Afirmar que as empresas tradicionais, em segmentos já maduros precisam respirar e assimilar elementos da cultura de empresas que produzem inovação incremental e disruptiva, particularmente startups. Mas a pergunta normalmente ignorada é: como fazer isso sem criar ruídos e sem colocar o próprio negócio em risco.
A imersão da delegação do Consumidor Moderno Experience Summit no google Campus, realizada em parceria com a Berlin School of Creative Leadership proporcionou a construção de um caminho viável para permitir essa colaboração. Uma parte da dinâmica envolveu justamente a apresentação de empresas voltadas para o segmento B2B e também de uma aceleradora que procura fomentar um ecossistema em torno de seu negócio.
A apresentação inicial foi da Sheetgo, startup que oferece uma solução de workflow automático para pessoas sem habilidades tecnológicas. A Sheetgo começou no Brasil, acelerada pela Wow, dedicada a solucionar os dilemas das planilhas. 1 bilhão de pessoas usam planilhas mundialmente. Segundo Yannick Rault, co-fundador, “o velho Excel pode ser o software mais perigoso do mundo”, reafirmando uma provocação da revista Forbes. E levante a mão quem nunca teve problemas com esses softwares. Pois bem, a Sheetgo dedicou-se a tornar as planilhas e seu uso mais eficientes.
A startup atua em mais de 80 países, que permitem uso compartilhado em mais de 80 aplicações distintas, tendo como centro a velha planilha. A Sheetgo já tem clientes como Spotitfy, Uber, Gardner e Fundação Lehman. A premissa do negócio é um dado prosaico. Para cada planilha gerada, há 12 pessoas que a utilizam, o que normalmente causa incorreções na aplicação, atualização e uso dos dados inseridos. Com a Sheetgo, é possível ter governança sobre os dados inseridos. Ele conecta pessoas e profissionais por meio das planilhas. Um workflow que pode funcionar à distância, conectando pessoas sem que os dados sejam corrompidos. Em resumo, a startup fornece pequenas inteligências e automatiza processos por meio das pessoas conectados à uma planilha.
Na sequência, a delegação viu a apresentação da Pulpomatic, uma ferramenta SAS para gerenciar frotas de veículos, que concentra informações burocráticas e funcionais de cada unidade para que relatórios sejam gerados juntamente com alertas de ações. Sua concepção de negócio é global, e têm interesse em mercados nacionais. É um negócio voltado para empresas que tenham frota de veículos como core business ou diferencial competitivo. Por meio da solução Pulpomatic, as empresas podem ter uma única base de dados sobre os veículos, com todas as datas de seguro, revisão, custos diretos, indiretos, manutenção com acesso simplificado e avisos prévios para a tomada de ações.
Ecossistemas proprietários: a experiência da Airbus
A seguir, Soraya Ferathia e Pedro Luzón, responsáveis pela operação do Airbus Bizlab na Europa contaram sobre os motivadores e aprendizados da iniciativa.
Carismática, Soraya Ferathia fez uma apresentação que chamou atenção para o risco que pode tornar empresas obsoletas repentinamente. “Faça a disrupção, antes de ser vítima dela”, afirma a executiva, responsável pelo laboratório de inovação e startups da Airbus.
Segundo Pedro Luzón, o Bizlab da Airbus dá condições para que as startups residentes possam ter acesso a mentores, expertises, algum investimento (por meio da Airbus Ventures) e ferramentas que permitam a elas criar inovações para o ecossistema da indústria. A metodologia compreende identificar grandes questões e problemas e então verificar se as coleções propostas resolvem esses problemas e se são viáveis financeiramente para a posterior implementação.
O Bizlab também dedica-se a recrutar empreendedores para todas as divisões da Airbus, comercial, defesa, automação,segurança. O percentual de sucesso dos projetos do Bizlab supera os 60%. Todos os lucros obtidos pelas iniciativa do Bizlab são revestidos nas provas de conceitos de cada novo projeto.
Soraya afirma que há um ecossistema forte de startups na América Latina, mas que o risco de se conectar com elas é alto. Por isso, o Bizlab em Madri funciona como um hub atrativo para os negócios nascentes da região, fornecendo um ambiente capaz de desenvolver essas capacidades. Esse posicionamento causa estranheza, pois representa um exemplo contrário à uma cultura mais aberta e de fomento à inovação. A expectativa era justamente vez a iniciativa Bizlab ultrapassar as dificuldades eventuais do mercado latino-americano por meio da própria cultura de inovação, atuando diretamente na região para desenvolver um ecossistema local com alcance global.
De todo modo, a experiencia da Airbus já tem similares no Brasil, com diversas empresas criando ambientes de inovação para gerar empresas de alto impacto. Buscar metodologias, ágeis, sprints, hackatons, coworkings, deslocamento de pessoal de inovação para ambientes criativos, interagir com startups, aplicar design thinking, todas são acoes válidas. Mas seus efeitos só serão sentidos de fato, se as empresas estiverem genuinamente imbuídas de sacrificar uma parte de sua cultura pregressa para construir e destilar uma nova mentalidade.