Dubai (Emirados Árabes) – Queda do preço do petróleo, incertezas econômicas, economia claudicante na Europa. A indústria de energia perde dinheiro e pode gerar volatilidade nos mercados. Esse é o contexto apontado por Ira Kalish, economista-chefe global da Deloitte em uma palestra que imediatamente ganhou repercussão no World Retail Congress. As transformações sociais e de valores em diversos mercados afetam e influenciam o comportamento e a qualidade dos negócios do varejo mundo afora.
“Nos EUA, a queda brutal dos preços da energia, petróleo à frente são um elemento de preocupação. A indústria de petróleo normalmente anda junta com o segmento financeiro. E é possível que isso influencie a economia do país. Mas por outro lado, o consumo caminha muito bem”. Kalish destacou que o sentimento de descrença com a política nos EUA (e em diversos países) permitiu a ascensão de (Donald) Trump e (Bernie) Sanders como candidatos a presidente ao catalisaram esse sentimento. Eventualmente, ambos são elementos desestabilizadores do ambiente econômico, principalmente Trump. “São candidatos que não têm ou parecem não ter consciência das mudanças estruturais que acontecem no mundo”.
O economista ainda destacou uma mudança de valores dos millennials que também afeta estrategicamente o varejo americano. “A ascensão dos millennials e seu apego a busca por experiências e novas formas de consumo e conveniência também é um fato de mudança e insegurança, desestabilizando negócios e formatos tradicionais de varejo”.
Kalish mostrou a lenta e abatida retomada do crescimento europeu. Ainda assim, há mercados em expansão por lá, como a Polônia.
Falando de mercados emergentes, as preocupações se avolumam. A mudança na China, que está em transição de uma economia industrial para uma de serviços já mostra um enorme desbalanceamento entre investimentos malfeitos e o crescimento das dívidas das empresas. O investimento espantoso em infraestrutura valorizou espetacularmente o preço das propriedades e, por consequência, as dívidas das empresas. A desaceleração da China, se acompanhada de desemprego, pode gerar pressões sociais.
E o Brasil?
Ira não poupou o Brasil. Diz que estamos em dominância fiscal, com um inaceitável desajuste fiscal, capacidade de consumo das pessoas em falência e, para piorar, o país dificilmente fará as reformas necessárias, ainda mais com instabilidade política.
E é importante entender o que significa exatamente a ascensão da Índia e China no mercado mundial de varejo. Juntas, as economias indiana e chinesa respondem por 40% da nova classe média mundial. Os EUA e sua sociedade consumista, representam apenas 7% – sempre considerando volume de pessoas com renda mínima para o consumo.
Ira terminou sua apresentação cruzando os dados macroeconômicos com as mudanças no estilo de vida – mudanças que impactam profundamente os mercados de diversos países. Mesmo com a economia crescendo nos EUA, por exemplo, o número de pessoas dirigindo, bem como o número de milhas percorridas usando carro são reveladores: as pessoas estão dirigindo menos. As pessoas trabalham em casa, compram em casa, vivem em áreas urbanas, andam mais, caminham, usam bicicletas e não querem andar de carro. Isso também reduz a demanda por combustíveis fósseis. Em algumas cidades americanas já é visível a redução do tráfego e a queda nos preços dos aluguéis. Kalish finaliza a apresentação com uma provocação: “Para que manter lojas para consumidores que preferem comprar on-line?”
Vale lembrar que apesar da crise e do nosso delay em relação à evolução dos Millennials norte-americanos, o estilo de vida de nossos consumidores vai seguir essa tendência. Acreditar que esse choque entre valores, novos estilos de vida e influências econômicas não acontecerá no Brasil é simplesmente uma torcida.
*Jacques Meir é Diretor de Conhecimento e Plataformas de Conteúdo do Grupo Padrão.
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