade. A realidade dura, que precisa de atitudes firmes no enfrentamento dos fatos pode ser intolerável para a maioria de nossa população.
Fomos em abril ao World Retail Congress em Dubai, um congresso com cerca de 1.300 executivos Top Level das principais redes de varejo do mundo. Estivemos algumas semanas depois no Shoptalk, em Las Vegas, o evento para o varejo da próxima geração, com 3 mil participantes discutindo tendências e aprendendo novas práticas e descobrindo novas ideias e inovações. Em ambos, a presença de brasileiros foi nula, na razão contrária do tamanho e relevo do segmento para nosso mercado. Há quem diga que a crise impeça nossos profissionais de irem buscar conhecimento e referências, mas à jurássica NRF, nossos executivos vão em peso…
O fato é que o momento brasileiro não admite soluções mágicas, e demanda mais que trabalho duro e voluntarismo. Esse é o momento em que o profissionalismo deve prevalecer e a busca pelas melhores práticas mundiais deve ser incessante. A velha máxima de que tais práticas e conceitos “não funcionam no Brasil” é um desses mitos que não encontram respaldo na realidade. Em números claros: a maior parte do nosso varejo perde dinheiro. A maior parte das redes varejistas globais, que hoje adotam uma gestão profissional, ganha muito dinheiro, algumas delas inclusive no Brasil. E quando perdem dinheiro por aqui é porque cederam à tentação de acreditar no pensamento mágico.
O profissionalismo que se exige de empreendimentos de varejo no país normalmente é acomodado pelas “ideias” da legião de palpiteiros e videntes que gravitam em torno do segmento. Explico: nossa autossuficiência “tropical” (alimentada pelos anos recentes de exuberância irracional) conduziu nossos executivos a não acreditarem no poder das melhores práticas, na gestão baseada em KPIs qualificados, na estruturação de processos, no aprendizado humilde com quem faz melhor.
Essa base de conhecimento está disponível com as melhores maisons de inteligência global e algumas poucas nacionais. Infelizmente, a preferência na busca de conhecimento recai sobre uma legião de profissionais de visão limitada, trivial, com trajetória construída sobre o palpite, a amizade, a visão imediata e o conselho convencional. É a famosa tendência ao “puxadinho”, a solução caseira, indolor… Mágica! Razão pela qual nosso varejo inova pouco, tem uma visão de negócios limitada e é simplesmente refém de nossos problemas estruturais graves – e não minimizo o alcance nefasto do Custo Brasil. O fato é que um bom palpite jamais será um insight valioso.
A melhor saída hoje para redes de varejo nacionais que queiram sobreviver à crise e sair dela fortalecidas é utilizar o teorema de Jack Welch, quando assumiu a GE, nos anos 1980: se a sua empresa não puder ser realmente competitiva, “conserte, venda ou feche”. Para qualquer uma dessas decisões, será preciso mais que palpiteiros, videntes e mágicos. Mais do que nunca, o varejo e o varejista brasileiro precisam ouvir opiniões mais consistentes, precisam estar abertos às melhores práticas globais, conversar e aprender com empresas e profissionais acostumados à evolução do varejo global.
A economia brasileira está em frangalhos por conta de pajelanças ideias toscas, contrárias aos princípios racionais e aos fatos científicos. O varejo que hoje consegue resultados está fundamentado em gestão competente, que não cedeu aos truques da farra de crédito e à ilusão da “nova classe média” com renda de R$ 2 mil. Pena que foram poucas.
Chega de tirar coelhos da cartola. Agradeça aos palpiteiros pelos serviços e invista seriamente em quem pode realmente ajudar sua empresa a tomar a melhor decisão. Seja ela construir, vender ou fechar.
*Jacques Meir é Diretor de Conhecimento e Plataformas de Conteúdo do Grupo Padrão.
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