Há mais gêmeos entre nós. Esta é a principal conclusão de um levantamento feito pelo Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de São Paulo (USP), que rastreou os nascimentos registrados na cidade de São Paulo. Em 2003, 10 em cada mil bebês trazidos à luz na capital vinham do mesmo parto. Em 2014, esse índice havia saltado para 13 a cada mil, um aumento de 30%.
O estudo foi baseado em dados fornecidos pelo Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) dos 148 hospitais da rede pública e privada da cidade. O objetivo da pesquisa é coletar informações para geração de conhecimento científico na área de comportamento de gêmeos.
Os dados foram apresentados na semana passada na USP durante o 1º Encontro Nacional dos Gêmeos, evento organizado pela universidade em parceria a entidades que reúnem os irmãos uni e bivitelinos do país.
Mães mais velhas, mais bebês
Uma das hipóteses levantadas pelos pesquisadores para o crescimento na proporção de gêmeos é o fato de as mulheres com maior poder aquisitivo, e preocupadas com sua formação profissional, postergarem a maternidade.
“Quando estão próximas do fim da vida reprodutiva, elas recorrem cada vez mais às técnicas de reproduções assistidas”, disse a coordenadora da pesquisa, a professora Emma Otta.
Isso aparece na diferença entre os dados de hospitais particulares e públicos. No Albert Einstein, por exemplo, hospital de alto padrão da zona sul de São Paulo, houve registro de 17 a 29 gêmeos a cada mil nascimentos, enquanto que nos hospitais públicos a taxa variou entre 7 a 11 por mil nascimentos.
O estudo mostrou também que a idade materna influenciou positivamente nas taxas de nascimento de gêmeos. As mulheres com mais de 35 anos tiveram mais gestações múltiplas dizigóticas – aquela em que há formação do embrião a partir de dois óvulos, e os bebês nascem com características diferentes entre si.
Nesta faixa etária, a cada mil crianças nascidas 35 eram gêmeas não idênticas, proporção significativamente superior ao mesmo número entre as mães da faixa de 24 anos – entre elas, 5 a cada mil bebês vieram de gestações múltiplas.
Neste caso, o número é similar ao de gêmeos idênticos, que também foi de 5 em mil nascimentos entre as mulheres mais jovens.
Capital dos gêmeos
Cândido Godoi, pequena cidade do Rio Grande do Sul, é a cidade com mais gêmeos do país. Lá, a cada dez pessoas, uma tem um irmão gêmeo. A média verificada em São Paulo pela pesquisa da USP, de 13 para cada mil, por sua vez, está dentro da normalidade.
Segundo os pesquisadores, os dados são equivalentes aos do restante do continente americano e de países europeus.
Os que estão fora da curva estatística são países da África e da Ásia. Na Nigéria, por exemplo, são 50 gêmeos a cada mil. Na outra ponta fica o Japão, com apenas 1 a cada mil.