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O que os mercados emergentes podem ensinar aos EUA?

O que os mercados emergentes podem ensinar aos EUA?

Nem tudo é perfeito no país do Tio Sam. Money 20/20 mostrou que, em serviços financeiros, ele tem muito o que aprender com países em desenvolvimento

Las Vegas (EUA) – O que países como Brasil e Índia têm a ensinar aos Estados Unidos? Parece piada, mas no país do Tio Sam nem tudo é perfeito. O Money 20/20, maior evento de tecnologia e inovação de meios de pagamento e sistema financeiro do mundo, que acontece nesta semana em Las Vegas (EUA), mostrou que em serviços financeiros, os Estados Unidos tem muito o que aprender. Primeiro porque o país tem uma complexa rede de agentes no sistema – são empresas e agências reguladoras que tornam esse mercado tão complexo quanto no Brasil. Segundo que, ao contrário do que parece, os Estados Unidos é um dos países cujo acesso ao crédito é dos mais difíceis e não é, definitivamente, para a maioria.

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No país norte-americano também se debate exclusão financeira. E este desafio vai além do acesso a uma conta bancária. “É um tema problemático quando a gente pensa quem precisa de serviços financeiros e sobre o mercado que se cria quando essas pessoas passam a criar práticas ilegais para ter acesso a crédito”, explicou Lisa Servon, professora da International Affairs, estudiosa deste mercado. Segundo ela, 8% dos americanos não têm conta bancária, mas o número mais importante e assustador é outro: 20% deles têm, mas ainda assim buscam alternativas de ter crédito e poupar dinheiro. “Eles não estão felizes com os custos”, disse. “Quem não tem crédito fica invisível, e este é o caso de imigrantes, estudantes. Esses dados precisam ficar visíveis”, afirmou Michael Schlein, CEO da Accion, organização que tem o objetivo de construir um mundo em que as pessoas são financeiramente incluídas.

Nestes pontos, qualquer semelhança entre o mercado norte-americano e países emergentes não é mera coincidência.

Os emergentes também passam pelos mesmos problemas, mas encaram esses desafios de outro jeito. “Vemos vários experimentos rodando, como na Índia, onde o governo criou um sistema que conecta seus serviços às pessoas”, exemplificou Arjuna Costa, sócio da Omidyar Network, empresa de investimentos para mercados emergentes.

Mercado potencial
Lidar com um mercado de pessoas ainda excluídas do sistema financeiro – seja porque não têm acesso aos serviços seja porque, por algum motivo, o subutilizam – não é uma questão de bom-mocismo. Este mercado é de bilhões e tem potencial para atrair novos e inovadores players. “É uma parte massiva da economia, que traz oportunidades para novos negócios”, disse Daniel Monehim, presidente da divisão África Sub Saariana da Mastercard. “O modelo precisa mudar”, afirmou.

“Existem 20 milhões de pessoas nos Estados Unidos que podem ter acesso a um microcrédito, por exemplo. É um potencial imenso”, afirmou Lisa.

“E o que os bancos estão fazendo com isso?”, questionou com acidez o moderador do debate, David Birch, diretor de inovação da Consult Hyperion.

“É uma ótima pergunta”, replicou Lisa. “É uma mudança de mindset que precisa ser feita: o que o banco quer? Uma pessoa com S$ 1 milhão ou 20 milhões de pessoas com S$ 1?”, analisou. “Sinceramente: eu não acho que os bancos estão interessados em servir este mercado de verdade”, disse.

Para Jed McCaleb, fundador e CTO da Stellar, uma rede sobre finanças que tem a função de melhorar a participação econômica das pessoas na sociedade, os bancos têm papel fundamental na inclusão dos consumidores no sistema financeiro. “Ainda existe muita coisa para ser feita. Uma delas é diminuir a fricção. Existem muitas barreiras para muita coisa: pagar contas, guardar dinheiro. Dá para melhorar isso de maneira que seja algo fácil e menos custoso para os consumidores”, afirmou.

Tecnologia
“O nosso modelo é bem centrado, mas mesmo as pessoas mais excluídas têm um smartphone nos Estados Unidos. Estamos em uma nova era, com outras e novas tecnologias. Como elas podem ajudar”, questiona Birch. Aqui, mais uma vez, os emergentes têm o que ensinar. Em muitos deles, como é o caso do Brasil, existem players que permitem abrir uma conta sem a necessidade de ir até uma agência – é o caso do Brasil, com o Banco Original. Aqui, mesmo grandes e consolidados bancos incentivam a “digitalização” do seu público.

“Temos smart tv, smartphone…por que não usamos esses devices e eliminamos os intermediários? Acredito que avançamos muito em tecnologia, mas não acompanhamos esse avanço”, afirmou Monehin.

Para os especialistas e empreendedores, o que precisa mudar nos Estados Unidos é o mindset. “É preciso entender além de ter ou não uma conta bancária. É entregar o maior valor possível, com a menor taxa possível. É entender que a vida financeira do consumidor é complexa”, afirmou Costa. “Nosso ambiente de trabalho tem o mindset dos reguladores. Ao contrário dos países emergentes, não há nenhuma política que se pretenda incluir os excluídos. É preciso criar modelos e métodos diferentes”, disse Monehin.

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Comportamento
Há outro ponto negligenciado: o comportamento e conhecimento dos próprios consumidores. “Não conheço um americano que conheça a diferença entre a ferramenta Mastercard e o débito, a conta que ele tem de pagar. São coisas diferentes e quando começarmos a tratar de forma diferente, resolveremos boa parte do problema”, analisou Monehin. “Os governos e bancos até fazem alguma coisa, mas as pessoas ainda vivem no mundo do dinheiro de papel”, avaliou Schlein.

É que não importa quanta tecnologia exista, e o tamanho das boas intenções. Para inserir pessoas em um mercado é preciso ir além das ferramentas. “Não importa o que se faça, as pessoas precisam acreditar em você. Elas querem saber que nome está por trás daquilo. Uma das razões é a confiança”, afirmou Lisa.

“As pessoas têm vidas complexas. Elas não pensam em ter ou não um banco, mas em como e quando pagar suas contas, como fazer uma transação de forma rápida e segura. É preciso entrar na vida das pessoas”, finalizou Costa.

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