Eleito no final dos anos 80 presidente dos Estados Unidos, o republicano George H. W. Bush prometera em sua campanha que não haveria aumento de impostos. Não conseguiu barrar a elevação de tributos aventada pelos democratas, o que se somou à recessão econômica e à perda de apoio entre republicanos, solapando suas chances de reeleição em 1992. Promessas não realizadas, recessão, elevação tributária, perda de apoio político – feitas as devidas ressalvas, inclusive de contexto histórico, lembramos da trajetória brasileira desde 2014.
Dilma Rousseff vendeu um Brasil que não existia em sua campanha de reeleição, em 2015 tentou adotar medidas austeras vendidas pela oposição para reverter a trajetória de deterioração iniciada três anos antes, afundou o País em grave crise econômica após anos de desprezo pelas boas práticas econômicas, que se somou a um calvário político arrastado por mais de um ano, culminando com a abertura do processo de impeachment pelo Senado brasileiro em maio de 2016. E agora: Como ficará o varejo pós-impeachment?
Michel Temer assumiu interinamente a presidência da República acenando para a gravidade da crise e para a urgência de se adotarem medidas de saneamento das contas públicas. Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, não descarta o aumento de impostos para geração de receita, pretende cortar a famigerada “bolsa empresário” (desonerações concedidas pelo governo federal a empresas) mas, antes de recorrer a tais medidas, analisará minuciosamente os gastos de modo a conter as despesas públicas e, assim, o endividamento.
A Previdência e a legislação trabalhista também estão na mira do novo ministro, cujas reformas exigem, acima de tudo, “vontade política”, visto que não são nada populares.
Medidas duras, porém necessárias. O desemprego ganhará dimensões ainda maiores, e os juros não cairão a níveis decentes tão cedo enquanto a inflação não convergir à meta. Entretanto, o Brasil precisa desta injeção de confiança, afinal a nau estava à deriva. É natural que o governo interino enfrente forte oposição, visto que o desemprego crescerá às custas do ajuste proposto. E quem sofrerá ainda mais junto a milhões de brasileiros será o varejo.
Quanto mais pessoas perderem os empregos, mais se elevará a inadimplência e o consumo retrairá. A retirada de subsídios elevará ainda mais os custos de produção, impactando a inflação e não abrindo espaço imediato para o tão necessário corte nas taxas de juros, o que seguirá asfixiando os varejistas que, hoje, estão endividados e lutando para aumentar sua margem e reverter prejuízos amargos do ano passado e do primeiro trimestre deste ano. Como ficará o varejo pós-impeachment?
Muito se fala dos tão necessários investimentos em tecnologias benéficas ao varejo, mas estes terão de aguardar até que o mercado de crédito apresente melhores condições para tomada de recursos e que as empresas estejam com seu caixa, receitas e despesas saneadas. O momento é de austeridade para o varejo.
É tentador abrir lojas conceito e assinar coleções exclusivas com estilistas famosos, mas a estratégia primeira é não sacrificar a margem de lucro, fundamental para a ampliação de receitas. Ao mesmo tempo, manter olhar atento no futuro: enquanto o financeiro das empresas é reajustado à realidade, planos estratégicos devem ser traçados para os próximos anos, quando o crescimento for retomado, de modo que as empresas não peguem a onda da bonança novamente às cegas apenas porque há dinheiro fácil no mercado. Esta é a oportunidade do varejo pós-impeachment: arrumar o chão da loja, construir fundamentos mais sólidos e preparar-se para a retomada do crescimento e dos investimentos. É hora de olhar para o longo prazo.
A boa notícia: Temer tem pouco tempo para mostrar a que veio, e os ajustes precisam ser postos em prática logo para resgatar a confiança dos investidores do varejo pós-impeachment. Poucos compreendem, mas expectativas são fundamentais à economia. Se as medidas sinalizarem concretamente o compromisso do governo interino com a recuperação econômica, investidores retornarão ao mercado brasileiro, prontos para aportar recursos onde houver oportunidades e segurança de ganho.
Em 2015, ano de crise, o consumo das famílias respondeu por 65% do PIB. Este é o potencial do varejo. Enquanto reajustam receitas e despesas, varejistas precisam olhar para futuro, para novas formas de captar recursos e para resistir a novas turbulências. As empresas se beneficiarão da retomada econômica se estiverem preparadas e estruturadas para atender um mercado ávido para consumir e prontas para receberem dinheiro de quem o tem disponível.
*Eduardo Bueno, economista do CIP – Centro de Inteligência Padrão