O ano de 2014 pode ser visto por óticas bastante diferentes no setor de supermercados. As empresas líderes do setor encontraram no atacarejo e nas lojas de vizinhança os principais vetores de crescimento, enquanto os hipermercados continuaram a apresentar números ruins como resultado das mudanças de comportamento dos consumidores.
Números divulgados recentemente pela Nielsen mostram que, em valores deflacionados, em 2014 as vendas no formato cash & carry (atacarejo) cresceram 9,7%, contra 6,5% dos supermercados e 6,2% dos minimercados. Os hipermercados, por sua vez, tiveram queda de 0,7% nas vendas. Segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), as vendas do setor cresceram apenas 1,8% em termos reais em 2014, para R$ 294,9 bilhões.
O GPA talvez seja a empresa que mais sentiu essa transformação do mercado. A empresa fechou o ano com um faturamento de R$ 34,7 bilhões em sua divisão alimentar (que exclui a Via Varejo, operação de eletroeletrônicos, e o e-commerce CNova), um crescimento de 9,2% em relação ao ano anterior. O número ficou ligeiramente acima da expansão média do setor de super e hipermercados, de 8,4%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Basta quebrar os números do GPA, porém, e realidades bastante distintas aparecem. De um lado, a divisão de atacarejo Assaí apresentou um crescimento de 32,7% em suas vendas em 2014, para R$ 8,3 bilhões. Por outro, a divisão Multivarejo (supermercados, hipermercados e lojas de vizinhança) teve alta de apenas 3,4% no faturamento, para R$ 26,4 bilhões. O destaque negativo ficou para os hipermercados Extra, que tiveram queda de 0,1% nas vendas em mesmas lojas. Não à toa, a empresa tem investido em ações multicanal (como o projeto ?click & collect?, disponível em 100 lojas), para atrair mais clientes às lojas.
Em um ano de investimento recorde de R$ 1,9 bilhão, o grupo abriu 212 lojas, sendo 124 no segmento Alimentar, das quais 57 somente no quarto trimestre (31 Minimercados Extra e 11 Minuto Pão de Açúcar, refletindo o foco estratégico da empresa nas lojas de vizinhança).
No Carrefour, o formato Express teve suas primeiras lojas abertas em meados do ano passado, acompanhando um movimento global da rede em direção a lojas de vizinhança: somente no quarto trimestre, a empresa abriu 354 lojas, sendo 230 de conveniência, em todo o mundo. No Brasil, depois de quatro anos sem investir em novos pontos de venda, a empresa lançou as bandeiras Carrefour Express (lojas de vizinhança) e Supeco (atacado), procurando diminuir sua dependência do Atacadão, o formato de atacarejo que veio sustentando o crescimento da rede no País nos últimos anos.
O resultado foi um crescimento de 11,5% nas vendas, considerando câmbio constante. Já em mesmas lojas, a alta foi de 8%. Globalmente, a rede teve crescimento de apenas 3,9% nas receitas. Em seu relatório de investimentos, a varejista ressaltou o crescimento de 9,4% nas vendas na América Latina (excluindo variações cambiais), desempenho que ficou atrás apenas da Europa (excluindo França), com 9,6%.
No Walmart, maior varejista global, as vendas cresceram 3,1% no Brasil no quarto trimestre, o melhor desempenho entre os países nos quais a rede está presente, revertendo uma queda de 0,7% ocorrida no trimestre anterior. O desempenho decorreu de um aumento de 5,2% no tíquete médio de vendas, que compensou a queda de 2,1% no fluxo de clientes. No País, a empresa conta com 76 operações de atacado (clubes de compra Sam?s Club e atacarejo Maxxi) e 468 lojas na divisão varejo (hipermercados Bompreço, BIG e Walmart, supermercados Bompreço, Mercadorama e Nacional, e lojas de vizinhança Todo Dia). A empresa tem como foco para este ano ganhar eficiência com a integração de suas operações no Sudeste e Nordeste, uma vez que, nas últimas duas décadas, a varejista operou, na prática, como empresas separadas por região.
Na Cencosud, a variedade de formatos de loja e de bandeiras, todas operando como empresas independentes, tem prejudicado o desenvolvimento da rede no Brasil. A quarta supermercadista do ranking nacional viveu um ano de 2014 conturbado e somente no quarto trimestre conseguiu apresentar crescimento nas vendas (0.9% em mesmas lojas e 5,4% no total). O lucro da empresa no País, porém, recuou 97% em 2014 na comparação anual, com um declínio de 0,6% nas vendas em mesmas lojas.
A análise do desempenho dos principais supermercadistas brasileiros mostra oportunidades em formatos menores e no atacarejo, mas também realça o processo de reposicionamento estratégico dos players do setor. Em 2015, com a economia em retração, ter foco na eficiência dos processos e na economia de escala trará resultados, mas exigirá disciplina constante das empresas do setor.
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