A indústria do turismo foi a mais afetada pela pandemia de Covid-19 em 2020. Ainda no meio do ano, no ápice da crise, a Organização Mundial de Turismo (OMT), órgão das Nações Unidas, estimou perdas superiores a R$ 1,6 trilhão para o setor. O turismo no Brasil não ficou para trás e foi impactado violentamente.
Segundo dados divulgados em novembro pela Federação do Comércio de Bens e Serviço e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), o setor perdeu quase R$ 42 bilhões em faturamento em 2020, uma queda de 44% em relação ao ano anterior.
O turismo é um segmento dos mais complexos, pois reúne em sua cadeia de distribuição um grande número de empresas de atuações variadas. Das grandes companhias aéreas até a camareira que arruma os quartos de um hotel, passando por indústrias de alimentos e comunidades que vivem da chegada de visitantes, o golpe foi pesado e acabou com muitos negócios no mundo todo.
Mas, o afrouxamento das restrições de mobilidade perto do fim do ano em muitos lugares do país fez muita gente voltar a viajar, mesmo que optando por distâncias curtas. Foi o suficiente para reacender as esperanças das empresas do setor e de turistas ansiosos para – literalmente – alçar grandes voos.
Dois cenários para o turismo no Brasil
Mas o que é possível prever sobre o futuro do turismo no Brasil para os próximos meses? É preciso considerar alguns fatores importantes para tentar responder essa pergunta.
Uma segunda onda da Covid-19 voltou a provocar o fechamento de negócios e a restrição de viagens em vários países da Europa, ao mesmo tempo em que, nos Estados Unidos, os casos da doença começaram a aumentar. São Paulo, inclusive, já impôs novas restrições a bares e restaurantes.
Se esse movimento se repetir no Brasil é difícil prever o que pode acontecer com o setor que já vai ser impactado pelo adiamento dos festejos de Carnaval em muitas cidades cuja festa representa grande fonte de renda para o comércio e a rede hoteleira. Por outro lado, a possível chegada de uma vacina contra a Covid-19 pode mudar totalmente a situação, liberando a população imunizada para viajar.
Qualquer que seja o cenário, algumas coisas devem mudar após o fim a pandemia. O World Travel & Tourism Council (WTTC), Conselho Mundial de Viagens e Turismo, produziu um relatório no qual aponta quatro grandes tendências para o setor. Confira.
1. Evolução da demanda: uma nova forma de viajar
A pandemia deve deixar marcas em todos os turistas afetando o seu comportamento e a maneira como pensam o ato de viajar. O resultado é um viajante mais exigente e atento, que planeja melhor como vão ser as coisas.
A tendência é que os destinos escolhidos sejam mais próximos da sua cidade ou região, locais menos ousados e mais confiáveis. A viagem em família estará em alta, assim como as opções mais calmas e próximos à natureza (fazenda, montanha, praia), pelo menos no curto prazo.
As viagens de negócios também devem ser retomadas de forma gradual, a partir dos destinos mais curtos. Primeiro as viagens domésticas, depois aquelas para destinos mais longos.
2. Maior preocupação com a saúde e a higiene
O sucesso do turismo depois da crise gerada pelo coronavírus passa sem dúvida alguma pela adoção de novos protocolos de biossegurança por todos os envolvidos com o setor.
A relação de cuidado do turista com a própria saúde mudou. O seguro protocolar adquirido nas viagens internacionais, por exemplo, não deve ser mais o suficiente para garantir a tranquilidade de quem viaja. O medo de ficar doente longe de casa ou da sua cultura pode atrapalhar viagens para destinos exóticos e remotos.
O viajante no pós-pandemia estará preocupado com a higiene dos aeroportos, meios de transporte, pontos turísticos, restaurantes e locais de hospedagem e isso demandará uma melhora geral de infraestrutura e a mudança de hábitos de quem trabalha no setor.
Os pequenos negócios e os autônomos que atuam em destinos turísticos devem ficar atentos. O turista vai querer se sentir seguro o tempo todo e apenas usar máscara e limpar as mãos com álcool gel pode não ser suficiente para garantir a tranquilidade de quem está viajando.
3. Inovação e digitalização serão exigidas
Os meses de pandemia serviram para colocar a grande maioria das pessoas em contato com o digital e a perspectiva delas sobre tecnologia mudou. O acesso à internet segura e de qualidade, por exemplo, será tão imprescindível quanto água e energia elétrica para quem viaja, mesmo para os destinos mais remotos.
O turista também deve exigir inovações em todos os locais, como tecnologias contactless (por aproximação) que não necessitam toque e o máximo de operações e processos que possam ser feitos de maneira remota por aplicativos ou sites.
O relatório do WTTC também aponta um crescimento do turismo virtual em todo mundo como forma de manter o interesse do consumidor enquanto ele ainda não se arrisca a fazer uma viagem maior ou mais ousada.
Assim, a criação de tours virtuais pode ser uma boa estratégia de agências e pontos turísticos para preparar o cliente para uma viagem futura. Vários museus têm usado essa estratégia com maestria e devem ser copiados.
4. Causas sociais e sustentabilidade farão a diferença
A preocupação com o meio ambiente crescente nas últimas décadas e a conscientização sobre causas sociais devem fazer parte da visão de quem viajar no mundo pós-pandemia.
O eco turismo estará em alta, mas o turista – mais consciente – deve se preocupar mais em não causar danos ao ambiente com a sua presença e deve buscar por hotéis/pousadas que explorem energia limpa e não impactem o bioma em que se encontram.
O turista está prestando atenção em como as empresas estão se comportando durante a pandemia e como se posicionam em relação às causas sociais e ambientais e isso pode pesar na hora de decidirem de quem eles serão clientes no futuro próximo.
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